Luiz Gomes: ‘O que foi sem nunca ter sido’

'Não ter sido chamado para a Copa-2014, quando vivia seu melhor momento, talvez tenha sido a maior injustiça sofrida pelo goleiro Fábio no futebol. É algo difícil de explicar'

Fábio - Cruzeiro
Apesar da bela carreira, Fábio teve raras chances na Seleção (Foto: Cristiane Mattos / Light Press / Cruzeiro)

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A carreira é invejável. Pelo Cruzeiro, são dois campeonatos brasileiros, em 2013 e 2014, duas Copas do Brasil em 2000 e 2017 e seis campeonatos mineiros. Antes disso, ele já havia vencido o Brasileiro de 2000, um Carioca e a Copa Mercosul com o Vasco, um paranaense com o Atlético. Por duas vezes conquistou a Bola de Prata da revista Placar como o melhor goleiro do país, e outras duas vezes integrou a seleção do Brasileirão da CBF, escolhido por jornalistas esportivos.

Se um extraterrestre desembarcasse por aqui, e entendesse um mínimo de futebol, certamente diria: esse cara é goleiro de seleção brasileira. E iria surpreender-se ao descobrir que não. Fábio Deivson Lopes Maciel, ou simplesmente Fábio, completa 38 anos este mês em plena forma física e técnica, como tem demonstrado nas campanhas que levaram o Cruzeiro às semifinais da Copa do Brasil e às quartas da Libertadores. Mas nunca recebeu, efetivamente, uma chance de mostrar seu talento no escrete amarelinho. Para ser justo, em 2003, e 2004 até foi chamado por Parreira para o time que disputou a Copa das Confederações e a Copa América. Mas nunca atuou de fato.

De lá para cá, o camisa 1 do Cruzeiro só melhorou, mas foi sucessivamente ignorado por Dunga, Mano Menezes, ironicamente seu técnico atual, Felipão e Tite. E isso em um cenário no qual até figuras que gravitam entre a bizarrice e o folclore, como Alex Muralha, chegaram a ser convocados. Não ter sido chamado para a Copa de 2014, quando vivia seu melhor momento e havia acabado de conquistar o Brasileirão, talvez tenha sido a maior injustiça sofrida por Fábio no futebol.

É algo difícil de explicar.

Fábio foi um habitual frequentador das listas da CBF nas categorias de base. Teve sua primeira convocação em 1996, ainda quando era Sub-19. Disputou, no ano seguinte, como goleiro titular, o campeonato mundial da categoria, realizado no Egito, título que o Brasil conquistou em boa parte graças a duas defesas milagrosas que fez na final contra Gana, assegurando a vitória de 2 a 1. Dois anos depois, foi titular da seleção Sub-20 no Mundial de 1999, na Nigéria, quando o Brasil acabou eliminado nas quartas de final pelo Uruguai, em uma campanha abaixo da média. Virá daí o seu carma? É ruim de acreditar.

Para a torcida do Cruzeiro, a situação do goleiro não chega a ser uma novidade. Nos anos de 1960 e 1970, um outro ídolo do clube, Dirceu Lopes, foi maltratado pelos técnicos da seleção brasileira, em que pese ser considerado à época um dos maiores meia-atacantes em atividade no país. Seu talento rendeu-lhe o apelido de Príncipe. Ao lado de outro gênio da bola, Tostão, e de craques como Piazza, Zé Carlos e Natal, formou um dos maiores times brasileiros de todos os tempos. Habilidoso e veloz, “do alto” de seus 1m62 de altura, levava os rivais à loucura ao arrancar pelo meio de campo com a bola dominada até a área adversária, vencendo os marcadores com dribles desconcertantes.

Dirceu Lopes, contudo, fez apenas 19 jogos com a camisa amarelinha. Com João Saldanha no comando da seleção, o cruzeirense era nome certo para a Copa do Mundo de 1970, a Copa do Tri, no México. Mas foi cortado quando Zagallo assumiu. O Velho Lobo, que levou Dario Peito de Aço, numa convocação quase 50 anos depois ainda mal explicada, preteriu o craque celeste sob a alegação de que havia "muitos jogadores para a sua posição". Era um fato. Tinha Pelé, inclusive, mas outros eram piores do que ele.

A convocação de Dedé para a seleção de Tite, num momento de jogos decisivos na Copa do Brasil e na Libertadores, provocou indignação dos cruzeirenses. Assim como o Flamengo não queria ceder Paquetá, o Corinthians, Fagner, e o Grêmio, Everton. Mas, curioso, o que se viu em relação a Fábio quarta-feira no Mineirão, quando o time de BH eliminou o Flamengo da Copa do Brasil, foi um sentimento contrário: os 45 mil torcedores não abriram mão, como tem sido em todos os jogos, de protestar contra “o boicote” ao goleiro. “Fábio, sua seleção é o Cruzeiro”, resumia um cartaz exibido na arquibancada. Um amargo consolo.

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