Instinto assassino é um termo muito comum entre os jogadores de futebol americano, mas que se encaixa como em nenhum outro no linebacker Ray Lewis, que se despede neste Super Bowl, após 17 anos de carreira.
Para muitos torcedores, principalmente os do Baltimore Ravens, Lewis é como um deus. E ele tenta ao máximo chegar ao Criador, convertendo-se como um discípulo da fé nos seus últimos passos dentro das 100 jardas.
Considerado um dos maiores defensores da História, Lewis levou o Ravens à disputa de seu segundo Super Bowl com apelos bíblicos, difusão de salmos e citações frequentes a Deus.
Uma conversão que ficou marcada após a acusação de duplo assassinato há exatos 13 anos e que manchou a carreira vitoriosa do jogador.
Numa festa numa boate em Atlanta, em meio às festividades do Super Bowl entre Saint Louis Rams e Tennessee Titans, Lewis e dois amigos foram acusados pela morte de duas pessoas, esfaqueadas após uma briga.
Lewis fez um acordo com a Justiça para não ser processado, num caso que poderia levar à prisão perpétua. Ele colaborou nas investigações e pegou 12 meses de condicional, além de uma multa de cerca de R$ 500 mil da NFL.
Na semana do Super Bowl, Lewis evitou falar do caso. Em 2010, a um jornal de Baltimore, ele declarou o seguinte:
- Todos os dias, eu peço a Deus para aliviar a dor das pessoas que foram afetadas naquele dia.
Desta vez, ele preferiu mostrar seu instinto assassino numa gravação especial que foi mostrada pela ESPN, inclusive no Brasil. No programa, Lewis se define como um destruidor, um jogador que vive para demolir adversários, custe o que custar.
- Se a bola cair na mão de um treinador na lateral do campo, eu vou pegá-lo. É para isso que eu estou em campo - dizia um feroz Lewis no programa.
Até hoje, os culpados pelos assassinatos nunca foram encontrados. Os dois amigos foram inocentados. Como também não foi achado o terno branco que Lewis usava e, segundo a polícia, estaria todo manchado de sangue.
O legado que Lewis deixa hoje é de um jogador realmente temido em campo, 13 vezes selecionado para o Pro-Bowl, duas vezes o melhor defensor da Liga e primeiro linebacker a ser MVP do Super Bowl. E que sua vida seja julgada no futuro pelas mãos de Deus.
FERA TERIA USADO SPRAY DE CHIFRE DE VEADO
Além da suspeita de assassinato, Ray Lewis também conviveu em sua carreira com insinuações de doping. A última partiu de um blog americano, que revelou o uso de uma nova substância: um spray de chifre de veado.
Lewis e outros atletas teriam admitido o uso do produto, importado da Nova Zelândia ao custo de cerca de R$ 130 o pote.
De acordo com o blogueiro, o chifre do animal teria também efeitos afrodisíacos e fama milenar na China. O detalhe é que apenas exames de sangue podem detectar essa substância, mas a NFL só faz testes de urina.
A revelação aconteceu em meio a uma cruzada contra o doping nos EUA, iniciada com o ciclista Lance Armstrong, que confessou uso de substâncias proibidas durante toda sua carreira.
Na semana passada, a imprensa americana ainda publicou denúncia de um esquema de doping que envolveria vários ídolos do beisebol, esporte que, como o futebol americano, sempre colocou restrições a um controle de doping mais rigoroso.
PRIMEIRO SACK CONTRA O TÉCNICO DO 49ERS
A história de Ray Lewis se confunde com a do Baltimore Ravens. Ele foi selecionado para formar o primeiro time da franquia, criada em 1996 num grande escândalo, quando o dono do Cleveland Browns levou o time para Baltimore.
E, por coincidência, o primeiro sack na carreira de Lewis aconteceu contra aquele que hoje é o técnico do San Francisco 49ers, Jim Harbaugh. Na época, Jim era quarterback do Indianapolis Colts. Dois anos depois, os dois atuaram juntos em Baltimore, onde o agora treinador encerrou sua carreira como jogador.
Lewis é o último remanescente do primeiro time da história do Baltimore. Ídolo na cidade, ele participou de séries e programas de TV e criou uma fundação para atender crianças carentes.