Na volta à Série A, Kleina rechaça rótulo de ‘técnico de time pequeno’


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O Campeonato Brasileiro de 2012 ainda está vivo na memória de Gilson Kleina. Basta tocar no assunto para o técnico do Palmeiras enumerar, por longos minutos, detalhes dos 13 jogos em que esteve no comando do clube na trágica campanha que acabou em rebaixamento.

- A gente acaba de buscar os 2 a 2 e o Diego Cavalieri faz uma defesa incrível no chute do Mauricio Ramos... Aí o Fluminense vai lá, faz o terceiro gol e é campeão brasileiro. Meu santo estava de costas - lamentou, lembrando do duelo que antecedeu o rebaixamento, em Presidente Prudente.

- Contra o Flamengo, foi a mesma coisa. As bolas do Maikon Leite passam do lado da trave e a do Vágner Love desvia no Román, encobre o Bruno e entra... Foi um dos dias mais tristes que passei no futebol - disse Kleina, hoje com 101 jogos no clube, um título da Série B no currículo e mais alguns cabelos brancos na cabeça.

Às 18h30 deste domingo, contra o Criciúma, fora de casa, ele vai reencontrar a Série A disposto a espantar o fantasma. Convencido de que o trabalho tem sido bem feito e de que está deixando um legado positivo para os próximos anos, o comandante quer mais: um título de expressão no ano do centenário alviverde.

Sorridente, ele atendeu a reportagem do LANCE!Net após o treino de sexta-feira, o último antes da viagem a Santa Catarina. Falou dos planos para a temporada, da eliminação para o Ituano, do quão importante seriam as permanências de Wesley, Valdivia e Alan Kardec e das críticas de Vinicius, que saiu para o Vitória dizendo que os garotos da base sempre voltam para o banco.

Veja a entrevista completa:


LANCE!Net: Você está visivelmente mais grisalho do que quando chegou, em setembro de 2012. Isso é culpa do Palmeiras?
Gilson Kleina: Claro que é genética, mas a gente sabe que cabelo branco é sinal de muita entrega e dedicação. Eu vivo o dia a dia do Palmeiras, quero fazer sempre o melhor, resolver as coisas, tentar antecipar... Os cabelos brancos demonstram experiência, aprendizado, e cada vez mais vontade de melhorar. O fato de estar trocando a cor do cabelo não quer dizer que eu não me preocupe com a estética (risos). Mas a princípio não é essa minha preocupação maior. Quero que o Palmeiras estreie bem para a gente fazer um grande campeonato.

Como o Palmeiras é seu primeiro clube grande, é comum ouvir torcedores te chamando de “técnico de time pequeno”. O que acha?
Quando não acontece o resultado vem sempre essa análise, mas é só ver a evolução, tudo o que está acontecendo dentro do Palmeiras. Isso é trabalho, não tem como. Não tenho como mudar a mentalidade de alguém se não colocar uma equipe aguerrida em campo, que tenha organização. Isso aconteceu no Campeonato Paulista, mas em um jogo escapou. A questão não é ser treinador de time grande ou pequeno, é ter conhecimento e capacidade. Eu tento sempre me reavaliar, me modernizar, sempre com conhecimento, sempre entendendo como é o clube.

Você ainda lembra muito do Brasileirão de 2012.
Lembro que caímos em Volta Redonda, revi a imagem essa semana. Cair com um gigante como o Palmeiras gera uma cobrança muito grande, e depois de toda a reconstrução, passa um filme pela cabeça. Sou grato à diretoria por ter deixado as coisas fluírem. Hoje vejo o Palmeiras podendo brigar por qualquer título.

Você chegou para apagar incêndio em 2012. Hoje, vai estrear com o time que montou. Dá para dizer que só agora pode ser cobrado?
Não. Desde o meu primeiro jogo, contra o Figueirense, a responsabilidade já era minha. Nunca me isentei de qualquer resultado ruim. Também participei da queda. Quando a gente veio, gerou-se uma grande expectativa de salvar o clube, mas não aconteceu. Tive minha parcela de responsabilidade. Claro que, pelo tempo, a gente ajustou essa equipe e houve evolução. É mérito de todos.

Sente-se querido pela torcida do Palmeiras como um todo?
Hoje os torcedores vêm falar comigo em uma outra realidade, passam palavras de incentivo muito legais, e a gente vai acabar com toda a desconfiança na hora em que vier um grande título. Espero que neste ano.

