Verdão perde candidatos a ídolo por economia, mas deixa de ganhar dinheiro


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Barcos, Henrique e Alan Kardec têm algumas coisas em comum. Os três eram queridos pela torcida e lideravam o ranking de venda de camisas antes de deixarem o Palmeiras, nenhum de maneira tranquila. Três candidatos a ídolo que a gestão Paulo Nobre perdeu em nome da austeridade financeira.

A economia tem seus reflexos e pode até causar prejuízo. O programa de sócio-torcedor, apontado pela diretoria como fonte de receita alternativa que minimiza os efeitos da ausência de um patrocinador master, já perdeu cerca de mil cadastrados desde que a possibilidade de Kardec se transferir ao rival tornou-se iminente (o Avanti alega que a oscilação é normal). Há campanhas para mais cancelamentos.

- O programa Avanti é muito importante para o Palmeiras. Se a gente não tivesse 40 mil inscritos (hoje pouco mais de 39 mil), mas 140 mil, a condição financeira seria outra e a possibilidade de investimento também. O palmeirense vai acabar refletindo que cancelar o Avanti é atirar no pé, não vai contra o Paulo Nobre, vai contra o clube do coração - defendeu-se o presidente do Verdão.

A arquibancada também "fala". O Palmeiras não jogava uma partida de Série A no Pacaembu desde novembro de 2012, mas apenas 11.189 pessoas pagaram para ver a derrota para o Fluminense, sábado. E a maioria avisou à diretoria que "com esse time vai voltar pra Série B".

Paulo Nobre disse que precisa trazer jogadores que se tornem ídolos, como Kardec estava começando a se tornar, mas a ideia não é contratar um atleta de nome agora. O próprio Kardec é citado como exemplo, já que chegou sem badalação e deu certo, virando referência do time.

A cúpula negociou com Ronaldinho Gaúcho em janeiro, e pessoas envolvidas na negociação dizem que o acerto ficou por detalhes. A intenção era pagar boa parte do salário com o dinheiro de patrocinadores que seriam atraídos pela imagem dele. Sem um atrativo assim, o clube vai completar um ano sem parceiro. Não gasta, mas deixa de ganhar.

Números:

R$ 5,2 milhões
Valor pago pelo Grêmio por Barcos. O argentino quis sair por causa da seleção após a queda, e os gaúchos assumiram dívidas de quase R$ 3 mi. Leandro, Léo Gago, Vilson e Rondinelly vieram em troca – Marcelo Moreno não chegou.

R$ 10,3 milhões
Recebeu o Verdão por vender Henrique ao Napoli (ITA) – 80% do total, 4 mi de euros (quase R$ 13 mi). O jogador saiu após ter notificado o Palmeiras por uma dívida de R$ 1,2 milhão. Premiação da Série B foi usada para quitar a dívida.

R$ 0
O Palmeiras não ganhou nada na saída de Kardec. O jogador vinculado ao Benfica (POR) foi para o São Paulo. Aliviou R$ 150 mil da folha salarial.

A opinião dos especialistas:

João Henrique Areias, ex-diretor de marketing do Fla:

Todo clube tem como objetivo deixar a sua torcida satisfeita. Isto o deixa mais forte no mercado e vira um círculo virtuoso. Os dois ingredientes para crescer a torcida são: ídolos e títulos.

Os que tem esta vocação, que a torcida se identifica, vendem mais camisas, e o clube precisa fazer de tudo para que permaneçam por lá. Perder o Alan Kardec é perder a possibilidade de aumentar a torcida. Talvez o Palmeiras tenha tido dificuldade para entender isto.

Fora da postura do jogador e de seus representantes nestes casos de saídas de jogadores, eram atletas identificados, com caminho já andado para ser ídolo. Iria beneficiar a imagem dele, e o clube precisa mostrar isto ao jogador.

Ele teria um salário fixo, mas a imagem seria usada baseada em uma idolatria dentro do Palmeiras. No Brasil, poucos sabem fazer este tipo de ação, há um atraso aqui. O Neymar e Santos foi um início. Na Europa, isto é mais comum, os clubes até se unem com o estafe do jogador para criar campanhas que destaquem a imagem deles.


Erich Beting, dono do site Máquina do Esporte e especialista em marketing esportivo

Quando o Barcos saiu, ele era o único cara que o rival tinha inveja por jogar no Palmeiras. Tirar um cara assim é um tapa na esperança do torcedor. E no caso do Alan Kardec mais uma vez fica claro isto: alguém que a torcida gostava, que estava bem com o time, e sua saída distancia o torcedor do clube. Cria a sensação de que não vale a pena torcer.

A sua relação com o consumidor, então, fica fragilizada. Você perde o consumo do seu cliente. E poderia ser usado o pontecial de consumo que ele (Kardec) representava para pagar o salário dele.

Do número de camisas que forem vendidas com o seu nome, número, ou algo assim, ele receberia uma porcentagem. Isto também é fazer produtividade com o jogador, mas não apenas dentro de campo.

Tem que pensar no potencial de receita do atleta. Isto é algo que o Palmeiras ignorou nesta história, e poderia ter feito. Sem ídolo, vai depender do desempenho em campo para atrair torcida, mas com jogadores sem grande qualidade, os resultados não serão tão bons.

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