Além de solução financeira, SAFs podem resgatar imagem desgastada de clubes, avaliam especialistas

Novo modelo pode, além de restaurar a saúde financeira, 'ressuscitar' imagem de equipes frente ao mercado publicitário e atrair contratações de peso

John Textor e Jorge Braga - Botafogo
John Textor, dono da SAF Botafogo, e Jorge Braga, CEO do clube carioca (Foto: Vítor Silva/Botafogo)

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Ao mesmo tempo que surgem como uma preciosa alternativa para viabilizar a saúde financeira dos clubes, as Sociedades Anônimas do Futebol podem também entrar em campo para ressignificar por completo a imagem e o posicionamento de marca das entidades esportivas no Brasil. Caso mais emblemático disso é a maneira com que o Botafogo, agora pertencente ao norte-americano John Textor, tem vivido dias de “lua-de-mel” com o seu torcedor e , principalmente, como se reposicionou no mercado da bola. Além do Glorioso, o Cruzeiro já adotou o modelo e Vasco e Bahia já aprovaram a autorização para iniciar os tramites.


Se antes preterido pelas duras dificuldades financeiras e esportivas que vivia, o Botafogo passou a ser visto como grande oportunidade para atletas e profissionais de ponta do cenário brasileiro, casos de Lucas Piazon, que retornou da Europa após anos rodando por Inglaterra, Holanda e Portugal, além de Patrick de Paula, que deixou o bicampeão da Libertadores Palmeiras, e Tchê Tchê, recém-chegado do atual campeão brasileiro Atlético-MG. Soma-se à essa leva o treinador português Luis Castro, que deixou um contrato milionário no mundo árabe para atender o convite de John Textor.

O CEO do clube, Jorge Braga, explica como a transição da equipe para a SAF Botafogo foi fundamental para atrair esse novo perfil de profissionais.

-Muitas das nossas contratações, inclusive o nosso treinador, só aceitaram o convite porque entenderam que, através da SAF, o projeto do Botafogo passou a ser um projeto global. Tudo o que SAF representa se torna atrativo: que é o choque de gestão, o poder de investimento, salários em dia, projeção esportiva internacional.

Braga faz o contraponto da situação e enumera também os efeitos “contrários”, se assim podem ser chamados, que a migração para a SAF trouxe ao imaginário do torcedor e do mundo dos negócios.

- Por outro lado, tudo o que a SAF potencializou no Botafogo dá a entender que agora o clube é rico e isso inflaciona o mercado, sem dúvida. A percepção e a expectativa foram multiplicadas por 10, entendemos isso e é o outro lado da moeda que teremos que lidar.

As redes sociais do Glorioso não deixam mentir o quanto a relação do torcedor com o clube foi do “inferno ao céu” em questão de dias após a oficialização da SAF Botafogo. Neste período, foram mais de 1.300 postagens feitas em todas as mídias oficiais do clube, que acabaram rendendo mais de 15 milhões de visualizações em vídeos, 6,8 milhões em engajamento e 96,1 milhões em impressões. Além disso, o Botafogo fechou o mês no Top 10 de quatro redes, em interações entre os clubes do Brasil: Facebook, Instagram, Twitter e TikTok.

Braga comenta como a estratégia do time de comunicação do Bota se alterou radicalmente, principalmente com a chegada de reforços considerados “de peso” pelo torcedor.

- Tem sido uma relação muito interessante com a equipe. Eu estimulo, cobro, nem sempre concordo, mas também dou autonomia e o resultado está aí. Conteúdo original, criativo e com qualidade.

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VALOR NO MERCADO

Toda essa expectativa e movimentação em torno de uma transição para SAF acaba gerando um impacto direto no poder de atração e compra dos clubes no mercado. Seja pelo apelo do público (no caso o da torcida inflamada e esperançosa) seja pela promessa de retorno financeiro e esportivo, a tendência é que os clubes que se transfoRmarem em empresa gerem um impacto direto na sua relação com os negócios. Armênio Neto, especialista em negócios do esporte, analisa:

- Todo clube é uma marca e toda marca tem história e atributos valiosos. No caso de um clube de futebol, a falta de competitividade ao longo do tempo causa impactos que enfraquecem torcida, receitas e, por fim, faz com que a história seja sinônimo de passado, não de força. Do mesmo modo ao contrário, sucessos recentes tendem a deixar a marca do clube mais valiosa e confiável. Tudo isso está na balança e é colocado em questão no momento de fechar negócio e trazer bons valores - avaliou Armênio Neto.

O especialista também ressalta que a SAF tem impactado sim na percepção da imagem de clubes que há aderiram ao modelo, mas que só isso não basta para se tornar atrativo no mercado.

- A SAF traz essa percepção de o clube não passará por dificuldades financeira e, por isso, se torna mais confiável e mais valioso. Mas não é fórmula mágica. Seja empresa ou associação, o que é determinante para o sucesso financeiro e também esportivo é a governança do clube. A SAF traz esse pressuposto de que o dinheiro fará tudo funcionar, mas a execução é a chave real do sucesso.


ASPECTO FINANCEIRO

Em questão de reestruturação econômica, que irá garantir ao clube uma retomada no poderio de investimento e atração, Juliana Biolchi, diretora geral da Biolchi Empresarial e advogada especialista em revitalização de empresas e negociações complexas, revela o que torna o modelo Sociedade Anônima uma saída atraente para os clubes.

- A Sociedade Anônima do Futebol (SAF) se enquadra em um regime à parte, que é um subtipo de sociedade anônima, especificamente criada e pensada para o futebol, constituindo alguns requisitos específicos. Um desses requisitos é justamente a renegociação de dívidas. A Lei 14.193, que criou a SAF, tem um tipo de alongamento de dívida cujos termos são específicos para ela, o Regime Centralizado de Execuções (RCE). O RCE é uma fórmula, que, aplicada à capacidade de geração de caixa da SAF, pode viabilizar o pagamento das dívidas acumuladas pelo clube.

- Além do regime centralizado de execuções, a legislação brasileira, por meio da Lei 11.101, que regula os instrumentos voltados para a crise empresarial, permite outras formas de alongamento das dívidas, que são a recuperação extrajudicial e a recuperação judicial. Para cada caso, haverá, a escolha adequada. Tudo vai depender do balanço dívida x caixa. Na maioria o interesse em comum é a profissionalização no futebol e a transformação do clube em um negócio sustentável, sendo assim, pelas vantagens que a SAF oferece, é a melhor alternativa para qualquer clube - completou a especialista.

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