‘Só peço paciência neste início’, diz Zé Roberto sobre renovação na Seleção

Tricampeão olímpico elogia nova safra, e aponta velocidade e baixo índice de erros como metas para ciclo até Paris. Equipe verde e amarela tenta título inédito da Liga das Nações

José Roberto Guimarães
José Roberto Guimarães prepara grupo renovado rumo à nona Olimpíada de sua carreira (Foto: Divulgação/FIVB)

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A Seleção Brasileira feminina de vôlei começará a mostrar na semana que vem rostos muito conhecidos para o público mais fanático com a camisa verde e amarela, mas nem tanto para quem se acostumou a assistir ao esporte somente em torneios internacionais.

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A palavra renovação motiva o técnico José Roberto Guimarães, especialista em trabalhar jovens valores. Aos 67 anos e com três medalhas de ouro olímpicas no currículo, o comandante não perde o brilho nos olhos, ao mesmo tempo em que reconhece os desafios que o grupo terá pela frente. E pede paciência.

Em entrevista ao LANCE! concedida em Saquarema na última quinta-feira, o treinador brasileiro falou sobre as altas expectativas e preocupações que tem sobre o grupo atual, que não conta mais, pelo menos por enquanto, com nenhuma das campeãs olímpicas de Pequim-2008 e Londres-2012.

Os tempos mudaram, mas a ideia do paulista e de sua fiel comissão técnica é preservar algumas das características que marcaram as vencedoras gerações brasileiras: baixo índice de erros e velocidade de jogo.

- Tenho um grande desafio pela frente. Só peço que tenham paciência neste início, pois nem temos ainda o time completo. Precisamos correr contra o tempo na Liga das Nações. Acredito que com o tempo as jogadoras evoluirão e conhecerão esse universo internacional, que será muito importante para elas - afirmou Zé Roberto.

Nomes consagrados como Sheilla, Jaqueline, Fernanda Garay, Fabiana, Thaisa, Natália e Dani Lins deram adeus à Seleção, embora as últimas quatro sigam em atividade por seus clubes.

Do time vice-campeão olímpico em Tóquio, no ano passado, Zé tem algumas referências: as levantadoras Macris, de 33 anos, e Roberta, de 32, a central Carol, de 31, e as ponteiras/opostas Rosamaria, de 28, e Ana Cristina, de apenas 18, que foi ao Japão para ganhar experiência. A ponteira Gabi só não foi convocada ainda porque ganhou descanso após conquistar a Champions League pelo Vakifbank, da Turquia, com direito ao prêmio de destaque do torneio.

O grupo conta ainda com a levantadora Kenya, as opostas Lorenne, Kisy e Lorrayna, a ponteira/oposta Tainara, as ponteiras Pri Daroit, Júlia Bergmann e Karina, as centrais Lorena, Diana, Mayany e Julia Kudiess, e as líberos Natinha e Nyeme. 

A competição que abre o calendário de 2022 é a Liga das Nações (VNL), que terá sua primeira etapa entre os dias 31 de maio e 4 de junho, em Bossier City, nos Estados Unidos. A Seleção terá pela frente Alemanha, Polônia, República Dominicana e Estados Unidos. A segunda etapa será em Brasília, entre 15 e 19 de junho, contra Turquia, Holanda, Itália e Sérvia. O maior desafio do ano é o Mundial, entre setembro e outubro, na Holanda e na Polônia.

Confira a entrevista abaixo

Aposentadoria da Seleção repensada

Eu tinha mais ou menos idealizado minha vida em um determinado tempo para encerrar minha carreira. Isso já pensava antes de Tóquio. O Rio (Jogos Olímpicos de 2016) foi difícil, mas não queria sair daquela forma e veio a oportunidade de continuar até Tóquio. Outra coisa surgiu logo depois, que foi o projeto de Barueri. Trabalhar com essas meninas me deu uma outra força e mexeu comigo. Poucos recursos e um início de trabalho ajudando algumas atletas que estavam contundidas. Essa foi a pegada. Tivemos um patrocinador, que era a Hinode, e apareceram jovens. Trabalhamos, e vejo hoje que quase 50% das jogadoras convocadas passaram por Barueri, merecidamente. Só uma delas segue no time, que é a Diana. Foram convocadas merecidamente. É motivo de muito orgulho ter podido ajudá-las no início da carreira, fazendo com que crescessem e evoluíssem.

