Enquanto na Copa do Mundo masculina de futebol é regra todos os gramados serem naturais, o Mundial feminino não ganha tal atenção por parte da Fifa. Sob protesto de jogadoras, a grama artifical dos estádios canadenses foi aprovada pela entidade suíça. Lá se foi a primeira fase do torneio, e as críticas por parte das atletas não diminuíram.
Mais resistente do que a grama natural, a sintética não sofre tanto com danos causados pelas travas das chuteiras e sua manutenção é mais barata do que um campo normal. Por outro lado, altera os movimentos da bola (seja rolando, seja quicando). Feita com uma espécie de plástico, pode atinge média de 50ºC num dia em que a temperatura ambiente esteja na casa dos 25ºC. Também é mais áspera do que a natural. Assim, atletas tendem a se machucar mais.
– A única coisa que talvez não esteja deixando a Copa ser um espetáculo como um todo acredito que seja a grama sintética. Isso atrapalha bastante – declarou a atacante brasileira Cristiane, no início da semana.
As jogadoras do Brasil, que estiveram ao longo de todo o primeiro semestre treinando juntas como Seleção Permanente, não haviam treinado em campos sintéticos. Quando chegaram ao Canadá, as jogadoras sentiram a diferença, falando que a sensação era de "entrar em campo calçando um salto alto".
No começo do ano, mais de 80 jogadoras de 13 países fizeram um abaixo-assinado exigindo gramado natural na Copa do Mundo. A Fifa ameaçou punir seleções cujas atletas estivessem envolvidas na petição, e o protesto foi abandonado.
Em 2013, atletas de diversas nacionalidades estiveram envolvidas numa espécie de teste de gramados artificiais. O resultado pode ser visto nas fotos abaixo. A norte-americana Sydney Leroux e a australiana Samantha Kerr publicaram fotos de arranhões e queimaduras causados pela grama artificial.
Sam Kerr: 'Acho que aconteceu algo com minhas meias durante o jogo' (Foto: Reprodução/Twitter)
Sydney Leroux: 'É por isso que digo que futebol tem de ser jogado em grama' (Foto: Reprodução/Twitter)
Não bastasse o risco maior de se machucar, o gramado artificial também prejudica a qualidade do futebol. A bola corre mais rápido e quica mais alto do que a natural.
– Perdi chances que, se fosse na grama, faria os gols. Tenho certeza que os Estados Unidos teriam mais gols na Copa se estivéssemos na grama – disse a norte-americana Abby Wambach, ao “USA Today”.
'É COMO COMPARAR ROBÔ COM SER HUMANO'*
Comparar gramado sintético com o natural é como comparar robô com ser humano. O sintético avançou muito nos últimos anos, os testes que são feitos de rolar a bola, de maciez, de compactação... Hoje tem sintético, após estudos, ficando mais próximos do natural. Porém, um robô nunca chegará ao nível do ser humano, por mais evoluído que seja. Esquenta muito mais do que o natural, é um pouco mais duro... A gente ouve falar que dá mais problemas de lesão, de articulação. Mas acho que, caso seja um gramado sintético bom, de última linha, já não existe mais tanto risco de cortes, queimaduras, etc.
* Por: Fabio Camara, engenheiro agrônomo da World Sports.