Aposentado, Emanuel defende mais jogos para os brasileiros até Tóquio

Multicampeão relembra parceria com a esposa e ex-jogadora Leila durante a carreira, admite 'conflito' entre gerações e diz que só chegou ao alto nível por ter jogado muito

Vôlei de Praia - Emanuel (Fotos: LANCE!Press/ AFP)
Emanuel deixou as areias como atleta, mas continuará nos bastidores do esporte (Foto: LANCE!Press/ AFP)

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Será inédito para público, atletas e jornalistas assistir a uma edição de Jogos Olímpicos sem a presença do campeão Emanuel. Aposentado após a disputa do Grand Slam do Rio, nesta semana, o ex-jogador tem no currículo participações em todas as Olimpíadas desde que a modalidade entrou no programa, em Atlanta-1996. Por isso, ele diz estar curioso para a Rio-2016.

Na segunda parte da entrevista exclusiva de Emanuel ao LANCE!, o medalhista de ouro em Atenas-2004, ao lado de Ricardo, conta o que fará no Rio, em agosto, fala sobre a parceria com a esposa e ex-jogadora Leila durante anos de abdicação da família, relembra o "conflito" de gerações na modalidade e avalia as perspectivas do vôlei de praia no futuro.

Na visão do paranaense, será preciso que a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) priorize oferecer um número maior de campeonatos aos atletas para que a modalidade continue dando medalhas ao país nos próximos ciclos olímpicos.

A Rio-2016 será a primeira edição de Jogos Olímpicos sem Emanuel desde que o vôlei de praia entrou no programa. Onde você estará desta vez, fazendo o que, assistindo a quais esportes?
Muita gente, até a Leila, me perguntou isso. Será a primeira vez que verei uma Olimpíada de forma diferente. Antes, eu tinha de entrar ali e apenas treinar, jogar, me alimentar, descansar e dar entrevista só naquele horário. Agora, terei uma liberdade. Vou curtir um pouco mais, entender o que é o processo olímpico, como a organização, seja o COB ou o COI, funcionam em uma área de pressão com essa. Está despertando a minha curiosidade sobre como é a Olimpíada sem estar na quadra. Estou curioso para entender esse mundo.

Quem é próximo de você sempre enfatiza o quanto você abriu mão do tempo com a família para chegar aonde chegou. Qual foi o papel da Leila e da família na sua decisão de parar?
Sempre acreditei que, sendo 100% atleta, você também dá orgulho para as pessoas de quem gosta. Eu dava a ela e aos filhos um retorno daquele investimento que era o fato de não estarmos tanto tempo juntos. A Leila é secretária de Esportes do Distrito Federal há dois anos. É mais um projeto. Eu falei para ela "quero que você também tenha sucesso no que for fazer. Se você tiver sucesso, ficarei feliz". Não tenho aquela rigidez de achar que se não estiver junto o tempo todo não dá certo. Acho que as pessoas devem aproveitar as oportunidades de serem bem sucedidas. Meu filho Mateus, de 18 anos, fez um ano de Educação Física e agora está fazendo Fisioterapia. Incentivei, e vi que ele ficou feliz. As mudanças são necessárias. Eu abdiquei de todo o tempo para hoje ter tranquilidade e investir na vida deles.

Nos últimos anos, você era um jogador de 40 anos, campeão olímpico, um atleta que já havia ganhado tudo o que podia, no meio de um monte de jovens, viajando com eles pelas etapas do Circuito Brasileiro, convivendo com outros no Circuito Mundial... Como foi assumir esse papel?
Tem alguns fatores interessantes. Ao olhar para a nova geração, eu me vi no início da carreira. Na época, com 17 anos, quase todo mundo era mais velho. Eu tinha audácia, queria melhorar para alcançá-los. Hoje, vejo que os outros querem me igualar. Lembro de uma conversa que tive com o Fred, ex-jogador de praia da minha geração (e hoje atleta da Seleção Brasileira de vôlei sentado), que tinha começado a formar dupla com atletas jovens enquanto eu já estava com o Ricardo (de 41 anos). Ele me falou: "Emanuel, nós temos de nos tornar amigos desses caras, conversar sobre o que eles gostam, porque somos os últimos da geração. Senão, daqui a pouco não vamos ter com quem conversar nas etapas (risos)". É o que acontece, há uma seleção natural. Em um grupo, os leões velhos, no outro, os leões novos.

Na parte física, você nunca teve grandes problemas, né?
Acredito que sou um cara muito dedicado, o que faz com que me prevenisse de lesões. Aprendi há muito tempo que a preparação física é o que leva o atleta a lugares maiores. Acho que meus melhores amigos foram sempre os equipamentos de academia (risos). Eu não ia só para estar lá, mas para melhorar. O reflexo em minha carreira é que nunca tive lesões crônicas.

Como vê o vôlei de praia nos próximos anos em termos de resultados, medalhas?
Já vejo uma movimentação grande de uma nova geração. Os talentos aparecem naturalmente, não tem como forçar. Mas o vôlei de praia exige que se jogue muito para evoluir. A tendência deve ser a CBV dar mais campeonatos aos jogadores. É preciso imaginar 2020, ver quais atletas chegarão lá em idade ideal e fazê-los entrar em quadra o máximo possível. Comecei cedo e joguei muitas vezes. Foi o que me fez chegar ao meu nível.

Acha que o Circuito Brasileiro precisa ser estendido? Alguns atletas reclamaram do baixo número de etapas neste ano...
São duas temporadas, praticamente. Você joga de agosto a abril no Brasil para depois começar o Circuito Mundial, de abril a agosto. Já é pesado, então não sei se precisaria estender. Porém, acredito que, dentro do formato atual, o rendimento de alguns brasileiros no Circuito Mundial não é tão efetivo. Isso já deixa uma dúvida.

QUEM É ELE

Nome
Emanuel Fernando Scheffer Rego
Nascimento
15/04/1973, em Curitiba (PR)
Altura e peso
1,91m/80kg
Conquistas
Medalhista de ouro nos Jogos de Atenas-2004, prata em Londres-2012 e bronze em Pequim-2008; tricampeão mundial (1999, 2003 e 2011); dez vezes campeão do Circuito Mundial (1996, 1997, 1999, 2001, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007 e 2011); nove vezes campeão do Circuito Brasileiro (1994, 1995, 2001, 2002, 2003, 2006, 2008, 2011 e 2014/2015).

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