Eleições Botafogo 2020 – Alessandro Leite: ‘Eu não conheço nenhum presidente profissional’

LANCE! publica entrevistas com os candidatos à presidência do Alvinegro; representante da chapa "Todos pelo Botafogo" explica projetos e dá visão sobre o clube

Alessandro Leite - Botafogo
Alessandro Leite vai disputar o pleito do dia 24 de novembro (Foto: Vítor Silva/Botafogo)

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O presidente do Botafogo para o quadriênio 2021-2024 será decidido no próximo 24, em votação realizada na sede de General Severiano. Desta forma, o LANCE! inicia uma série de entrevistas com os candidatos à principal cadeira do Alvinegro visando informar as principais propostas e ideias dos envolvidos.

O entrevistado desta quinta-feira é Alessandro Leite. A Chapa Ouro, chamada de "O Botafogo de Todos", tem como vice-presidente Jorge Magdaleno. O L! fez as mesmas perguntas para todos os candidatos, visando manter o equilíbrio no momento da entrevista, e publicará as matérias em ordem alfabética.

Confira a entrevista com Alessandro Leite, da Chapa Ouro:

Qual é a sua relação com o Botafogo?
- É um amor de longa data que eu herdei do meu pai. Desde que me entendo por gente sou um botafoguense saudável. Até porque não existe botafoguense doente, todos os botafoguenses são saudáveis. E também consegui transmitir essa paixão que foge do nosso controle para o meu filho, mesmo com toda a dificuldade que encontramos no caminho, mas consegui cumprir essa missão. Ainda me considero de uma geração que foi mais difícil que qualquer outra. Nasci em 1970 e só gritei campeão em 1989. Depois de passar por essa aprovação foi mais do que suficiente para poder afirmar que o Botafogo é algo que está correndo no nosso corpo junto com o nosso sangue.

Como surgiu o interesse de ser presidente?
- Ainda muito jovem eu entrei de sócio-proprietário. Em um primeiro momento apenas para frequentar e colaborar com o clube, naquela época não tinha sócio-torcedor, então a gente ajudava indo aos jogos e sendo sócio. De alguns anos para cá me aproximei da política do clube. A vida na arquibancada, apesar de ser muito difícil, é bem mais fácil para aqueles que estão lá dentro gerindo o clube. Existem erros e acertos, mas a grande maioria daqueles que doaram seu tempo e suor para o Botafogo na condição de dirigente o fizeram na melhor das intenções, visando sempre um clube mais forte. Isso fez com que eu me aproximasse da política e agora lançasse a candidatura, pensando em ajudar o clube de alguma forma na parte executiva. Obviamente que um presidente sozinho não vai a lugar nenhum, é preciso de uma grande equipe atrás de você e que a torcida saiba da realidade do clube, de como as coisas funcionam. Eu vejo a transparência como primordial para qualquer gestão.

O que você acha do possível advento da Botafogo S/A?
- Somos totalmente favoráveis ao projeto. Vejo como sempre primordial para que aconteça. Botafogo precisa lutar contra o tempo para que esse projeto saia do papel e efetivamente venha a ser atuante. Essas pessoas que já se disponibilizaram a cuidar desse assunto são de extrema competência e acredito que, tão logo esse processo eleitoral termine, essa questão do clube-empresa terá um oxigênio para poder seguir. É de fundamental importância que o futebol do Botafogo tenha uma administração separada do restante, vai tornar tudo mais fácil, ou menos difícil. Não podemos nos iludir e achar que o Botafogo vai contratar grandes nomes do futebol mundial no dia seguinte. Vai ser uma gestão muito centrada, visando sanear todas as dívidas, ter um elenco competitivo, com muita responsabilidade.

Por que se candidatar para uma eleição com "menos valor", visto que, na teoria, o presidente terá menos peso nas decisões do que um CEO?
- Talvez esse entendimento seja equivocado. Talvez tenha um pouco menos, pouco mesmo, de dor de cabeça. Com a S/A, o Botafogo precisa fiscalizar esse contrato com a empresa. O clube vai repassar tudo envolvendo o futebol ao clube-empresa. É necessário que esse contrato seja fiscalizado para não corrermos o risco que esse projeto não seja da forma que estejamos esperando. Volto a dizer que não é algo para sonhar com um Mundial no ano seguinte, mas sim para uma reestruturação do clube. Mas a responsabilidade do presidente do Botafogo, além de tocar o clube e não criar novas dívidas, será a fiscalização do contrato da S/A. É primordial.

