Sacramento Kings: vai ser chacota na NBA até quando?

Disfuncional, a franquia de Sacramento não chega aos playoffs há 15 anos

Sacramento Kings chacota Fonte: Rocky Widner / AFP

Quando é que o Sacramento Kings vai deixar de ser chacota na NBA? Já são 15 anos sem saber o que é uma classificação aos playoffs. Desde então, 11 treinadores e quatro executivos passaram pela equipe. Além disso, o Kings foi vendido (2013) e um bilionário indiano assumiu o comando da franquia. O time californiano parece que está em uma eterna reconstrução, e não cansa de cometer erros.

Neste artigo, vamos tentar explicar essa aura de fracasso que paira sobre a equipe de Sacramento, e quais os próximos passos para mudar esse panorama. O Kings tem jeito? Tem. Mas é preciso radicalizar.

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A venda do Kings

Em maio de 2013, a criticada família Maloof, até então proprietária da franquia, decidiu vender o Kings, depois de 15 anos no comando. O comprador foi Vivek Ranadivé. O bilionário do ramo da tecnologia pagou módicos US$348 milhões. Atualmente, a franquia está avaliada em US$2 bilhões, de acordo com a revista Forbes. Você pode não acreditar, mas o Kings é a 14ª franquia mais valiosa da NBA.

Foi um ótimo negócio para o indiano, a franquia ganhou uma arena moderna em 2016 (Golden 1 Center), mas dentro de quadra… O que já era ruim piorou. Algumas reportagens de insiders com credibilidade, inclusive apontaram interferência de Ranadivé nas operações de basquete. Além de dono, parece que ele queria ser o gerente-geral, o treinador…

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Sem paciência, Vivek demitiu o técnico Michael Malone no começo da temporada 2014/15. Isso ocorreu após uma pequena sequência de derrotas em que o time estava desfalcado do principal jogador, DeMarcus Cousins, afastado por uma meningite.

O dono desejava que o time atuasse em um ritmo mais rápido, e até dava palpites táticos durante os treinamentos da equipe, deixando Malone em uma situação desconfortável. Um amadorismo sem tamanho, ou seja, uma franquia disfuncional…

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O “legado” de Vlade Divac

Vlade Divac foi um ótimo jogador de basquete, mas como dirigente falhou bastante. Ex-atleta do próprio Kings, o sérvio assumiu como “manda-chuva” do basquete da franquia em 2015. A chegada dele culminou na saída do então gerente-geral Pete D’Alessandro, que viu seus poderes diminuindo e resolveu aceitar uma oferta para trabalhar no Denver Nuggets.

Divac tinha duas missões: formar um time competitivo e aparar as arestas entre o técnico George Karl e o astro do time, DeMarcus Cousins. Não conseguiu nem uma coisa nem outra. Karl foi demitido em fevereiro de 2016. Por outro lado, Cousins foi trocado para o New Orleans Pelicans no ano seguinte. Por Tyreke Evans, Buddy Hield, Langston Galloway e duas escolhas de Draft.

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Dave Joerger substituiu Karl no comando do time. No terceiro ano à frente da equipe, ele conseguiu levar o Kings à nona colocação do Oeste, ficando perto de uma classificação para os playoffs. Em 2018/19, Sacramento teve o melhor aproveitamento desde 2006 (ano da última aparição na pós-temporada), com 39 vitórias em 82 jogos. Como “prêmio”, Joerger foi demitido. Então, Luke Walton foi contratado para o cargo.

No entanto, o maior erro de Divac ocorreu no Draft de 2018. O Kings tinha o direito de fazer a segunda escolha e deixou passar um talento geracional como Luka Doncic. Optou por Marvin Bagley, que até hoje não “vingou” na NBA. Atualmente, o jogador está no último ano de contrato de novato e praticamente foi excluído da rotação da equipe. Enquanto isso, Doncic já firmou seu nome entre os maiores astros da liga.

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Novo GM é contratado para limpar as burradas de Divac

Os resultados ruins se acumularam e, em agosto do ano passado, Divac deixou a franquia. Para o lugar dele, o Kings trouxe Monte McNair, que trabalhou por 13 anos no Houston Rockets ao lado de Daryl Morey.

Limpar as burradas feitas por Divac não é uma tarefa fácil. O novo GM, entretanto, mostrou conhecimento nos últimos dois recrutamentos. Em 2020, selecionou o armador Tyrese Haliburton, um steal segundo os analistas de Draft, na 12ª escolha. No ano seguinte, optou pelo também armador Davion Mitchell, melhor defensor do basquete universitário e campeão por Baylor. São atletas com perfis parecidos: elogiável ética de trabalho, conhecimento dos fundamentos do jogo e capacidade defensiva acima da média. A pressão pela volta aos playoffs explica essa opção de draftar jogadores “prontos” e não talentos crus.

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Ao contrário do que muitos pensavam, McNair não demitiu Luke Walton de imediato. Querido pelos atletas (exceto Buddy Hield), o criticado treinador ganhou um voto de confiança. Além disso, Walton tinha contrato até 2024 e o dono da franquia não parecia disposto a querer arcar com a rescisão.

