Solta o Freio: Fim de semana de Mundial de ciclismo de estrada!

Após o Tour de France, calendário reserva duas grandes competições da modalidade

Tour de France 2020
Imagens da última edição do Tour de France (Foto: AFP)

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O incrível do calendário do ciclismo deste ano é que saímos de três semanas do Tour de France e, na semana seguinte, temos o Mundial e o começo do Giro de Itália.

Essa abundância seguida das provas mais cobiçadas do calendário deixam os fãs do ciclismo encantados e ao mesmo tempo cria uma enorme imprevisibilidade, pois para os ciclistas fica difícil acertar o pico de performance sem o ritmo normal de provas preparatórias.

Todo fim de semana temos provas que os ciclistas costumam fazer o “build up” de meses do calendário e, agora, saem das melhores provas direto de uma para as outras. Como é impossível ficar tanto tempo aumentando a fadiga nas provas desgastantes e não perder forma, alguma hora irão errar na mão e os que, ao contrário, se pouparam e não foram para o Tour de France, podem chegar sem ritmos suficiente.

Tour de France é a prova mais importante do ano, então quando o novo calendário foi acertado a maioria das equipes escolheu mandarem o que tinham de melhor para o Tour já que era incerto se o resto do novo calendário conseguiria ser realizado. Era a opção mais lógica. Apostarem tudo na maior prova, que daria o maior retorno aos patrocinadores ao invés de focar em alguma outra prova que poderia acabar não acontecendo.

Mundial terá um percurso com quase 5.000mt de altimetria acumulada, ou seja, mais difícil que do ano passado e nada de sprinters de novo. Ao mesmo tempo que tem muita altimetria não possui nenhuma longa montanha. Serão 9 voltas para os homens e 5 voltas para as mulheres em um circuito de 28,8km e o maior obstáculo uma ladeira de 2,7km, com percentual médio de 6,4%, mas com um pedaço de 1,4km de média de 10,6km e pico de até 14%. Seguramente suficiente para gerar ataques dos especialistas em clássicas montanhosas como Liège-Bastogne-Liège, Fleche-Wallonne e ao mesmo tempo uma prova longa suficiente para os escaladores podem prevalecer após 6 horas de escaladas.

Esse percurso foi escolhido por ser parecido com o percurso original de sede escolhida originalmente na Suíça, que devido a pandemia foi cancelada. Itália entrou no lugar de última hora. Um percurso montanhoso é difícil de ser escolhido num mundial e quando finalmente acontece é uma oportunidade quase que única para os famosos escaladores terem a chance de incluir este título aos seus palmarés. Além de poderem ter a honra de passar o ano competindo com a camisa arca íris. Nibali é o maior exemplo. Apesar de ter uma longa carreira e ser um dos únicos a ter um palmar de conquistadas com um Tour de France, uma Vuelta a Espanha, 2 Giros de Itália, a clássica montanhosa Il Lombardia e incrivelmente a Milano-Sanremo, nunca teve a oportunidade de disputar um mundial com reais chances. Chegou a hora e por isso correu o “risco”, escolheu não ir para o Tour de France, ficar treinando e competindo só na Itália desde a pandemia e emendar após o mundial a tentativa de mais um Giro de Itália. Será sua última chance da carreira, assim como a olimpíada do ano que vem.

Os candidatos a esse montanhoso percurso do mundial se dividem primeiramente em 2 categorias:

Classicomanos; Fulgsang, Alaphilippe, Kwiatkoski, Van Aert, Avermat, Schachmann e Hirshi.

Escaladores; Nibali, Pogacar, Roglic, Dumoulin, Carapaz, Uran, Landa, Valverde, Woods e Kuss.

Dessas duas divisões, vejo os escaladores que disputaram a geral do Tour de France em desvantagem, pois estarão com a grande fadiga de 3 semanas nas pernas indo todos os dias forte e apenas uma semana de descanso. Depois temos os que não foram para o Tour, mas que talvez estejam sem ritmo de prova suficiente para uma prova de um dia de 6 horas de intensidade alta contra esse tipo de “start list”.

Finalmente, temos os que foram para o Tour de France, mas usaram para ganhar etapas e pegar ritmo, recuperando entre etapas e que na minha opinião seria a melhor forma de se preparar para esse mundial.

Adicionar a isso tudo que a temperatura, embora agradável nos primeiros dias de transmissão no SporTv2 e 3, no domingo irá piorar muito. Temperatura cairá para 10c/12c e irá chover o dia inteiro. Não tanto quanto ano passado, mas o combo chuva+frio sem dúvida sempre agem diferentemente entre os ciclistas.

Pesando isso tudo imagino que as equipes da Itália, França e Bélgica controlem o pelotão e as fugas, que certamente acontecerão. Independentemente de marcarem as fugas vão querer que a prova fique dura para ir eliminando os gregários e isolando seus capitães e para isso usarão seus excelentes gregários. Lembrar que uma prova dura como essa tem pelo menos 50km a mais do que a mais longa etapa do Tour de France. Além disso tem o ritmo sempre forte, pois ao contrário de uma etapa das grandes voltas não tem dia seguinte e a necessidade de poupar energias. Outros simplesmente não têm essa autonomia de aguentarem 250km nesse ritmo.

Meu palpite vai para os escaladores que tem “punch” e ainda estão “fresh” como Nibali ou Carapaz e entre “classicomanos” que escalam muito bem e por muito tempo como Fulgsang e Alaphilippe. Acho que fica um pouco mais montanhoso do que o Van Aert gostaria ou longo de mais para um dos escaladores colombianos. Escaladores como Roglic, Pogacar e Valverde vão bem nesse tipo de distância e ladeira empinada, mas acho que vão acabar sucumbindo às constantes trocas de ritmo do final da prova antes da última volta.

A prova feminina no sábado poderá dar uma indicação de como acontecerá a seleção final dos favoritos, mas acho que a dos homens será definida entre um grupo pequeno de “sobreviventes” na última volta. Entre 5 a 10 no máximo e se for isso mesmo os escaladores terão que se livrar dos “punchers” antes da chegada já que seria certeza de perder a prova num sprint final no circuito de Imola contra eles.

Esse está difícil de cravar, mas por isso mesmo valerá bastante assistir. Uma coisa é certa; quem ganhar será merecedor de usar a cobiçada camisa arco íris até o ano que vem...

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