120 dias de Leila! Confira o balanço dos quatro meses da atual presidente à frente do Palmeiras

Início do mandato combina títulos dentro de campo, embate com uniformizada e cobrança externa por ‘camisa 9’

Leila Pereira - Palmeiras
Leila foi eleita no dia 20 de novembro de 2021 e assumiu em 15 de dezembro (Foto: Fábio Menotti/Palmeiras)

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Em 108 anos de história, o Palmeiras tem há exatos quatro meses a primeira mulher em sua presidência.

Em uma ‘sexta-feira santa’, neste dia 15 de abril de 2022, Leila Pereira completa 120 dias ocupando o cargo máximo do clube alviverde.

O período aparentemente curto se contrasta com muitas situações que ocorreram neste tempo, dentro e fora de campo.

Foram conquistas, como os títulos do Paulistão e Recopa Sul-Americana, pelo time profissional, e a inédita Copa São Paulo de Futebol Júnior, na base, e frustrações, como a perda do Mundial de Clubes, para o Chelsea, da Inglaterra, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes.

Paralelamente, houve um conflito e a ruptura com a principal torcida uniformizada palmeirense, a Mancha Alviverde, somada a cobranças nas arquibancadas por um ‘camisa 9’, que contrastaram com a renovação de contrato do técnico Abel Ferreira.

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DA CORPORAÇÃO AO CORAÇÃO

Presidente da Crefisa desde 2008, presidindo também anos mais tarde a Faculdade das Américas, instituição universitária de propriedade do grupo, Leila vem do mercado corporativo para exercer a mesma função agora em clube de futebol.

Patrocinadora do Palmeiras desde 2015, se tornou conselheira do clube dois anos mais tarde, a fim de conhecer os meandros políticos palmeirense. Desde então, passou a nutrir a pretensão de presidir a Sociedade Esportiva, que veio acontecer no fim do ano passado.

Na administração do Alviverde, Leila tem buscado aplicar o máximo de modelos de governança corporativa e gestão empresarial, mesmo se tratando em lidar diretamente com o seu clube de coração. Essa postura da presidente já foi até mesmo elogiada pelo técnico Abel Ferreira.

- Nossa presidente, além de ser presidente do Palmeiras, ela é empreendedora, e não só continuará a fazer bem para o Palmeiras, como também fará bem ao futebol brasileiro. Eu já disse que na minha casa, quem manda é a minha mulher. Se mandar bem, deixem mandar - disse o treinador palmeirense em entrevista coletiva no último dia 26 de março, após a vitória por 2 a 1 sobre o Red Bull Bragantino, no Allianz Parque, pela semifinal do Campeonato Paulista de 2022.

De acordo com informações levantadas pela reportagem, a atual mandatária palmeirense é bem rígida em relação aos contratos do clube. Seja em fornecimento de produtos e/ou materiais, prestação de serviços, e afins, a presidente palmeirense rechaça meras indicações e visa abrir concorrências em busca das melhores condições através dos menores preços.

Um dos grandes objetivos de Leila na parte financeira palmeirense é o equilíbrio no fluxo de caixa e adequação da responsabilidade financeira.

LEILA E O NOVE

E a ideia da atual presidente do Palmeiras em ‘segurar a mão’ e controlar os gastos do clube gerou irritação em boa parte da torcida palestrina, que sonhava com reforços de peso após a conquista da Libertadores da América, no fim do ano passado.

Dentre esses sonhos do torcedor da equipe alviverde está o ‘camisa 9’. Um centroavante de peso, que chegue com o pé calibrado para ser artilheiro em todas as competições que a equipe palmeirense disputar.

O Verdão passou por um processo de renovação na última temporada, não renovando o contrato e se desfazendo de atletas que já estavam há alguns anos no clube, como o goleiro Jaílson, o meia Felipe Melo e o atacante Willian Bigode.

Luiz Adriano, que protagonizou episódios de conflitos com a torcida palmeirense durante 2022, e terminou a temporada passada preterido tecnicamente, foi outro que viu o seu ciclo no Palmeiras se encerrar.

Com Deyverson em fim de contrato, que se encerra no meio deste ano e não será renovado, o Verdão foi ao mercado em busca de Rafael Navarro, destaque do Botafogo, na conquista da última Série B do Campeonato Brasileiro.

