Medalhista olímpica joga sem salário para ajudar time de ‘desempregadas’

Bronze em Sydney, Erika adia o fim da carreira para apoiar o técnico José Roberto Guimarães em tentativa de voltar à Superliga por Barueri, mesmo sem patrocínio

Erika e José Roberto Guimarães (Foto: Vitor Ricci/Ford Sports)
Erika lidera a equipe de Barueri, em parceria com o técnico José Roberto Guimarães (Foto: Vitor Ricci/Ford Sports)

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Quando o anúncio do fim da carreira nas quadras já parecia iminente, um telefonema mudou a vida da ponteira Erika Coimbra. Medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos de Sydney (AUS), em 2000, com a Seleção Brasileira, a mineira virou mulher de confiança do técnico José Roberto Guimarães em uma difícil empreitada para voltar à elite do vôlei nacional.

Aos 36 anos, ela é a maior estrela do Barueri (SP), que a partir de segunda-feira disputa a Taça de Prata. O torneio classifica os dois primeiros colocados para a Superliga B, divisão de acesso ao principal campeonato de clubes do Brasil.

O problema é que ainda não há patrocinadores comprometidos a pagar os salários e demais despesas do elenco. O treinador mantém conversas com empresários que possam viabilizar um projeto de longo prazo. Enquanto isso, um grupo de atletas sem emprego aceitou jogar sem receber.

O grande trunfo do tricampeão olímpico, além de seu currículo, é um Centro de Treinamento que ele projetou na cidade paulista, com ginásios, academia, quartos e toda a estrutura de ponta que uma equipe de alto rendimento necessita.

– A causa é nobre. Estou aqui pelo amor ao esporte. Mas esperamos que apareçam patrocinadores. Afinal, todas temos de pagar contas, né? (risos) – brincou a jogadora, que diz ter recusado propostas de Rússia, Polônia, Romênia e Azerbaijão, após se comprometer a ajudar o treinador.

– Foi uma surpresa boa, pois eu estava sem jogar desde a última Superliga, por Bauru. Já pensava em parar e fazer projetos sociais em Lagoa Santa (MG) para 2017. A ligação dele me fez repensar – afirmou a atleta.

Será só mais um capítulo da parceria entre a ponteira e Zé Roberto. Juntos, eles faturaram os títulos do Grand Prix, em 2004, e da Superliga 2004/2005, pelo Finasa/Osasco. Também viveram a traumática derrota na semifinal dos Jogos de Atenas (GRE) para a Rússia, quando o Brasil desperdiçou cinco match points.

O Barueri tem hoje 11 jogadoras: as levantadoras Ana Cristina e Rosane, as ponteiras Erika, Suelle e Ariele, as centrais Fernanda Isis, Paula Barros e Vivi Goes, a oposto Sara e as líberos Michelle e Dani Terra. Parte da comissão técnica é composta por profissionais da Seleção, como o assistente Wagner Coppini, o Wagão.

A Taça de Prata conta com Barueri, Sada/Betim (MG), Bradesco (SP), Brusque (SC), Telemaco Borba (PR) e Maringá/Famma/Amavolei (PR).

Clima ‘familiar’ motiva a atleta

A chegada de Erika a Barueri, há 15 dias, aconteceu de forma corrida e inusitada. A ponteira contou que recorreu até à esposa de Zé Roberto, Alcione, para cuidar dos cabelos.

– Ele me ligou em uma quarta-feira, e no sábado já estava aqui. Como vim na correria, acabei esquecendo de trazer meu secador de cabelo. Mas vivemos como uma família. Pedi para a Alcione, sua esposa, e ela me emprestou. Dormir de cabelo molhado não dá, não é? – contou a jogadora.

Se falta dinheiro, sobra colaboração. E ela garante que o sentimento não fica restrito às atletas e à comissão técnica.

– Eu recebo dicas de manicure e tem até um cabeleireiro que vem aos domingos cuidar das meninas. Há muita gente comprando a causa. As pessoas estão comigo. Estou vivendo tudo o que quero viver – disse Erika.

BATE-BOLA
Erika Coimbra
Ponteira do Barueri, ao L!

‘O Zé me deu uma motivação a mais. Espero jogar mais dois ou três anos’

LANCE!: Como foi a conversa com o Zé Roberto para você aceitar jogar na equipe sem receber salários?
Erika: Foi por telefone. Eu avisei logo: “Zé, estou há oito meses sem jogar”, mas ele disse que se eu participasse, ainda teria o que acrescentar ao vôlei. Ele falou que se eu apenas largasse e passasse na mão, já estaria bom (risos). Zé me deu uma motivação a mais. O projeto é lindo. Sei que não é todo mundo que aceitaria. Mas estamos muito felizes.

L!: Vocês estabeleceram algum prazo para esperarem a chegada de um patrocinador no time?
E: Não. Sabemos que propostas começarão a surgir com a Superliga em andamento, mas, no momento, estamos focadas em conseguir esta vaga. Queremos usar isto para que as empresas ajudem nosso esporte.

L!: Caso o projeto tenha futuro, você planeja seguir jogando?
É uma honra trabalhar com o Zé. Sei que ele vai me colocar em uma super forma novamente. Tenho esperança de jogar mais uns dois ou três anos.

L!: O time já ficou conhecido na cidade? Você sentiu algum retorno?
E: Estou aqui há 15 dias, mas minhas redes socais estão bombando. A torcida ficou feliz. Sempre existe quem critica, mas a maioria tem me dado apoio total. Meus fãs me motivam para eu aceitar ficar longe de casa e até comprar o voo com meu dinheiro.

L!: Como é a estrutura do clube?
E: É um CT que já existe há anos. Quando eu estava na Seleção, em 2002 e 2003, ficávamos aqui. Tem tudo: ginásio, piscina, quadras de tênis, vôlei de praia, vários quartos com sala, banheiro, refeitório e até sala de TV.

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