Grande desafio com o novo grupo

O fato de estar aqui hoje com essas meninas, algumas remanescentes de Tóquio, me deixa em uma situação de grande desafio pela frente. Só peço que tenham paciência neste início, pois nem temos ainda o time completo. Precisamos correr contra o tempo na Liga das Nações. Acredito que com o tempo elas evoluirão e conhecerão esse universo internacional, que será muito importante para elas.

Versatilidade: trunfo para ganhar espaço na Seleção

Sempre fui a favor da versatilidade. A jogadora precisa executar o máximo de fundamentos e entender o significado disso, a sua melhora nos movimentos, na mecânica, nas alavancas. E não só falar "eu sou só oposta", "eu sou só ponteira", "eu sou só central". Precisam saber fazer tudo. Na hora que a bola cai na mão de uma atacante, é saber levantar com qualidade. Quanto mais versátil for a jogadora, mais ela será bem-vinda na Seleção Brasileira. É isso o que queremos, como é o caso da Rosa, da Tai (Tainara), como foi da Mari lá atrás. Muita gente fala: "mas ela é oposta!". Mas ela pode fazer aquela função, é importante, pois podemos precisar em algum momento que ela tenha essa responsabilidade de participar da recepção ou de defender na posição 6. Quanto mais versátil ela for, mais espaço terá. E é assim na vida. Quanto mais eclético você for, mais possibilidade de trabalho terá.

Os diferenciais da Seleção Brasileira

Temos um grupo jovem, e com algumas mais experientes. Como fazer dar liga? Primeiro, muito treinamento. Algumas já estão habituadas ao estilo de trabalho meu, do Paulinho (Paulo Coco), do Boni e do Wagão, que está com a Seleção Sub-21 e volta para o Mundial, os preparadores físicos Zé Elias, Fábio e Caíque, Fernandinho como fisioterapeuta, Júlio Nardelli como médico e a Fernanda, como psicóloga. Elas já nos conhecem, sabem que somos chatos no bom sentido de pedir o fundamento bem feito e a evolução técnica, porque acho que a diferença do vôlei brasileiro sempre foi a qualidade técnica das jogadoras, a quantidade de erros inferior à das outras equipes. E essa coisa de jogar com velocidade, que é nossa característica. Temos jogadoras para isso. É o que vamos buscar, até elas entenderem todo o cenário internacional para identificar e ter uma leitura muito rápida de quem elas forem enfrentar.

Os desafios de Rosamaria: ponta ou oposta?

Ela tem as duas possibilidades. Eu não fechei questão com ela. Só vai jogar na ponta ou só na saída. Ela dá essas duas opções, mas também terá de melhorar no passe, no posicionamento e no ataque pela entrada. Ela ataca melhor na posição 2, mas bloqueia muito bem na 4. Tem 1,85m e precisa chegar em um parâmetro bom. Também pode jogar na saída, onde a competição será com Kisy, Lorenne, Lorrayna e a Aninha (Ana Cristina, de 1,93m), que também é versátil. Quanto mais jogadoras a Seleção tiver nessa situação, maior será o meu leque de opções.

Incentivo para brasileiras jogarem no exterior

Sempre digo quando me pedem opinião sobre ir jogar fora que acho ótimo. Sempre dei uma força e enalteci isso, pois faz com que elas cresçam. São passos importantes na vida para as atletas amadurecedem, não só como jogadoras, mas para suas vidas. 

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