A eliminação para o Ituano continua sendo muito citada aqui, tanto por você quanto pelos jogadores. Acha que perderam uma chance de ouro e voltaram à estaca zero?
O título da Série B nos deu um avanço de confiança muito grande, mas não tem como, em time grande você é sempre cobrado por títulos. O torcedor que me cobra pode ter certeza de que eu me cobro muito mais. Não quero só fazer um grande trabalho e deixar um legado, como estamos fazendo, mas dar uma grande conquista para o clube nesse ano tão especial. É o trabalho que dita tudo e espero que continue fluindo. Aquela eliminação para o Ituano, para mim, foi circunstancial: toda equipe que perder três, quatro jogadores, como a gente perdeu, vai ter dificuldade. Lamento, mas ao mesmo tempo fico feliz porque o Palmeiras seria um grande finalista e brigaria de igual para igual com o Santos se as coisas não acontecessem daquele jeito.

Tem notado o Alan Kardec incomodado com a negociação arrastada para renovar o contrato?
Converso com o Alan diariamente. Acredito que, no intímo, incomode. Também passei por um processo de renovação e você começa a pensar em situações futuras, mas ele é altamente profissional. Se depender de mim, quero a permanência. É um dos melhores da posição no Brasil e tem muito a evoluir ainda.

A má situação financeira pode fazer o clube vender Wesley e Valdivia no meio do ano. Se te perguntarem, vai pedir para ficarem?
Se você fizer uma análise a nível técnico, são jogadores que agregam muito e deixam a equipe muito inteligente, com o futebol vistoso. Não posso responder por eles, mas são jogadores que têm muito a dar ainda e que querem vencer dentro do Palmeiras. E o Palmeiras está fazendo de tudo para poder ter esses grandes jogadores. Espero que a gente possa manter. Se depender de mim, a gente quer é reforçar, e não perder. Nós atingimos um nível com esses jogadores, e a equipe hoje tem um convencimento técnico, o que é importante. Mas agora estamos focados nesses primeiros nove jogos, aí tem a parada da Copa. Depois temos que viver outro momento.

Logo que foi emprestado ao Vitória, Vinicius disse que os garotos da base sempre voltam ao banco. Ficou chateado com a reclamação?
Nada! Tenho uma grande parcela na volta dele aqui, virou uma realidade no futebol. Dei muitas oportunidades e fui o primeiro a conversar com ele. Não pense que as coisas foram primeiro para a imprensa e para o torcedor. Eu fui dizer a ele que era o momento de buscar outros ares, fazer uma outra carreira, uma outra trajetória para voltar por cima. Aconteceu com outros jogadores, demos os exemplos. Desde que cheguei, eu o utilizei. Ele, Denoni, Patrick Vieira... Há algum tempo, saiu a estatística no clube de que a gente é a comissão que mais utilizou a base nos últimos anos. Então estou muito tranquilo sobre isso. A gente sabe que a cobrança é muito forte no Palmeiras, e um atleta da casa sabe como funciona. Torço muito por ele e não estou chateado por nada. Sei o que pude fazer pelo Vinicius.

De acordo com a previsão da WTorre, o Allianz Parque estará pronto no fim de junho e o clube poderá usá-lo no Brasileiro. Em que isso pode ajudar na competição?
A gente sabe que a volta do Palmeiras para a sua casa vai dar uma grande identidade à equipe. Para mim, vai ser uma das equipes mais fortes jogando dentro de casa, porque vai ter aquela energia, aquele clima. Não que não aconteça no Pacaembu, mas definitivamente você vai jogar na sua casa. Ainda não tive a oportunidade de conhecer, espero que dentro do destino as coisas aconteçam. O Palmeiras será muito forte.

Você acha que seja necessário contratar quantos reforços para fechar o grupo de jogadores?
Hoje não existe mais esse fechamento do elenco, porque ao mesmo tempo em que jogadores podem chegar, outros recebem propostas e podem querer sair do clube. Hoje a gente sabe que precisa de duas posições, até três. A prioridade é um atacante, um zagueiro e um lateral-direito, para a gente deixar a equipe bem equilibrada e distribuída no mapeamento. Subi os garotos do júnior, o Léo Cunha (lateral-direito) e o Gabriel (Dias, zagueiro). Também pedimos o retorno do Chico (atacante que estava emprestado ao Santo André). Claro que não quero passar toda a responsabilidade para esses garotos, porque a gente sabe o que é Palmeiras e o que é Série A. Mas se for necessário, mais uma vez, estaremos usando a base. E acredito que eles estarão preparados para isso.

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