O Flamengo apresentou, na última segunda-feira (10), à CBF um conjunto de propostas para a criação do Sistema de Sustentabilidade do Futebol (SSF), modelo brasileiro de fair play financeiro que está sendo discutido por uma comissão formada pela entidade. Diante do cenário, o jornalista Sérgio Xavier Filho questionou alguns pontos levantados pela diretoria rubro-negra.
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Durante o programa "Seleção Sportv", dos canais Globo, desta terça-feira (11), o comentarista destacou que o Flamengo, e outros clubes, estão focados apenas nos próprios problemas. Sérgio Xavier Filho destacou a importância dos times nacionais se unirem.
- Essa pra mim é a prova de que o Flamengo não está interessado em resolver as questões do futebol brasileiro. Se quissese, ele sentava em uma mesa com outros dirigentes de clubes brasileiros para ouvir e conversava. Mas ele não está fazendo isso - iniciou o jornalista, antes de completar.
- Enquanto os dirigentes não se derem conta que não vão resolver os problemas individuais sozinhos, e não vão, pois vivemo em coletivo. É uma grande burrice. Olha para a Inglaterra, pro esporte americano, todos em liga, resolvendo coletivamente os problemas. Mas o Flamengo, Palmeiras, São Paulo, ninguém está querendo resolver. Todos querem focar apenas nos próprios problemas - concluiu.
Sugestões apresentadas pelo Flamengo
Entre as propostas apresentadas, o Flamengo defende restrições a clubes em recuperação judicial, controle total dos custos, bloqueio de brechas contábeis, criação de indicadores de caixa mínimo, limitação de transações entre partes relacionadas, adoção de ratings de governança e sanções esportivas eficazes, como perda de pontos e restrição de janelas de transferência.
O presidente explicou que o clube montou um grupo interno para tratar do tema, coordenado por Marcos Motta, e destacou dois eixos centrais: padronização das regras e punições imediatas para quem não cumpri-las.
— Apresentamos várias sugestões. O primeiro ponto é criar um arcabouço comum a todos os clubes. Hoje, cada um está em um estágio diferente, é como se um estivesse no Enem, outro no ensino fundamental e outro no primário. O segundo ponto é que deve haver consequências imediatas para quem não cumprir as regras. Se não dá para punir o jogador, que é um trabalhador, então o clube precisa ser punido de forma imediata. Com perda de pontos, suspensões, até rebaixamento em caso de reincidência. No futebol, não deve ser diferente — afirmou.
O Flamengo também propõe a criação de um "Teste de Proprietários e Dirigentes", com critérios de idoneidade e capacidade financeira, e a proibição do uso de gramados artificiais em torneios profissionais, argumentando que o custo desigual de manutenção e os impactos físicos sobre os atletas geram desequilíbrio.
O exemplo
Luiz Eduardo Baptista citou a trajetória recente do Flamengo como exemplo de reestruturação financeira e de boa governança.
— Houve um tempo em que o clube era o problema: não cumpria compromissos trabalhistas, sociais nem comerciais. Em 2012, o Flamengo devia três vezes e meia o seu faturamento anual — faturava R$ 200 milhões e devia R$ 750 milhões. O clube se reestruturou, parou de contratar, abriu mão de investimentos e seguiu um plano consistente de longo prazo. Hoje todo mundo quer ser o Flamengo, mas poucos querem pagar o preço que o Flamengo pagou — disse.
— Recuperar reputação é um processo lento. O Flamengo levou cinco, seis anos de muito trabalho para se reconstruir. Fizemos ajustes internos, corrigimos falhas, reformamos o estatuto, e hoje ele prevê sanções para atos de irresponsabilidade fiscal — completou.
Transição, punição e fiscalização
O presidente também reforçou a necessidade de que o sistema seja aplicado com mecanismos de transição e punições durante a temporada.
— Esse movimento da CBF é muito bem-vindo, mas precisa ter dois elementos: transição e punição imediata. Os clubes não podem ser 'reprovados' apenas no fim do ano. Devem ser avaliados ao longo da temporada, com mecanismos de checagem e penalidades progressivas, como perda de pontos, que façam refletir. Há o campeonato do ano, mas existe um campeonato mais importante: o do futebol brasileiro como produto — declarou.
O custo da reestruturação
Segundo Bap, a mudança estrutural tem um preço alto, mas é o caminho necessário para o fortalecimento do esporte.
— O Flamengo pagou cerca de R$ 4,5 bilhões em 13 anos de obrigações, sem correção. Atualizado, esse valor chega perto de R$ 5,8 bilhões. Agora imagine se o Flamengo tivesse sido só '50% correto' e usado metade desse valor para contratar jogadores. Seria justo com os outros clubes? — questionou.
— O que vai fortalecer o futebol brasileiro é mais clubes fazendo o mesmo: se organizando, pagando dívidas, sendo sustentáveis. Temos qualidade técnica de sobra, e com estrutura o campeonato ficará ainda mais equilibrado e emocionante — completou.
Faturamento e resultado
O presidente rubro-negro encerrou destacando o momento financeiro do clube e a importância de equilibrar resultados esportivos e gestão responsável.
— Estamos muito perto do maior faturamento da história do clube. Mas o futebol é caprichoso: ainda temos muita coisa pela frente: Brasileiro, Libertadores, tudo em disputa. Se me perguntassem se eu trocaria R$ 200 ou R$ 300 milhões por esses títulos, eu diria que sim, na hora. Mas o resultado financeiro também é importante, porque mostra que é possível cumprir todas as obrigações e ainda assim investir no time — disse.
O Flamengo reafirmou que continuará participando das discussões sobre o Sistema de Sustentabilidade do Futebol e elogiou a CBF pela iniciativa de estabelecer um modelo nacional de Fair Play Financeiro. Confira a nota do clube na íntegra.