Peres quer ‘banho de modernidade’ no Santos e demolir e reeguer a Vila

Allianz Parque (Foto: Divulgação)
Allianz Parque (Foto: Divulgação)

Escrito por

Bigode, poucos cabelos grisalhos, vestimenta discreta, na maioria das vezes social. O estilo conservador de José Carlos Peres, típico de um homem de 66 anos, contrasta com o seu discurso como candidato à presidência do Santos. Prometendo um “banho de modernidade”, ele tem projetos ousados, como a demolição da Vila Belmiro para a construção de uma nova arena no local, a adoção de um multipatrocínio no uniforme, o fim da reeleição presidencial e a presença de, pelo menos, três jogadores midiáticos no elenco. Propostas ousadas, mas possíveis segundo o cabeça da chapa Santos Vivo.

Peres foi um dos responsáveis por criar a subsede do Peixe em São Paulo e trabalhou como superintendente do clube entre 2005 e 2009, na presidência de Marcelo Teixeira. Mas o maior orgulho dele como santista veio em 2010, quando viu a CBF unificar os títulos nacionais de 1959 a 1970 com o Brasileirão, tornando o Alvinegro oito vezes campeão nacional, após trabalho de uma década de Peres.

Atualmente executivo do G4 Paulista, empresa que negocia pelos quatro grandes clubes de São Paulo, Peres fundou a ONG Santos Vivo há cerca de 15 anos, mas sempre se manteve como chapa branca. Porém, mudou de ideia de uns tempos para cá. Com o sonho de ser presidente, batalhou para conseguir formar sua chapa, buscou sócios interessados a ingressar no Conselho e surpreendeu a muitos que não acreditavam que ele estaria no pleito. A surpresa maior ele espera proporcionar no dia 6 de dezembro, nas urnas. Confira abaixo a entrevista que o candidato deu na redação do LANCE!:

A ONG Santos Vivo sempre se apresentou como apolítica, o que fez você mudar de ideia e se candidatar?
Eu não sou mais presidente da ONG, eu não ocupo nenhum cargo lá há alguns anos. A ONG continua neutra e pediu para que todos os candidatos apresentassem o plano de gestão. Eu fiz isso, a ONG achou interessante, agregou ideias dela, e ela apoia a chapa Santos Vivo, mas está aberta a todos candidatos. Na campanha não uso o cadastro da ONG, mas sim o meu pessoal e o dos meus amigos dos tempos da ONG.

Ser presidente do Santos demanda tempo e também uma condição financeira estável. Você tem isso?
Não tenha a menor dúvida. Eu me preparei e já sou aposentado. Acumulei patrimônio para ocupar a presidência do Santos por três anos e não mais que isso. Até os 69 anos posso me doar ao clube e não tenho nenhuma pretensão do poder pelo poder, quero o poder para modificar, trazer ao clube minha experiência de vida e dentro do futebol. Dentro do futebol conquistei muitas amizades, e não só com os quatro grandes de São Paulo. Não se esqueça que eu fiz a unificação dos títulos brasileiros, que estavam fadados a serem esquecidos para sempre. Em um trabalho de dez anos, consistente, montamos um dossiê, quebramos resistência de clubes que não tinham nenhum título a restituir e conseguimos uma coisa que era utopia. Hoje o Santos tem oito títulos brasileiros. Mas onde quero chegar? Tenho experiência em todas essas andanças no futebol brasileiro.

Você falou em mandato de apenas três anos, sem reeleição. Esse é um compromisso seu ou apenas uma ideia?
Sim, está dentro do meu plano de gestão. Eu não só não vou concorrer à reeleição, como quero excluir essa possibilidade do estatuto. Isso é um compromisso. Quero essa mudança estatutária e também administrativa. Além disso, comigo conselheiro não vai ter cargo no clube. Queremos moralizar o Santos, dar um banho de modernidade e trazer ao Santos inovação no futebol. Mas não só o Santos, pois sozinho não vamos mudar nada. Mesmo se não for eleito, quero montar uma associação de clubes para que o futebol seja inovado. Começa e termina o ano e os campeonatos são os mesmos, não há inovação, e isso esvazia os estádios.

