Autor de livro sobre o Vasco e jingle que embalou a Copa de 94, Aldir Blanc morre aos 73 anos

Compositor e escritor vascaíno estava internado com COVID-19 em hospital na Zona Norte do Rio de Janeiro. Seu cancioneiro deixa diversas músicas que abordam futebol  

Aldir Blanc
Aldir Blanc compôs cerca de 500 músicas, com diversos parceiros em sua trajetória (Foto: Fabrício Tadeu / Divulgação)

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O mestre-sala da Música Popular Brasileira saiu de cena. Aldir Blanc morreu na madrugada desta segunda-feira, aos 73 anos. Ele estava internado com COVID-19 no Hospital Pedro Ernesto, em Vila Isabel na Zona Norte do Rio de Janeiro, com quadro de saúde considerado grave.  A informação foi divulgada pela Rádio Tupi.

Apaixonado pelo Vasco, Aldir deixou como legado o livro "A Cruz do Bacalhau", que escreveu em parceria com o jornalista e historiador José Reinaldo Marques para a Coleção "Camisa 13", da Editora Companhia das Letras. Além disto, o compositor fez, ao lado de Tavito, "Coração Verde e Amarelo", tema da Rede Globo que embalou o tetracampeonato mundial da Seleção Brasileira, em 1994. 

Nascido no Rio de Janeiro, no bairro do Estácio, em 2 de setembro de 1946, Aldir Blanc Mendes chegou a fazer faculdade de Medicina e especializou-se em Psiquiatria. Porém, sua ligação com o Movimento Artístico Universitário (MAU), do qual participaram artistas como João Bosco, Ivan Lins, Gonzaguinha e César Costa Filho fizeram com que Blanc passasse a se dedicar exclusivamente à música, na qual deixou um vasto acervo, com cerca de 500 canções.

Sua trajetória contou com uma duradoura parceria com João Bosco, capaz de render canções memoráveis como "O Bêbado e A Equilibrista" (que se tornou um dos hinos da Anistia), "Mestre-Sala dos Mares", "O Rancho da Goiabada", "Corsário", "Bala Com Bala", "Dois Pra Lá, Dois Pra Cá", "Agnus Sei" e "O Ronco da Cuíca".

Também são de sua autoria "Resposta Ao Tempo" (com Cristóvão Bastos e consagrada na voz de Nana Caymmi), "Querelas do Brasil" (feita em parceria com Maurício Tapajós e consagrada na voz de Elis Regina), "Amigo É Para Essas Coisas" (sucesso do grupo MPB-4, com Silvio Silva Junior, "Catavento e Girassol" (parceria com Guinga e destaque na voz de Leila Pinheiro) e "Coração Pirata" ("hit" do grupo Roupa Nova e que tem Nando como seu co-autor). 

O compositor também emplacou temas de novelas, como "Suave Veneno", "Coração Agreste" (em "Tieta"), "Mico Preto" e "Chocolate Com Pimenta". Sua lista de parceiros traz nomes como Cristóvão Bastos, Wagner Tiso, Moacyr Luz, Ivan Lins e César Costa Filho.

'ESSA DOENÇA: SER VASCO DA GAMA'

A Cruz do Bacalhau
Livro "A Cruz do Bacalhau" fez parte de coleção da Editora Companhia das Letras (Divulgação)

Conforme escreveu em "Febre Vascaína" (poema publicado na revista "Placar" e posteriormente no livro "A Cruz do Bacalhau"), sua paixão pelo clube da Colina teve início na conquista do Campeonato Carioca de 1956. Além de recordar em seus versos o momento em que "o goleiro do Bangu bobeou e Vavá marcou" e escalar a equipe de Bellini, Coronel e Sabará, ele detalhava:

"Naquela tarde, aos dez anos, não esquecerei:
Fui para a Rua dos Artistas
Me gripei, caí de cama,
Doido, com 40 graus
Encolhido dentro de um pijama
Contraí esta doença: ser Vasco da Gama"


O REPERTÓRIO DO ESPORTE

O futebol começou a fazer parte da safra de Aldir como compositor em sua parceria com João Bosco. No disco "Caça À Raposa", "De Frente Pro Crime" mostrava o futebol como pano de fundo de uma discussão. A primeira frase se tornou jargão do narrador Januário de Oliveira.

O LP "Galos de Briga", também de João Bosco, tinha como faixa de abertura "Incompatibilidade de Gênios", que no qual a insatisfação no casamento passava pelo futebol.

No mesmo disco, a faixa "Gol Anulado" relatava a reação agressiva de um torcedor do Vasco ao ouvir sua amada celebrar o gol do maior rival.

Em "Linha de Passe", João Bosco usava o futebol para "narrar" em forma de jogada ensaiada a preparação de um banquete.

A ligação com o futebol também constou em uma parceria de Aldir Blanc com o rubro-negro Djavan: "Êxtase".

Porém, em 1994 Aldir Blanc escreveria, ao lado de Tavito, uma de suas canções que ganharam maior projeção entre os apaixonados por futebol. Tema da Rede Globo para a Copa do Mundo daquele ano, "Coração Verde e Amarelo" embalou a conquista do tetracampeonato da Seleção Brasileira.

A canção teve tanto impacto que passou a ser o "jingle" da emissora a cada novo Mundial (com adaptações em sua letra, como "guenta que é penta, Brasil" e até uma versão em russo para a Copa de 2018).

O compositor estendeu seu repertório a outro esporte. Feita em 1986 para o disco "Cabeça de Nêgo" e regravada em 2017 por João Bosco no álbum "Mano, Que Zuêra" (desta vez, em um pout-pourri com a música "Clube da Esquina Número 2"), a música "João do Pulo" reverenciava o atleta. João do Paulo obteve medalhas de bronze no salto triplo nas Olimpíadas de 1976 e de 1980, além de ter conseguido duas medalhas de ouro nos Jogos Pan-Americanos de 1975 e outras duas no Pan de 1979 (tanto em salto triplo quanto em salto em distância).

Em 1981, o atleta teve de interromper sua carreira abruptamente, após sofrer um acidente automobilístico e ter sua perna direita amputada.

No livro "A Cruz do Bacalhau", o compositor e José Reinaldo Marques não se restringiram a recordar os grandes feitos do Vasco. Há espaço para "causos", entrevistas e momentos irreverentes, nos moldes do que Aldir Blanc já mostrara anteriormente em livros como "Porta de Tinturaria" e "Rua dos Artistas e Transversais".

Entretanto, o compositor também manifestou-se em livros como "Guimbas" e "Uma Caixinha de Surpresas" e em textos publicados nos jornais "O Globo" sobre a situação do Vasco e do futebol.

Em entrevista em 2007 a "O Globo", ele foi categórico sobre sua paixão pelo clube:

- Se o Vasco for para a Segunda Divisão, serei Vasco. Se for para a Terceira Divisão, serei Vasco. Se o Vasco acabar, serei Vasco - afirmou.


Aldir Blanc deu entrada no CER Leblon em 10 de abril, apresentando pneumonia e infecção urinária, que evoluíram para uma infecção generalizada. Cinco dias depois, com ajuda de amigos e artistas, conseguiu uma transferência para o Hospital Pedro Ernesto, em Vila Isabel. Mesmo tendo dado sinais de melhora, foi mantido sedado durante o período em que esteve internado.

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