Valdiram grava oração contra queda do Vasco e lembra seu auge no clube


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Foi no Vasco onde ele alcançou o auge. Em 2006, Valdiram era idolatrado. Mas o atacante sucumbiu ao mundo das bebidas e das drogas e quase morreu. Livre da dependência, operou o joelho direito e busca evolução física no... próprio Cruz-Maltino, que lhe abriu as portas. Em janeiro, ele estará pronto, e espera merecer um contrato para, dez anos depois, continuar sua história em São Januário. Enquanto isso não acontece, ele, após entrevista ao LANCE!, rezou para que a equipe consiga escapar da queda no Brasileiro. Veja abaixo!


Valdiram ainda mira um título com a camisa do Vasco, o que não aconteceu por pouco há dez anos. Em 2006, ele foi barrado do time titular às vésperas do jogo final na Copa do Brasil contra o Flamengo, e acredita que o Cruz-Maltino teria sido campeão se ele tivesse entrado nos 11 iniciais. Um problema extracampo chegou ao conhecimento do técnico Renato Gaúcho, que optou por Valdir Papel na vaga do então titular. Mas o escolhido foi expulso ainda no início do jogo, dificultando mais ainda a vida do Vasco, pois primeiro jogo terminara 2 a 0 para o Rubro-Negro.

- Era meu sonho ser titular naquela final contra o Flamengo. Se eu jogo desde o começo, o Vasco era campeão. Eu vinha no auge, ninguém estava me parando - lembra Valdiram, que saiu do banco naquela decisão quando Valdir Papel já estava expulso e pouco conseguiu fazer. No fim, o Flamengo venceu por 1 a 0 e foi campeão.

A primeira passagem do atacante, que hoje também é pastor, por São Januário, foi um sonho realizado. Ao defender o Vasco, ele cumpriu uma profecia.

- Mesmo quando não tinha o conhecimento da palavra, era uma criança com muita fé. Recordo-me que, na Copa do Mundo de 1994, meu tio falou: "Valdiram, você ainda vai jogar com Romário. Passados 18 anos, isso se cumpriu - comemora.

Se acabou privado de estar, desde o início, naquela final de 2006, a etapa anterior da Copa do Brasil foi o ponto alto da carreira do atacante. Contra o Fluminense, um gol decisivo, e que não sai da memória.

- Havia 95 mil pessoas no antigo Maracanã. Aos 35 minutos do primeiro tempo, o Wagner descarrega a bola, tabela com Edílson Capetinha e eu estava na marca do penalti. A bola veio para mim e eu olhei para o maracana lotado. A trave ficou pequeninha. Eu disse: "E agora, meu Deus?" Ajeitei para a esquerda, depois tive que ajeitar para a direita e pedi: "Entra, senão a torcida do Vasco vai me matar!" Num Vasco x Fluminense, perder um gol daqueles seria uma responsabilidade muito grande. Fechei os olhos e chutei com muita força. Quando vi a bola entrar e a rede balançando, corri para o abraço. Foi uma emoção muito grande, o gol da classificação. Depois desse jogo, não tive mais paz. Foi o gol da minha vida - recorda, com riqueza de detalhes.

Por que, depois de se estabilizar na igreja, você resolveu tentar voltar ao Vasco?
Retornei ao Vasco porque algo tem que se cumprir nesse lugar, para que a nação vascaína possa ver aquele futebol. Porque o dom que Deus dá, ninguém toma. Satanás tenta tirar, mas o dom das minhas pernas, de jogar futebol, de driblar, fazer gols, eu ainda tenho. E esse dom vou colocar para fora, para que a torcida possa ver.