Como salvar o clube com uma dívida que chega perto do passivo de 1 bilhão de reais?
- É preciso muito trabalho, criatividade e responsabilidade financeira. É um controle muito maior do que nós já tivemos até hoje. Talvez o próximo presidente terá dificuldades enormes, principalmente em relação a torcida, que pode continuar não entendendo como o Botafogo há tempo não ganha um Brasileiro ou uma Copa do Brasil. Até para que o clube possa realmente se reinventar nesse momento, levando em consideração o momento econômico do mundo, é algo difícil. Não há facilidade para nada, seja em relação para encontrar investidores, patrocínios, no que diz respeito aos alugueis de alguns imóveis que têm. Todos foram drasticamente reduzidos ou até suspensos. O novo presidente vai ter esse desafio. Ter uma austeridade financeira acima do normal, vamos precisar ter mais criatividade, cuidado ao fazer uma contratação, pesa muito na folha os atletas. Nossa folha já é enxuta perto de outros grandes clubes, não podemos estar arriscando muito. Os tiros têm que ser certeiros. É necessário um serviço de inteligência para a busca de novos talentos.

Alessandro Leite - Botafogo
(Foto: Divulgação)

Quais são os projetos para aprimorar a sede de General Severiano, que atualmente é alvo de críticas dos torcedores pela falta de reparos?
- A gente tem um dos melhores pontos do Rio de Janeiro. A gente olha para um lado e vê o Cristo Redentor, olhamos para o outro e vemos o Pão de Açúcar. Isso não tem preço. Com a saída do futebol, com o projeto de clube-empresa saindo do papel, a gente espera revitalizar aquele espaço e colocar em votação para saber o que pode ser feito com o campo de futebol. Talvez ali pudéssemos criar quadras polivalentes, campos Society para ter escolinhas de futebol, uma infinidade de projetos buscando parcerias com a iniciativa privada. Poderíamos ter salão de festas, salão de jogos, lounge de videogames, salão de beleza... Algo que pudesse corresponder realmente a tudo que o sócio deseja encontrar dentro do clube. É o sócio chegar de manhã e ter atividades que ele pratique e fique por ali o dia inteiro sem precisar buscar nada na rua.

A torcida reclama da falta de profissionalismo do clube em vários setores. Você concorda?
- Em tese eu concordo. Por que em tese? A gente fala em profissionalização... “Ah, é uma gestão amadora”. Gestões no Botafogo são amadoras. As pessoas não-profissionais ali, até porque não podem ser. Eu não conheço nenhum presidente profissional. Em todos os setores do clube existem profissionais atuando, o que acontece e a gente precisa fazer disso uma bandeira é que, por exemplo, obviamente, o VP Jurídico precisa ser advogado, e assim suscetivelmente. Em certo aspecto isso já existe no clube. A nossa ideia é realmente contar única e exclusivamente com pessoas da sua área de atuação profissional para ajudar na gestão de determinado departamento. Ela vai fazer a ponte. O presidente não entende de todos os segmentos, ele precisa de alguém entenda muito da área comercial, que será o braço direito dele. Ele vai facilitar a informação, vai ver como a coisa está funcionando e traduzir de uma forma onde o gestor principal entenda se está funcionando ou não. Quando se fala em profissionalização é algo que, na verdade, já existe, mas entre os funcionários, não entre o presidente e o vice-presidente.

Caso eleito, qual será a prioridade da gestão?
- São tantas prioridades que fica difícil escolher uma. Obviamente terá toda uma transição para saber dos principais tópicos a serem solucionados e negociados e para que possa escolher, de fato, o que será atacado primeiro. Hoje, eu posso dizer que o principal alvo seria a continuidade do projeto do clube-empresa, verificando os dois que estão em andamento e qualquer possibilidade de acontecer, e um fortalecimento e a formação imediata de um departamento de captação, que seria responsável por trazer projetos incentivados, isso desonera o clube de vários setores. A gente pode direcionar um dinheiro aplicado em diversas áreas e com toda a tranquilidade. Uma das principais metas seria a criação desse departamento para captar todo e qualquer projeto incentivado que a gente pudesse fazer parte. Paralelemente, claro, o comercial ficaria fortalecido e traria dinheiro novo para o clube.

Como vai funcionar a política envolvendo jogadores de base?
- Uma das principais fontes de receitas do clube passa pela base. Não podemos negar ou querer que isso não ocorra. O Botafogo vem formando bons atletas e, infelizmente por ainda não ter acontecido um aporte financeiro, acaba obrigando o clube a fazer uma negociação. A ideia é que não ocorra. Quando você tem a tranquilidade financeira para negociar um atleta você pode abrir mão de diversas ofertas que não te interessam e focar apenas na que for do interesse. O ideal é que não seja necessário, mas a realidade não é essa. Não dá para fazer mágica, às vezes temos que abrir mão de jogadores de extrema qualidade até para não perder outros.