Navarro, no entanto, não era bem o ‘nove’ que a torcida palmeirense sonhava, e acostumada com a cultura de contratações em massa do Verdão nos últimos anos, a nação alviverde começou a criticas em peso Leila Pereira.

As demais aquisições do Palmeiras na temporada também não foram de grande expressão, mas reforços pontuais para o preenchimento do elenco e recomposição das peças que deixaram o clube, como: o goleiro Marcelo Lomba, vindo do Internacional; o zagueiro Murilo, que estava no Lokomotiv, da Rússia; os meia Atuesta, que defendia o New York City, dos Estados Unidos, e Jaílson, que estava livre de contrato após deixar o Dailan Pro, da China, além do já citado Rafael Navarro.

Mas nada de um centroavante de grife. Tentou-se alguns, como Yuri Alberto, que estava no Internacional, mas acabou fechando com o Zenit, da Rússia; Lucas Alário, do Bayern Leverkusen, da Alemanha; Taty Castellanos, destaque da última temporada do New York City, dos Estados Unidos; Pedro, do Flamengo; e, mais recentemente, Carlos Vinicius, brasileiro que pertence ao Benfica, de Portugal, mas está emprestado ao PSV Eindhoven, da Holanda, porém nenhum deles chegaram a um acordo com o Palmeiras.

O principal temor de Leila Pereira era repetir erros de recentes de investimento pesado em atletas que se tornaram apostas e não corresponderam em campo, gerando prejuízo ao clube. 

A parte financeira tabém pesou. Em todas as investidas, a que mais o Verdão se mostrou disposto a abrir os cofres foi o flamenguista, que girou em torno de R$ 120 milhões, mas foi rechaçada pelo clube rubro-negro.

Mesmo sem o nove, o Verdão tem 44 gols em 21 jogos, uma média de 2,09 tentos anotados por partida. 

CONFLITOS COM UNIFORMIZADA

Enquanto patrocinadora do Palmeiras, a relação entre Leila Pereira e Mancha Alviverde, principal torcida uniformizada do clube, sempre foi ótima, a ponto da atual presidente, enquanto empresária e patrocinadora palmeirense, ter costurado uma aproximação entre a organizada e o Verdão, durante a gestão do ex-presidente Maurício Galiote – algo que havia sido rompido pelo mandatário antecessor de Galiote, Paulo Nobre.

A Crefisa, inclusive, era uma das parceiras da Mancha nos desfiles das Escolas de Samba no Carnaval de São Paulo, e entre 2016 e 2021 chegou a repassar cerca de R$ 15 milhões através a Lei de Incentivo à Cultura, popularmente conhecida como Lei Rouanet.

No entanto, a ruptura entre as partes começou na ascensão da presidente do Alviverde ao cargo máximo na diretoria do Palmeiras, e teve como pano de fundo um posicionamento contrário da uniformizada em relação à escolha de Leila em ter o jornalista e empresário Olivério Júnior no comando da comunicação palmeirense.

Olivério trabalha com Leila há sete anos, estando à frente da parte comunicacional da Crefisa, FAM e até mesmo da própria empresária, tornando-se, assim, um dos homens de confiança de Pereira também na sua ida à presidência do Verdão.

Inicialmente, a alegação da Mancha Alviverde era que Olivéiro era torcedor do Corinthians, com aproximação com cartolas do clube rival, como o ex-presidente Andrés Sánchez.

Por fim, as reclamações também pontuaram suposto conflito de interesses entre o então homem forte da comunicação palmeirense, que possuía uma empresa de assessoria esportiva e corporativa que atendia profissionais de outras equipes.

Porém, como a confiança de Leila Pereira em Olivério Júnior era grande, a presidente palmeirense ‘bateu o pé’ pela manutenção do jornalista na chefia de comunicação do clube palestrino, movendo, por parte da Mancha, protestos pedindo a saída do profissional do clube alviverde, tanto nos jogos, quanto em ações isoladas em diversas cidades, por meio de subsedes da torcida pelo Brasil.

Nessa altura do campeonato, as partes já estavam em conflito. A Mancha devolveu R$ 200 mil dados pela presidente para que integrantes da torcida viajassem para os Emirados Árabes a fim de acompanhar o Mundial de Clubes, em fevereiro.