Como você tem lidado espiritualmente com esta volta?
Foi Deus que me colocou neste caminho. Ele falou bem assim para mim: "Olha, vou abrir as portas para você operar o joelho e voltar para o futebol. Mas ai de você de não glorificar meu nome. Ou ai de você se envergonhar meu nome! Porque eu faço subir e descer a sepultura. A porta que eu fecho, ninguém abre. A porta que eu abro, ninguém fecha." Deus ressuscitou os mortos das covas dos leões, então, de forma alguma, eu posso voltar para o futebol e envergonhar o nome dele por um copo de cerveja, por um samba, um pagode. Sei que vão me oferecer tudo isso de novo quando eu voltar a jogar.

Como foi a sua chegada ao Vasco, em 2006?
Eu estava no Esportivo (RS) e ia para o Internacional, campeão do mundo com Abel Braga. O ataque era Fernandão e Rafael Sobis. Mas meu empresário recebeu uma proposta do Vasco. Houve um jogo contra o Grêmio, e o Esportivo de Bento Gonçalves é um time pequeno. O Estádio Olímpico estava lotado, e o Renato Gaúcho estava naquele jogo. Meu empresário falou: "Você crê que pode jogar com Romário?" Eu, com 22 anos, falei era meu sonho. Eu era o artilheiro do Campeonato Gaúcho: sete rodadas e oito gols. Estava numa fase... Fui destaque naquele jogo, fiz golaço no Danrlei. Calei o Olímpico e, quando acabou o jogo, ele falou: "Você está vendido para o Vasco da Gama. Arruma suas coisas porque nós vamos viajar, agora, para o Rio de Janeiro".

E os primeiros dias no Vasco?
Cheguei, assinei contrato e ainda não estava acreditando. Treinei segunda-feira e, na terça, estouraram as notícias da acusação de estupro. Falei: "Nem joguei e já tem essas notícias... vou acabar voltando. Amanhã vou para o vestiário de que forma?" No outro dia, Eurico (na primeira passagem como presidente) mandou me chamar na sala dele e e me perguntou o que eu sabia fazer. Eu respondi que só sabia jogar futebol. Daí ele disse: "Então o resto é resto. Quem vai tomar conta sou eu. Pode ir para o vestiário" Treinei segunda-feira e terça-feira sem ver Romário. Chegou quarta e cadê Romário? Quinta, nada. Na sexta-feira eu vi o Baixinho e a lágrima desceu, o meu coração quebrou e se confirmou o que meu tio havia falado 18 anos antes. Quando eu cheguei perto, pedi para dar um abraço nele.

As acusações de estupro contribuíram para você cair no mundo das drogas?
Não, elas nunca atingiram meu coração, nem espiritualmente. Eu não deixava entrar porque eram acusações mentirosas.

Como você reagiu ao ficar no banco naquela final e entrar somente quando o time já tinha um jogador a menos?
O próprio Romário, antes do jogo, falou: "Doido, você é o cara." Respondi: "O cara não sou eu, o cara é você. Maior orgulho estar do seu lado." Para até o Romário reconhecer, é porque, realmente, naquela época, eu estava sendo o cara. Ficou todo mundo triste. Romário, Edílson... Pedi até para o Edílson falar com o Renato Gaúcho para eu não ficar fora. A responsabilidade seria minha. Ele falou, mas o Renato não quis me colocar para jogar. Mas não tenho mágoa.

Como você resume sua passagem pelo Vasco?
Fiz uma história. Fui artilheiro da Copa do Brasil e pude jogar ao lado de craques consagrados no mundo inteiro, como Romário, Edílson, Ramon. Poder vestir essa camisa é um orgulho muito grande. Torcedores dos quatro cantos do Brasil e do mundo não acreditam. Viram Valdiram chegar no fundo do poço, ao mundo das drogas, depois de ter conquistado toda a fama. Tudo que um jovem hoje quer é fama, carro importado. Tudo isso eu conquistei, mas faltou o conhecimento da palavra. Eu não tinha ainda. Mas, em João 8, capítulo 32, está escrito: "Conheceis a verdade, e a verdade vos libertará.

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