Adiamento dos Jogos causa alívio e demanda replanejamento para 2021

Entidades dos esportes olímpicos e paralímpicos do país veem ação do COI com otimismo e se preparam para repensar projeto Tóquio, visando ápice dos atletas em data ainda incerta

Olimpíada só deve ser disputada em 2021 (AFP)
Olimpíada e Paralimpíada de Tóquio acontecerão em 2021, um desafio que vale para todas as nações  (Foto: AFP)

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O adiamento dos Jogos de Tóquio, que ocorreriam a partir de 24 de julho, para 2021 foi comemorado e visto como um "alívio" pelas entidades máximas dos esportes olímpicos e paralímpicos do Brasil. Mas todos os envolvidos no projeto sabem que o país terá de entrar em uma fase intensa de estudos para repensar o complexo planejamento logístico envolvido e, sobretudo, o que fazer para garantir a melhor preparação dos atletas, de modo que eles atinjam seu ápice de performance em um evento daqui a mais de um ano. A nova data ainda não foi decretada. 

O lado bom é que o árduo desafio valerá para todos os Comitês Olímpicos e Paralímpicos Nacionais. Portanto, os Jogos acontecerão em condição de igualdade maior do que se ocorressem em julho deste ano, em meio aos estragos causados pelo coronavírus. Além da necessidade de recalcular as ações de acordo com as particularidades de cada esporte, muitos atletas ainda precisam assegurar a sua qualificação.

No Brasil, 178 nomes já estavam classificados para a Olimpíada, e a projeção do COB era de levar entre 250 e 300 esportistas. O CPB planejava enviar 230 para a Paralimpíada. Os processos classificatórios estavam em pleno vapor até que a pandemia levou ao cancelamento de torneios.

A partir de agora, muitas dúvidas precisarão ser sanadas. Astros e estrelas que enfrentam ou enfrentaram recentemente processos de doping, com prejuízos em suas caminhadas rumo aos Jogos, como a judoca Rafaela Silva, a especialista no lançamento de disco Andressa Morais e a tenista Bia Haddad Maia, ganharam tempo para dar a volta por cima, por exemplo. O mesmo vale para quem retornava de lesão ou vivia uma fase ruim. Por outro lado, nomes que hoje estariam no auge manterão o embalo por mais de um ano? Bases que as nações haviam reservado no Japão estarão disponíveis? Só o tempo dirá.

- Vamos continuar o trabalho de preparação da delegação com base no que já havíamos feito para julho deste ano. Mas, é claro, trata-se de uma situação nova em que temos diversas questões que precisamos buscar respostas. Teremos que replanejar, fazer novos estudos, falar com nossos patrocinadores e fornecedores, conversar com as nossas bases no Japão, entre outros. Seguiremos trabalhando para oferecer uma estrutura de excelência ao Time Brasil - disse o diretor-geral do COB, o campeão olímpico Rogério Sampaio.

A entidade acredita que a medida trará tranquilidade para a preparação dos atletas e para o planejamento operacional dos Comitês Olímpicos Nacionais.

- Ainda precisamos aguardar a definição da nova data, pois o prazo até o verão de 2021 no hemisfério norte não significa necessariamente que será no mesmo período que seria em 2020, pode ser até antes. Com essa informação teremos mais segurança para readequar o planejamento e definir novos prazos de modo a garantir que nossos atletas tenham as melhores condições de preparação, qualificação e performance nos Jogos - afirmou o vice-presidente do COB e Chefe de Missão nos Jogos Olímpicos de Tóquio, Marco Antônio La Porta.

O mesa-tenista Hugo Calderano é um bom exemplo. Consultor técnico da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM) e treinador do número 7 do ranking mundial, o francês Jean-René Mounié disse que modificações profundas devem acontecer no planejamento do atleta.

- Muda bastante. Vamos ter que criar uma nova estratégia quando soubermos mais do calendário. Muda também a nossa própria estratégia. O Hugo tem que treinar sabendo que temos pelo menos um ano ao invés de quatro meses para os Jogos. É desconfortável pensar sem saber quais eventos e quais etapas teremos que participar. Estamos pensando em como nos adaptar e tirar algo positivo dessa crise. Para isso, temos que nos manter com boa saúde e tentar otimizar esse tempo confinado para desenvolver outras ferramentas e competências, considerando os limites de ficarmos isolados - explicou Jean.

O encontro que bateu o martelo nesta terça-feira, em Tóquio, contou com as presenças de Thomas Bach, presidente do COI; Shinzo Abe, primeiro-ministro do Japão; Yoshiro Mori, presidente do Comitê Organizador Tóquio-2020; a ministra olímpica, Seiko Hashimoto; o governador de Tóquio, Yuriko Koike; o presidente da Comissão de Coordenação do COI, John Coates; o Diretor Geral do COI, Christophe De Kepper; e o diretor executivo dos Jogos Olímpicos do COI, Christophe Dubi.

- Sempre tivemos confiança de que o presidente Thomas Bach seria capaz de liderar com serenidade e segurança o Movimento Olímpico nesse momento histórico. Os atletas são o centro das preocupações do COB e do COI e, por isso, a comunidade olímpica do Brasil está bastante satisfeita com a decisão - disse o presidente do COB, Paulo Wanderley.

'Esporte como recuperação da sociedade', projeta Mizael Conrado

Presidente do CPB, o ex-jogador de futebol de 5 Mizael Conrado fez uma projeção otimista diante do adiamento dos Jogos. Ele acredita que os eventos em 2021 marcarão a volta por cima dos países após um período de grave crise.

- Não tenho dúvidas de que o movimento esportivo, principalmente os atletas, darão resposta em reconhecimento ao respeito das organizações aos Jogos de 2021. Transformaremos a capital japonesa na capital do mundo e faremos do esporte um ponto importante para a recuperação da nossa sociedade, tanto do ponto de vista econômico quanto da autoestima dos nossos povos, depois de tão grave crise que nos assola neste instante - afirmou Conrado.

O COI e o Comitê Organizador decidiram que a Chama Olímpica permanecerá no Japão por se tratar de uma “luz no fim do túnel”. Os Jogos manterão o nome de Jogos Olímpicos e Paralímpicos Tóquio-2020. O governo do país foi quem solicitou o adiamento, que foi aceito pela entidade máxima do Movimento Olímpico, em meio a uma forte pressão internacional pela medida.

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