A ruptura foi confirmada, tanto pela própria Leila Pereira, em entrevista ao ‘Estado de S.Paulo’, quanto pelo presidente de honra da Mancha Alviverde, Paulo Serdan, através de lives nas redes sociais.

- O Olivério está comigo há sete anos, o cara trabalha bem. Pedi que eles me falassem um episódio apenas em que ele tenha ofendido algo ou alguém do Palmeiras? A gente não tem nada que ele tenha feito contra o Palmeiras. O problema é a relação dele com outro clube. Então ele tem que morrer de fome? Não pode trabalhar em lugar nenhum? É crime isso o que estão fazendo, pedindo a demissão de um colaborador por ele ser torcedor de outro time. Nunca perguntei isso para nenhum de meus colaboradores – disse Leila.

- Do Mundial, ela (Leila Pereira) fez uma ajuda financeira legal pra c****** mesmo. O Jorge (Luis, presidente da Mancha Alviverde) me ligou, queria soltar uma nota, que estava desconfortável com a situação do Olivério. Eu falei que a única questão que eu acho que pra ser correto é que teríamos que devolver o dinheiro da ajuda dela pra viagem. E que o único caminho pra não devolver é se ela achar que não tem que devolver. Na segunda-feira, a nota sai de manhã. Deu uns 15 minutos, ela me ligou, estava chateada, e era o direito dela, mas era a posição da entidade. A coisa tinha que ser falada na cara dela, e é o que foi feito. Conversando com o Jorge, eu liguei pra ela, peguei a conta e devolvemos o dinheiro. E já era. Acabou o relacionamento. Simplesmente acabou – explicou Serdan.

Após algumas semanas de ‘braço de ferro’, Olivério Júnior pediu demissão do Palmeiras. A decisão do jornalista se deu justamente para dar tranquilidade ao trabalho de Leila Pereira na administração do Palmeiras.

TRÊS TITULOS EM QUATRO MESES

Se fora de campo Leila Pereira foi criticada, o time do Palmeiras sob o comando da atual presidente não deu motivos para reclamações.

No mesmo dia em que Leila assumia o Verdão, o ex-meia do clube, Felipe Melo, deu uma declaração onde frisou que ela não havia ganho títulos pela agremiação, ainda que desde 2015 estivesse fazendo parte do futebol palmeirense, como patrocinadora.

- Queria deixar uma sugestão, levantar uma bola para a próxima presidente do Palmeiras. Espero que ela vença. Até agora, quem foi vitorioso no clube foi o (Maurício) Galiotte, ela não ganhou b**** nenhuma. Agora ela vem como presidente e a gente espera, como palmeirense, que ela também tenha a oportunidade de vencer ali - disse Felipe ao podcast ‘Palumbada Neles’.

Ainda assim, em menos de um semestre Leila viu o Alviverde campeão em sua administração.

A primeira conquista veio em um torneio de base, é bem verdade, mas o título da Copa São Paulo de Futebol Júnior foi muito comemorado, principalmente porque a ausência dessa taça na galeria palmeirense era motivo de muitas provocações de torcedores rivais.

A segunda foi a Recopa Sul-Americana, sobre o Athletico-PR, com um empate em 2 a 2 e Curitiba, e vitória por 2 a 0, no Allianz Parque.

Por fim, até o momento, o título do Campeonato Paulista, em uma virada histórica sobre o São Paulo. Após ser derrotado por 3 a 1 pelo Tricolor no jogo de ida, disputado no estádio do Morumbi, o Verdão goleou o rival por 4 a 0, no Allianz Parque, com uma campanha irretocável, com somente uma derrota em 16 jogos.

Mas nem só de alegrias em campo viveu esses quatro meses de ‘Era Leila’ no Palmeiras.

Se havia a provocação dos adversários acerca da falta de um título da Copinha para o Verdão, a maior era as afirmações de que o Palmeiras não tem título mundial, algo rechaçado pela torcida palmeirense, incluindo a sua própria presidente, que considera a conquista da Copa Rio de 1951 a primeira vez que um clube conquistou o mundo.

- Nós temos (Mundial), sim. Não vem com esse papo bobo, não. Nós somos os primeiros campeões mundiais, entendeu? O que vocês acham não interessa para nós palmeirenses. Nós sabemos que somos campeões mundiais – disse Leila ao ex-jogador do Corinthians, Emerson Sheik, em entrevista ao programa ‘Arena SBT’, em janeiro de 2021.

