Pra que chorar, Brasil? Seu Raimundo dá receita para chegar à semifinal


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Raimundo Ramos de Farias tem 53 anos de idade e trabalha há dez como garçom em um restaurante na Avenida Beira Mar de Fortaleza, que se vangloria de ter espetáculos de humor de segunda a segunda-feira, das 21h às 23h. O Fafá, como é chamado, nasceu em Itapipoca, a 120km da capital cearense. Sem berço de ouro, teve mesmo é de ralar para tocar a vida. Já tentou ou fez de tudo um pouco. Como morar em São Paulo e trabalhar como ambulante, como milhões de outros retirantes que tentaram a sorte na maior megalópole do país. O que ele planejou não deu muito certo e ele voltou para o Ceará.

Mas nada que o fizesse chorar. O que ele gosta mesmo, dizem as pessoas que o conhecem, é rir. Ele se diverte durante as apresentações onde trabalha, mas dá mais risadas durante o dia. Principalmente quando ganha as partidas de biriba e cacheta com os amigos, nos poucos minutos disponíveis no dia atribulado que tem.

Ele, como os jogadores da Seleção Brasileira, também tem motivos para chorar, mas são raras as vezes que sentiu tristeza para tanto.

– Quando meu pai morreu no ano passado, eu chorei muito. Na morte da patroa da minha esposa, também ficamos muito tristes e eu chorei. Quando tem uma história assim que me dá depressão, eu choro. Mas é difícil – conta.

Normalmente, seu Raimundo ri. Mesmo que, para a maioria dos brasileiros, tenha motivos para chorar. Dormir pouco mais de três horas por dia para ganhar um salário mínimo, por exemplo, é de fazer chorar. Mas ele ri. Até porque tem as gorjetas que rendem mais do que o salário, ele diz.

Fafá tem cinco filhos. Os três mais velhos já se criaram e saíram de casa. Restaram os dois mais novos, Silvio, de 13 anos, e Renata, 16, na casa onde ele mora com a mulher no bairro de Messejana, a 15km da Avenida Beira Mar. Ele acorda às 6h para preparar o café da manhã e leva os filhos a pé para a escola. Nesse momento, a mulher já saiu, porque vende purificadores de água nas cidades próximas. Fafá volta para casa, tira "duas horinhas de cochilo", acorda e começa a preparar o almoço para as crianças. Depois, tem um intervalo curto para jogar a biriba e a cacheta com os amigos. Que o faz rir, claro, quando ganha.

– Quando eu perco, choro, mas não desse choro que os jogadores choraram no jogo, né? – diz, dando gargalhadas e mostrando a prótese dentária que ganhou.

Depois disso tudo, a mulher já voltou para casa e ele sai, enfim, às 15h50 para começar a trabalhar às 17h. Quando atendeu a reportagem do LANCE!Net, era quase 1h. O bar e restaurante, onde acontecem os espetáculos de humoristas por R$ 30 o ingresso, já estava fechando.

Fafá pegaria o "corujão" da madrugada, que passa a cada uma hora ali perto, e chegaria em casa por volta das 2h em casa se tudo desse certo. Iria pra cama às 2h30.

E acordaria às 6h de novo para começar tudo de novo.

Questionado sobre o fato de os jogadores terem chorado antes, durante e depois do dramático embate com o Chile, ele riu.

– Eles já têm tudo na vida. Pra que chorar? Joguem bola e se divirtam! – perguntou.

E lá foi Fafá levar a conta da última mesa da casa onde trabalha.

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