Luiz Gomes: ‘Convocações de Tite e Jardine só afastam torcedor da seleção’

Colunista do LANCE! analisa as convocações das seleções principal e olímpica do Brasil

Tite / André Jardine
Tite e Jardine convocaram as seleções brasileiras (Montagem LANCE! com fotos de Lucas Figueiredo/CBF)

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É curioso o futebol brasileiro. Aqui, quem organiza as finanças, investe em talentos da base ou repatria e contrata jogadores, monta um time para disputar títulos acaba por ser punido. É o que se vê agora com o Flamengo. O Rubro-Negro carioca, em plena disputa da Copa do Brasil, do Brasileirão e da Libertadores pode ficar, ainda que a CBF prometa mexer nas tabelas, até quatro jogos sem quatro dos seus principais jogadores, convocados para as seleções principal e olímpica do Brasil.

O caso do Flamengo não é único, como se sabe. Palmeiras, São Paulo, Red Bull Bragantino e Grêmio, todos com dois jogadores convocados, Fluminense, Atlético-MG e Athletico, com um cada um, também foram desfalcados pelas listas da CBF. E tudo isso exatamente quando a temporada começa a ganhar ritmo e importância com o término dos estaduais.

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Tite e André Jardine estão errados em convocar os que consideram os melhores? É óbvio que não. Estão rigorosamente cumprindo o papel que lhes foi designado. O erro é outro. O erro é o calendário jabuticaba, essa coisa esdrúxula que ano após ano continua a trazer prejuízos para o futebol tupiniquim. A insistência, por exemplo, de ocupar três meses da temporada com essas disputas deficitárias esportivamente insignificantes que são os estaduais, cujo único objetivo, hoje em dia, é garantir uma boquinha para as federações.

Fossem respeitadas por aqui, como ocorre em todo o mundo civilizado da bola, as chamadas datas Fifa, e torcedores estariam vibrando como a convocação de seus craques como acontecia antigamente. Rubro-negros estariam zoando os rivais pela supremacia do clube entre os convocados. Mas o que se vê, na prática, é exatamente o oposto; os desfalques em jogos importantes só aumentam a irritação e o distanciamento entre a camisa amarela e quem gosta de futebol.

Passa pela cabeça de alguém que o Barcelona, o PSG ou o Real Madrid – que por vezes tem mais de 10 jogadores de seu elenco globalizado convocados ao mesmo tempo para seleções ao redor do mundo - sejam obrigados a entrar em campo pelas ligas nacionais ou pela Champions em uma semana de data Fifa? É óbvio que não!


Além do mais, a conta que se faz nesses momentos, pelo número de jogos em que os times brasileiros ficarão desfalcados de seus talentos, é simplista e ilusória. O prejuízo é muito mais do que duas ou três partidas sem eles. Há o treinamento que é interrompido, prejudicando o trabalho dos treinadores, há o desgaste provocado pelas longas viagens, pelo fuso horário, há o risco de contusões – como tantas vezes já se viu em reapresentações. Tudo isso tem um impacto dentro de campo e, em última análise, nos cofres dos clubes. Um absurdo total.

Quem mantém girando a roda do futebol são os clubes. São eles que despertam paixões, que levam o público aos estádios, que revelam e, acima de tudo, pagam os salários dos astros do espetáculo. E a conta é cada vez mais alta quando se quer ter uma equipe competitiva. Já passou da hora de serem, então, respeitados. Mais do que isso, passou da hora da cartolagem, dos dirigentes exigirem respeito da CBF. No futebol como na política, não deveria mais ter espaço para o adesismo, para os conchavos fisiológicos do toma lá dá cá. Isso pode dar resultados a curto prazo, mas pode ser uma sentença de morte lá na frente.

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