Botafogo sofre para conseguir patrocínios há muito tempo. Onde o clube falha e você tem alguma conversa com alguma empresa, caso eleito?
- Eu não considero que seja exclusivamente uma falha do clube o fato de não ter um patrocinador master. Seria muito fácil pegar qualquer empresa e jogar na camisa por um valor bem abaixo do mercado. Talvez o Botafogo conseguisse isso, mas assim nós estaríamos diminuindo a nossa marca. O Botafogo tem um valor histórico muito grande e não dá para abandonar isso. Não é porque hoje o clube está mal no campeonato que simplesmente não vale nada. A camisa do Botafogo pesa muito, o clube arrasta muitos torcedores ainda. A gente precisa valorizar isso. Existem, obviamente, empresas que a gente vem fazendo contatos. Não é nada simples. Patrocínio em camisa não é algo que traz tranquilidade financeira para qualquer clube. É uma ajuda grande, mas realmente precisamos focar em trazer um grande patrocinador master para o Botafogo. O clube precisa recuperar a imagem. Nesse ponto, acho fundamental a participação da torcida. Quanto mais engajada a torcida ficar com o clube mais a marca fica valorizada e atrai mais patrocinadores. As empresas veem que o Botafogo dá retorno. Os empresários buscam muito mais a presença da torcida nas redes sociais do que propriamente no estádio, então é muito importante. Acho que não é algo difícil de se conseguir, a torcida já deu várias demonstrações de apoio, basta saber como direcionar para que a gente possa atingir novos objetivos.

Você tem pretensão de retornar com os times de basquete e vôlei? Quais os projetos para os esportes olímpicos?
- Não só representa algo maior do que propriamente ele é em si, um bom time de basquete ou vôlei, não representa apenas isso. As pessoas reclamam que não dá muito público. Existe algo muito maior por trás, principalmente na divulgação da marca. É claro que hoje o clube não poderia contar com um grande time de basquete como aquele de anos atrás. Com um trabalho focado, e aí novamente entra o setor de captação, não é tão difícil que a gente consiga recursos suficientes que a gente consiga um time bem forte, seja de vôlei, basquete, natação e, principalmente, o remo, que tenho um carinho enorme e jamais pode ser abandonado, precisa ser valorizado e também vai ser abraçado por esse setor. A ideia é que eles voltem com total responsabilidade financeira. Eu entendo que tem um retorno muito maior do que propriamente um título.

Você acha que o futuro CT é necessário?
- É essencial para que a gente possa ter um trabalho integrado, principalmente visando a base. Daremos um salto de qualidade muito grande na formação de atletas e, em pouco tempo, vai render frutos grandiosos demais para o clube. Não tem como mensurar o quanto isso seria de vital importância. Se pudesse concluir hoje essa obra, seria um facilitador muito grande. Não só para o próximo presidente, mas os próximos. Será um salto de qualidade que as pessoas ainda não têm noção mas vão verificar na prática.

Caso eleito, como você espera se relacionar com os irmãos Moreira Salles?
- É de suma importância que, após a posse, que se sente com eles para que esse projeto possa ser dada a continuidade. Nós sabemos que aquilo foi uma idealização praticamente vinda deles, ajudaram demais o Botafogo. Ninguém melhor do que eles para continuar ajudando nesse sentido e dar sequência no trabalho que já foi feito até agora. Mas isso passa por esclarecer alguns pontos, ter uma apresentação formal, até porque a gente não conhece, quero fazer essa aproximação, quanto mais próximo melhor. O Botafogo já precisou muito deles e ainda precisa. São botafoguenses extraordinários e tenho certeza que jamais iriam viras as costas para o clube.

Recado para a torcida
- Só reafirmar que, caso eleito, conto com o apoio da torcida, dos sócios e de todos os botafoguenses. Acho que o momento é de agregar e não separar. O Botafogo precisa de união para que as coisas possam ser facilitadas para ,Quem sentar naquela cadeira a partir do dia 1 de janeiro. É fundamental que todos estejam alinhados nesse sentido e visando sempre o fortalecimento da marca, do clube, o engrandecimento e só alegrias daqui para frente. Tirar uma vez por todas esse estigma de que é o botafoguense é sofredor. O botafoguense precisa ter o amor correspondido.

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