Reposição hormonal, desempenho esportivo e doping

Médico alerta sobre busca pelo uso indiscriminado e equivocado dos implantes hormonais

(Foto: Divulgação)
Fabiano Nascimento é membro titular da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) (Foto: Divulgação)

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Queda no rendimento esportivo, alteração de humor, aumento de peso, baixa na lIbido e dificuldade no ganho muscular. Esses são apenas alguns exemplos dos diferentes impactos causados pela desregulação hormonal na qualidade de vida do indivíduo, que tem levado homens e mulheres aos consultórios em busca da melhor solução.

Para alguns médicos, sobretudo os que trabalham com atenção voltada à saúde no esporte, os implantes hormonais podem ser uma excelente alternativa para repor hormônios que deixaram de ser naturalmente produzidos pelo organismo. Atualmente, no Brasil, seis tipos de implantes estão disponíveis no mercado: as progesteronas (gestrinona, nestorone e/ ou elcometrina, nomegestrol e levonorgestrel), além dos bioidênticos estradiol e testosterona.

Embora seja um dos adeptos da reposição, o médico urologista Fabiano Nascimento, membro titular da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), faz um alerta sobre a busca pelo uso indiscriminado, e por vezes, equivocado dos implantes.

“Não é porque estou com baixo desempenho esportivo ou quero turbinar meus resultados no treino que vou suplementar hormônios. Reposição é coisa séria e deve ser muito bem avaliado até ser indicado”, destaca.

De acordo com o especialista, devido a queda hormonal, é muito comum homens a partir dos 40 anos apresentarem queixas como queda no rendimento esportivo e sexual, falta de concentração, alteração do sono e ganho de peso. Já as mulheres, mesmo jovens e apresentando boa saúde, devido aos muitos escapes menstruais e cólicas intensas, chegam a ficar até 1/3 do mês sem conseguir realizar treinos e praticar esportes.

“Dentro desse cenário, quando bem indicada, a reposição hormonal em homens e mulheres pode e deve ser realizada, desde que seja apresentada como a forma mais segura e funcional. No caso das mulheres, que não terão o ônus da menstruação como cólica, enxaqueca, desânimo, o implante vai promover um ganho no desempenho das atividades físicas. Sem falar na comodidade, já que pode ser feito somente a cada seis meses. O que também vale para os homens, que não precisam de injeções semanais e /ou passar gel todos os dias”, esclarece o médico.

Ainda de acordo com o urologista, as mulheres representam 30% das consultas urológicas. As queixas variam entre alterações como infecção urinária de repetição, disfunção sexual, dores na relação, incontinência urinária, baixa na libido, ressecamento vaginal e dificuldade na perda de peso.

“As mulheres podem ter esses sintomas mais cedo já no climatério, período que antecede a menopausa por vezes aos 30/ 35 anos. Isso acontece devido a queda no nível de estradiol, muitas vezes associado também a queda no nível de testosterona que leva a todos esses e outros sintomas até a menopausa, quando a mulher tem os famosos fogachos, calores”, complementa Fabiano Nascimento.

Reposição hormonal não é estética

Outro alerta do médico, que também é membro das sociedades Americana e Europeia de Urologia e atua na área da urologia reconstrutora, modulação hormonal e disfunção sexual, no Rio de Janeiro, é sobre os chamados “Chips da beleza”. De acordo com Fabiano, a procura pelos implantes por parte das mulheres vem aumentando justamente pelos seus “efeitos” indiretos, a exemplo da perda de gordura, aumento da massa magra, redução da celulite, e melhora na disposição. Porém, a estética não pode ser a razão da reposição, pois todo hormônio apresenta efeito colateral.

“É bom destacar que não estamos falando de beleza. Estamos falando de mulheres que têm dificuldades de controlar seus ciclos menstruais, e vão usar medicações que vão ajudar a controlar o ciclo e fazer com que ela treine mais ou fazer com que ela tenha uma recomposição muscular melhor. Vale lembrar que efeito colateral toda medicação tem. O que vai fazer com que esses possívei efeitos sejam minimizados é a dose bem indicada, no momento bem indicado para a patologia indicada, ou seja, isso tem que ser muito bem controlado pelo seu médico”, ressalta.


Reposição hormonal x atleta de competição e doping
Para o Comitê Olímpico Internacional, o uso de qualquer substância que tenha como intenção otimizar a performance do atleta em competição é considerado doping. Segundo o artigo 4.2.2 do Código Mundial Antidoping pela World Anti-Doping Agency (WADA), entre as substâncias e métodos proibidos em competição e fora de competição estão os esteróides anabolizantes androgênicos (EAA), a exemplo da testosterona e a gestrinona.

“O implante hormonal é apenas uma via de administração e quanto à eficácia dessa via, não existe discussão, mas apesar dos inúmeros trabalhos na literatura mostrando que a via é segura e legalizada no Brasil pela Anvisa, entre outros órgãos, quando se trata do esporte competitivo qualquer tipo de reposição hormonal é considerado doping. Por isso é importante destacar que a reposição não pode ser utilizada como instrumento de performance física nem por atletas comuns, menos ainda pelos profissionais”, finaliza o médico.

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