Nas Eliminatórias da Ásia, o Iraque encara o Emirados Árabes em um duelo de ida e volta e sonha com voltar à Copa do Mundo após 40 anos. A equipe do Oriente Médio soma uma participação em Mundiais, que foi em 1986, no México.

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Com quase nenhum nome conhecido, o Iraque bateu na trave duas vezes por uma vaga direta para a Copa do Mundo. Na 3ª fase das Eliminatórias, a equipe ficou em 3º lugar no Grupo B com apenas um ponto a menos em relação a Jordânia, que já está classificada para o Mundial de 2026.

E na 4ª fase das Eliminatórias da Ásia, o Iraque ficou na 2ª colocação do Grupo B com o mesmo número de pontos da Arábia Saudita, que se classificou para a Copa do Mundo por ter marcado mais gols. Apenas o líder da chave avançava diretamente para o maior torneio de futebol.

Retorno ao México após 40 anos?

Caso conquiste uma classificação, o Iraque pode ter a oportunidade de voltar a jogar no México, que é um dos países sede da Copa do Mundo de 2026. O local é marcante por ter sido o lugar em que a nação do Oriente Médio disputou seu único Mundial, em 1986.

Na ocasião, o Iraque não teve um grande desempenho, tendo três derrotas em três jogos contra México, Paraguai e Bélgica. No entanto, um retorno poderia dar uma nova perspectiva aos jogadores e ao país em busca de construir uma nova história.

Zidane Iqbal comemora gol da vitória do Iraque sobre a Indonésia (Foto: Divulgação)

Relação entre Iraque e Estados Unidos

Além do México, a Copa do Mundo ocorrerá em maior proporção nos Estados Unidos, que é um país com quem o Iraque possui uma relação geopolítica um tanto quanto conturbada. Uma classificação da equipe do Oriente Médio geraria uma grande repercussão, principalmente por conta da Guerra do Golfo e da invasão norte-americana ao país em 2003, que culminou na morte de mais de milhares de civis.

Em entrevista ao Lance!, Vitor de Pieri, professor associado do Instituto de Geografia da Uerj, declarou a relação entre Iraque e Estados Unidos como conturbada. As sanções econômicas geradas após a Guerra do Golfo, a dependência do petróleo e a invasão ao país do Oriente Médio por conta das acusações de uma espécie de filiação entre Saddam Hussein e grupos terroristas fez com que a situação entre as duas nações piorasse.

- Na época do Saddam Hussein, ele passou por algumas guerras, como a Guerra do Irã-Iraque, que foi bem sangrenta, bem longa, que durou de 80 a 88. A Guerra do Golfo, que foi após a presença do Iraque no Kuwait, gerou sanções econômicas importantes e abalou bastante a economia do país. Uma das questões que complica um pouco o tema da economia do Iraque é a dependência absoluta do petróleo. Quando você não tem já o controle do petróleo, você não consegue encontrar meios de solucionar crises econômicas. Você não tem diversidade do ponto de vista econômico no país. Os Estados Unidos acabaram utilizando o 11 de setembro como desculpa de que o Saddam escondia, que apoiava no seu território grupos ligados ao terrorismo. Então, os Estados Unidos invadiram o Iraque e teve aquela guerra, que destruiu completamente a estrutura do país, o que sobrou de estrutura após a Guerra do Golfo. Isso gerou uma completa instabilidade do ponto de vista político-econômico do país.

A invasão dos Estados Unidos ao Iraque ocorreu em meio a um novo cenário internacional, em que a China se expandia e a Rússia buscava recuperar o protagonismo após a queda do Muro de Berlim. Vitor de Pieri alertou para o crescimento de conflitos e partir desse período e de como o país do Oriente Médio era tratado como chave por estar entre o Irã, inimigo da maior economia do mundo, e a Jordânia e Israel, que são aliados da nação da América do Norte.

- O Iraque é interessante porque além das reservas de petróleo, ele está numa posição geopolítica importante. Ele serve, de certa forma, como um Estado tampão entre o Irã, que é inimigo dos Estados Unidos, que é um desses atores que ressurgiram nessa nova ordem internacional, e países aliados dos Estados Unidos, como a Jordânia e até mesmo o Israel. Então, é importante ter o controle, muito além do controle das riquezas, do petróleo, mas do ponto de vista estratégico. De impedir a expansão de influência do Irã. E da China também. Após o fim da ocupação dos Estados Unidos, que foi saindo aos poucos de lá, o Iraque se reorganizou do ponto de vista institucional, mas existe muita dificuldade de o país voltar a se estruturar. O Iraque tinha um IDH muito alto. E hoje em dia é um país completamente desestruturado. É um país que enfrenta problemas de corrupção endêmica, temas relacionados à instabilidade política. É palco da disputa entre Irã e Estados Unidos, especialmente. Então, o Iraque está tentando se reerguer, está tentando se situar no sistema internacional,  a partir de uma aproximação da China, que é o principal mercado.

Projetando uma participação do Iraque na Copa do Mundo, Vitor de Pieri vê com desconfiança a entrada de torcedores nos Estados unidos. Além disso, o professor da Uerj alerta para o preconceito cultural que possa existir no Mundial de 2026.

- Eu acho que a Copa do Mundo nos Estados Unidos vai ser complicada e deve trazer vários problemas. O passaporte iraquiano não tem facilidade para entrar em nenhum país, imagina nos Estados Unidos. O brasileiro já está enfrentando dificuldade. Eu acho que, possivelmente, a islamofobia vai aflorar, porque a gente vive num contexto de guerra cultural pelo mundo. Então, a guerra cultural faz com que esse tipo de preconceito aflore na sociedade. Enfim, pode ser que existam problemas relacionados ao trânsito de iraquianos no país.

Nos dias 13 e 18 de novembro, o Iraque encara os Emirados Árabes em confrontos de ida e volta, que serão realizados no Catar. A equipe do australiano Graham Arnold busca voltar a uma Copa do Mundo após 40 anos e, talvez, encontrar os Estados Unidos em embates esportivos, embora o político, cultural, social e econômico estejam intrinsicamente presentes.

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