No entanto, a confirmação de um novo título mundial, no formato atual, seria o ápice para o palmeirense, que embarcou para Abu Dhabi, para disputar o torneio pelo segundo ano consecutivo, no dia 2 de fevereiro de 2022, um mês e 18 dias após Leila Pereira assumir o clube.

O Verdão se classificou à final, ao vencer o Alh-Alhy, do Egito, na semifinal, mas acabou sendo derrotado pelo Chelsea, da Inglaterra, por 2 a 1, na prorrogação, ficando a três minutos de levar a partida para a decisão por pênaltis.

Leila Pereira e a taça
Leila Pereira levantou taça do título paulista de 2022 junto com o capitão Gustavo Gómez (Foto: Cesar Greco/SE Palmeiras)

RENOVAÇÃO E RELAÇÃO COM ABEL

Mesmo com 15 vitórias em 21 jogos, dois títulos no profissional e uma conquista inédita da Copa São Paulo, é bem possível que o dia em que os palmeirenses mais comemoraram em 2021 foi o 26 de março de 2021, com a confirmação da renovação de contrato do técnico português Abel Ferreira com o Verdão.

As conquistas recentes tornaram o treinador alvo de equipes fora do Brasil, inclusive com uma sondagem do Benfica, de Portugal.

Ainda assim, a decisão de Ferreira foi de estender o seu vínculo com o Palmeiras, que se encerraria no fim deste ano e agora terminará no final de 2024 - mesmo período que também terminará o atual mandado de Leila, que poderá ter reeleição até o fim de 2027. 

As tratativas para renovação do treinador português com o Palmeiras não passaram de uma conversa, franca e direta, entre ele e Leila Pereira. E a postura da presidente foi fundamental para o acerto, segundo o próprio Abel.

- Se continuo, é responsabilidade da Leila. Fez um esforço muito grande. Ela disse uma frase que me marcou: ‘Você só não fica no Palmeiras se não quiser’. Agradeço a confiança, confio neles como confiam em mim. A Leila foi no meu coração. Obrigado por confiarem no meu trabalho – disse o treinador no dia da sua renovação.

O ‘fico’ de Abel no Palmeiras passa diretamente pela vinda da família ao Brasil, com condições garantidas por Leila Pereira, que conheceu a esposa de Abel Ferreira, Ana Xavier, em 2021, em uma visita da família do treinador ao Brasil.

Entre Leila e Abel há uma relação de respeito e muita confiança entre as partes, inclusive de colaboração em projetos externos. 

Durante a campanha presidencial, a empresária deixou claro a intenção de ampliar a base de sócios-torcedores do clube e contou com Abel Ferreira como aliado. 

No último dia 5 de abril o treinador palmeirense prometeu um presente à torcida palmeirense caso o Avanti, programa de associados da equipe alviverde, chegasse a uma base de 120 mil inscrições. 

Em 48 horas, o Verdão já havia dobrado de 32,5 para 65 mil sócios. 

Paralelamente a isso, Leila buscou também reduzir o preço dos ingressos comuns no Allianz Parque, necessidade recentemente reforçada por Abel. 

- Se for preciso abaixar mais os ingressos para termos o estádio cheio, eu falo outra vez com a Leila. A nossa equipe estava a 100%, os torcedores 70%. Precisamos deles todos. Se estivermos todos juntos aqui, vamos estar mais próximos de ganhar. Vou fazer uma crítica construtiva aos nossos torcedores, porque aceito quando nos criticam quando jogamos mal. A minha equipe hoje não jogou a 50%, jogou a 100% da vontade e da atitude. Hoje, o estádio estava em sua metade - disse o treinador palmeirense após a vitória por 2 a 0 sobre o Ituano, nas quartas de final do Paulistão, no dia 24 de março. 

PRIMEIROS QUATRO MESES DE TRÊS ANOS

O mandato de Leila Pereira no Palmeiras está ainda no começo, são os primeiros quatro meses de um triênio de trabalho, com possibilidade de reeleição por mais três anos, que já é desejo manifesto da empresária.

Para isso, Leila colocou o pé no freio em suas atividades profissionais para priorizar o Verdão.

Ainda assim, a mandatária palmeirense tem vivido uma rotina agitada, com agendas relacionadas ao clube, compromissos empresariais e também lidando com contratempos da vida pessoal.

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