Com 42 times, 2ª divisão da Espanha atrai revelação do basquete feminino

Destaque em 2019 pelo Santo André, Alana Gonçalo vive expectativa de defender o La Salle Melilla e conciliar a carreira na Europa com a participação na fase decisiva da liga brasileira

Alana Gonçalo - basquete
Alana Gonçalo conquistou o bronze na AmeriCup de 2019 com a Seleção Brasileira (Foto: Divulgação/Fiba)

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Em evolução constante e com passagens pelo basquete universitário americano, Alana Gonçalo está pronta para viver a primeira experiência na Europa, onde pretende construir uma carreira sólida, em um momento de dificuldades para o esporte brasileiro.

Eleita a revelação da Liga de Basquete Feminino (LBF) em 2019 e melhor armadora do último Campeonato Paulista, com as cores do Santo André, ela aguarda os trâmites burocráticos para viajar na semana que vem e se apresentar ao La Salle Melilla, equipe da segunda divisão da Espanha.

A paulista de 25 anos faz parte de uma lista crescente de atletas brasileiros atingidos pelas restrições do mercado nacional. Ao mesmo tempo em que deseja ajudar a fortalecer a imagem da LBF, afetada pela crise do novo coronavírus, ela não vê outra saída que não seja o exterior para buscar um lugar na Seleção Brasileira nos Jogos Olímpicos de Paris-2024.

– Jogar pouco durante o ano atrapalha muito no nível internacional. Disputar só 25 jogos em 12 meses é muito ruim. Na Espanha, só na temporada regular eu terei essa quantidade de partidas. O jogo deles é bem mais físico e não tão cadenciado quanto no Brasil. Mas também não é tão acelerado quanto nos Estados Unidos. Quero jogar dessa forma, saber a hora de acelerar e segurar. Acho que vou poder adquirir bastante experiência – falou a atleta, ao LANCE!.

A segunda divisão da liga espanhola traz um atrativo importante na visão de Alana. São 42 equipes na disputa pela taça. A liga brasileira, que já enfrentava dificuldades antes da pandemia, foi iniciada em março com oito participantes. Somados os fatores, é difícil evitar uma debandada para o exterior.

A tendência de saída do Brasil tem sido seguida por outros nomes da modalidade. A armadora Débora, ex-Sesi Araraquara, se transferiu para o Luleå Basket, da Suécia. Outras já atuavam no exterior desde a última temporada, como as pivôs Nádia Colhado, hoje no Gernika, da primeira divisão espanhola, e Clarissa, que assinou com o Izmit, da Turquia.

Nem sempre as propostas de outras nações são as mais atraentes, mas se tornaram uma saída na pandemia. Para muitas atletas que não fazem parte da Seleção e ganham na faixa de R$ 1.500,00, em meio às incertezas do mercado nacional, é interessante fechar um contrato no exterior e receber o equivalente em euros, por exemplo. E no caso de quem já se colocou entre as melhores do país, como Alana, a valorização também é maior lá fora.

– Muitas vezes, não saímos do Brasil para ganhar salários excepcionais, mas temos de fazer escolhas e adquirir experiência para o nosso arsenal no jogo. Não sou da WNBA e meu caminho é longo, mas tudo é construído. Minha ideia é ir para a divisão 1 no ano seguinte – disse a armadora.

Alana Gonçalo - basquete
Alana Gonçalo em ação pelo Brasil (Foto: Divulgação/Fiba)

– Eu me preparei bastante para este ano. Queria muito que fosse tão especial quanto o primeiro, mas, de cara, entendi que havia motivos maiores, de saúde. O coronavírus preocupa, pois o basquete feminino não tem tantos recursos. Alguns times contam com patrocínios, mas outros dependem de prefeituras, que têm gastos altíssimos com saúde. Será que continuarão investindo em outras áreas? – ponderou Alana.

Devido à pandemia, a LBF teve apenas três jogos realizados este ano. Em julho, o torneio foi cancelado e, aos poucos, as equipes se debruçam sobre os preparativos para a próxima edição. A ida para a Espanha, no entanto, não impede que Alana e outras brasileiras voltem ao país a tempo de disputar uma parte da LBF. Isso porque o calendário europeu termina por volta de abril, e o torneio nacional normalmente tem início em março.

– Da Seleção Brasileira, a maioria está indo para fora, seja Espanha, Portugal ou outros países da Europa. Acho interessante. Precisamos jogar mais. Todo mundo percebeu que não dava para ficarmos acomodadas. Tínhamos de acrescentar coisas em nosso jogo.

Alana estreou pela Seleção em 2019, quando conquistou o bronze na AmeriCup e esteve no Pré-Olímpico Mundial. A equipe não conseguiu se classificar para a próxima Olimpíada, em Tóquio, o que não acontecia desde Barcelona-1992. Apesar disso, vem em processo de reconstrução. Em 2019, voltou a conquistar o ouro em Jogos Pan-Americanos, em Lima, depois de 28 anos.

Fora daquele título, a armadora dava seus passos para garantir seu espaço. Nos últimos dois anos, ela buscou atingir seu ápice após sofrer uma traumática lesão no joelho esquerdo, em 2016, nos Estados Unidos. A paulista rompeu o ligamento cruzado anterior e o menisco dois dias antes de assinar com Universidade Baylor, o que representaria um salto como profissional.

– Foi o momento mais duro da minha carreira. Estava sendo recrutada por uma das melhores universidades e acabei me lesionando. A aceitação foi difícil.

Durante a recuperação, Alana enfrentou dificuldades de dobrar a perna e precisou voltar ao Brasil. Chegou a temer pela carreira – disse a atleta.

– Eu estava em uma crescente gigantesca, e a recuperação foi difícil. Comecei a tratar com uma fisitoerpeuta que não conhecia bem. A fisioterapia do Brasil é uma das melhores e lá não é tanto assim, pois usam muita máquina. Eu não conseguia dobrar o joelho. Então, pedi para voltar. 

Mas a confiança voltou e, em 2018, ela se formou em Human Environmental Sciences (algo como ciências ambientais humanas), pela Alumni University of Alabama, com a certeza de que fez as escolhas certas.

– Acrescentou muito no meu jogo para melhor. Aprendi o estilo de jogo e a mentalidade deles. Como, por exemplo, não hesitar tanto na hora de arremessar, ser agressiva no ataque. Não tem que só passar a bola, toda essa coisa que adquiri dos armadores e dos técnicos. Acabamos acreditando no Brasil que o atleta não consegue aliar estudos e competições. É um problema gigantesco aqui, pois é possível sim. Tem de abrir mão da vida social, é claro, Você não vai ter a vida de uma aluna que vai para festas. Mas nunca foi problema para mim. Nota é tão importante quanto o que você faz em quadra.

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