Quais são seus projetos a curto prazo?
Janeiro, fevereiro e março serão meses terríveis, começaremos a trabalhar em dezembro já. O que faremos? Arregaçar as mangas e trabalhar. Estou montando um Comitê de Gestão - porque o estatuto determina - e lá terá gente muito importante, que fez a vida e fez um império. Gente que começou do nada, diferentes daqueles que assumiram o Comitê na gestão do Luis Alvaro, pois ali eram bancários, ninguém cuidava do seu próprio negócio. Hoje estou montando uma equipe que cuida do seu negócio - que não são pequenos - e não precisam do Santos, podem doar três anos da sua vida para fazer o Santos um clube auto-sustentável e com uma dívida equilibrada. Nosso plano para a dívida é nos juntarmos a um banco e transferir essa dívida a essa instituição, que vai chamar todo mundo para negociar. Não posso revelar qual instituição financeira é essa, mas é pessoa de inteira confiança. Isso será um divisor de águas.

Por que terceirizar essa renegociação da dívida?
Muito simples. Trabalhei no mercado financeiro por 36 anos e vou explicar: você só renegocia se tem poder de tiro. É a mesma coisa de ir no barzinho da esquina e fazer uma dívida. Depois, como você vai negociar com esse cara? Tem de levar um amigo seu com dinheiro, ele vê quanto é, diminui a dívida com seu poder de negociação e paga. O banco tem caixa. O cara tem 100 para receber e fala "me dá 60, 70 e está certo, assino agora". Se ele fala para mim, não vou ter 60, 70, nada. Como vou negociar? Rolar para frente, com juros absurdos? Então tem que ter um parceiro, com juros bem baixinho, senão você não sobrevive.

Ouvimos no mercado que ninguém quer emprestar dinheiro a clube, com medo de calote. Por que esse banco aceitaria assumir a dívida do Santos?
Credibilidade. Infelizmente falta a nosso clube e a outros. Ninguém quer um parceiro que interrompe contrato, que não cumpre o que deve, que faz negociação e não cumpre o que assina. Viremos com um Comitê de credibilidade no mercado, que tem contas em todos esses bancos, investem nesses bancos...

Eles serão avalistas?
Não, não. Não estamos pedindo avalistas, só iremos transferir essa dívida. E vamos pagar! E vamos fazer uma auditoria também. Faremos uma profunda, com uma empresa de mercado, a nível mundial.

Mas o Santos já fez isso recentemente, e com uma do grupo das quatro melhores do Brasil, o "big four".
O Santos fez uma duo diligência, que é quando a empresa vai lá ver as contas, a quem deve... Nós vamos fazer auditoria, queremos saber o que aconteceu nesses últimos dez anos, e vamos fundo. Se houve alguma coisa errada nesse período e a gente conseguir comprovar, faremos como manda o estatuto: processar para tentar conseguir o dinheiro de volta ao clube. Queremos passar transparência e credibilidade ao mercado, o Santos está precisando.

Há outras medidas que você trata como emergenciais para logo que assumir o clube?
Só vamos saber em janeiro, pois o Santos é uma caixa preta. Não sabemos pra quem devemos, quanto devemos e quanto devemos. Com a auditoria colocaremos o Santos a limpo.

A empresa de auditoria está decidida ou será feita uma cotação?
Sim, e o Santos não pagará um tostão. Tem uma pessoa que vai pagar o próprio bolso, voluntariamente.

Quem é essa pessoa?
Não posso falar, pois ainda não ganhamos a eleição. A empresa de auditoria deve ser a E&Y, que recentemente fez uma auditoria no Santos com várias ressalvas e romperam com ela.

O Santos diz que pagou R$ 400 mil nessa última auditoria. Essa pessoa está disposta a pagar tudo isso?
Muito mais, fique tranquilo.