A demissão de Luke Walton

Nos dois primeiros anos no comando do Kings, Walton levou o time à mesma campanha: 31 vitórias e 41 derrotas, e a 12ª posição na conferência. Portanto, na última offseason, a demissão parecia certa. Entretanto, para surpresa geral, o treinador foi mantido e iniciou a temporada à frente da equipe. Esse foi um erro de McNair. Todo mundo sabia que, com Walton, o time não iria a lugar algum.

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Com seis vitórias em 17 jogos, e o aumento das críticas contra o técnico, o Kings finalmente demitiu Walton. Para o lugar dele, o então assistente Alvin Gentry assumiu como interino. Historicamente, Gentry monta times com bons ataques e péssimas defesas. A cara do Kings, que figurou seis vezes entre as cinco piores defesas da NBA nos últimos 13 anos.

Antes de mais nada, o time de Sacramento precisa de um treinador especialista em montar defesas consistentes. E, como falado, Gentry é o contrário disso. Nesta temporada, o Kings tem a sexta pior defesa da liga. Aliás, nos últimos anos, a equipe sempre figurou entre as piores nesse quesito.

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Por isso, bons defensores (Haliburton e Mitchell) foram escolhidos nos Drafts mais recentes para mudar essa cultura. Então, não faz sentido, por exemplo, efetivar Gentry no cargo. Que seja realmente apenas um interino.

Em suma, 2021/22 tem toda a cara de ser mais uma temporada perdida para o Kings.

Mudanças no elenco

Para alterar esse panorama, essa aura de fracasso, o Kings precisa radicalizar. O perfil do novo treinador já foi apontado acima. Quanto ao elenco, McNair precisa ser ousado nas trocas. Com pouco poder de barganha, a franquia não vai conseguir muita coisa pelo insatisfeito e decepcionante Bagley. Ele é o primeiro a puxar a “barca”.

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Outro jogador que faz hora extra em Sacramento é Buddy Hield, envolvido em diversos rumores nos últimos meses. Um arremessador confiável como Hield tem muito mercado na liga.

E tem mais. O Kings poderia aproveitar o bom início de Harrison Barnes, em 2021/22, e negociar o ala de 29 anos, cujo contrato se encerra ao final da próxima temporada. É o famoso: troca enquanto o jogador estiver em alta.

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A verdade é que o elenco do Kings é desbalanceado. Tem três boas opções na armação (De’Aaron Fox, Haliburton e Mitchell), um sniper do perímetro (Hield), apenas um ala confiável (Barnes) e cinco pivôs (Richaun Holmes, Tristan Thompson, Alex Len, Damian Jones e o novato Neemias Queta).

Recentemente, o veterano Thompson, campeão da NBA pelo Cleveland Cavaliers (2016), fez duras críticas aos companheiros de time. Ele, inclusive, deixou no ar a possibilidade de falta de motivação dos atletas e que o elenco precisa amadurecer e sair de uma “espiral da derrota”.

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Enfim, McNair precisa mudar logo esse plantel!

Ben Simmons pode ser uma boa

E outra. Por que não se envolver em uma troca por Ben Simmons? Pode ser bom para ambas as partes. Motivado (e disposto a jogar na Califórnia), o australiano de 25 anos teria um papel de protagonista em Sacramento. Em contrapartida, o Kings consegue um defensor de elite e um atleta com elevado QI de basquete. Algumas pessoas já se esqueceram que Simmons, apesar da falta de arremesso, é um excelente jogador.

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Com uma generosa extensão contratual acertada no final de 2020 (US$163 milhões por cinco temporadas), Fox decepcionou no primeiro mês da atual campanha. Nada contra o armador de 23 anos, que foi um dos raros acertos de Divac em Sacramento, mas ele é mesmo o “cara da franquia” para os próximos anos?

Insiders garantem que, se o Kings envolver Hield e um dos armadores (Fox ou Haliburton) no pacote por Simmons, pode até sair negócio com o Philadelphia 76ers. Repito: por que não?

Marca negativa histórica

Com um jejum de 15 anos sem chegar aos playoffs, o Kings tem tudo para quebrar um recorde negativo em 2021/22. Caso não alcance a pós-temporada, mais uma vez, a franquia vai ultrapassar o Los Angeles Clippers e se tornar a dona da maior sequência fora dos playoffs na história da NBA.

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Para sair do limbo em que se encontra há mais de uma década, o Kings precisa radicalizar. Efetuar mudanças significativas no elenco, trazer um treinador com uma mentalidade mais defensiva, competitiva. E acertar no Draft. O GM Monte McNair já mostrou que é confiável nos recrutamentos. Desde 2006, o time de Sacramento faz campanhas medíocres, mas teve apenas uma escolha top 4, justamente em 2018, quando deixou passar Luka Doncic.

Não tem jeito, o Kings vai ter que entrar em mais um processo de reconstrução. Só que, desta vez, não pode cometer os mesmos erros de outrora. O dono da franquia, que parece não saber muito do esporte da bola laranja, precisa dar total autonomia ao GM. Um elenco renovado, uma escolha no topo do próximo Draft, flexibilidade financeira (o Kings, pasmem, tem uma folha salarial superior à do Phoenix Suns, atual campeão do Oeste). Isso já seria um bom começo para deixar de ser chacota.

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