Você mencionou que tem boa relação com o José Maria Marin e o Marco Polo Del Nero. Acha que o Santos tem de liderar um processo de mudança do calendário do futebol brasileiro?
O Santos lidera mudanças através dos tempos. É o único clube no Brasil que tem essa capacidade de aceitação para ser o líder. Nenhum outro clube, devido a essa rivalidade medonha, aceita seu rival como líder desses processos, mas o Santos sempre é bem-vindo. Eu falo isso por conta da minha vivência na Federação e no G4 Paulista, onde sou CEO. Eles sabem que sou santista, mas me aceitam e ouvem.

O caminho é o do rompimento com a CBF e a criação de uma liga de clubes ou você é a favor de manter a atual estrutura organizacional?
Eu sou sempre a favor de discutir, sentar, ponderar, a fim de ter um bom nível no futebol brasileiro. Vamos conversar com federações, reunir os 12 maiores clubes... A CBF vai comandar o futebol, não queremos passar por cima da entidade, vamos respeitá-la. Mas lembre-se que a Federação Paulista foi fundada pelos clubes, o mesmo com a CBF. Os donos das federações e da CBF são os clubes. Temos de sentar, conversar, ponderar e levar o projeto, como foi na unificação dos títulos nacionais, em que ninguém acreditava no primeiro momento. Depois conseguimos convencer a todos com estatísticas, história e outros dados. Vamos chegar lá com humildade, parceirismo e confiança mútua.

Se eleito presidente do Santos, você deixará o G4?
Se eleito, estarei dentro do G4, não como CEO, mas como presidente do Santos. Serei 25% lá dentro. Deixarei o cargo de CEO, vai ter alguém contratado lá e eu estarei ajudando no que for preciso.

O Santos recebe menos que seus rivais pelos direitos de transmissão de seus jogos e também tem poucas partidas exibidas na TV aberta. Como vê o atual contrato com a Globo?
Só para que o leitor saiba, o G4 foi atuante num processo que colocou o Flamengo e o Corinthians na primeira linha dos ganhos de TV, não só pela torcida, mas porque eles têm uma transmissão ao vivo. Com isso, ele perde receita do pay-per-view. Na segunda linha colocamos o Vasco, o Santos, o Palmeiras e o São Paulo. E depois tem um terceiro grupo. Isso foi o que ficou combinado, que o primeiro bloco ganharia de 25% a 30% a mais. E que do bloco B para o C houvesse também essa diferença. Mas na prática isso ruiu. Quando fiz a negociação do Paulista, operamos com todos iguais no futebol paulista, os quatro grandes ganhariam o mesmo. No Brasileiro eu não participei. Até iniciei junto com o (Luis Paulo) Rosemberg, ex-dirigente do Corinthians, a discussão com a Globo. Mas, de repente, excluíram o Clube dos 13 e a negociação foi feita individualmente. Aí houve distorções no segundo bloco, o Santos ficou por último.

Mas você acha justo Corinthians e Flamengo ganharem mais?
Não digo justo, mas foi o que estava combinado na época. Agora posso te dizer que os clubes têm que sentar e discutir, fazer Corinthians e Flamengo irem para o pay-per-view, para eles não tomarem prejuízo também, e promover um rodízio de transmissão. Aí fica justo. Se não pagar para o Corinthians no modelo atual não fica justo para eles, pois eles ganham pouco com o pay-per-view. Não estive nas negociações, só posso falar pelo que escuto e leio, e tudo isso me preocupa, pois vejo que o Santos ficou abaixo dos demais.

Além de receber menos, o Santos tem pouquíssimos jogos exibidos em TV aberta...
Essa é uma questão que precisa ser mudada. O Corinthians e o Flamengo também estão de acordo, porque se é feito um rodízio eles vão ganhar dinheiro no pay-per-view. Sem falar que é chato ficar assistindo sempre os mesmos times na TV. Isso vai dar mais audiência também, da forma que está vai se perdendo a paixão de assistir a um bom jogo.


Falando agora do futebol: você acredita que terá de fazer muitas mudanças nesse primeiro ano?
A gente tem um estudo em cima do departamento. Só em janeiro vamos saber, é uma caixa preta também. Mas o elenco do Santos tem bons valores, é um time jovem, que precisa de reforços. Queremos ter uma parte do grupo vindo da base, como hoje está montado, ter alguns bons jogadores, revelações - e já estamos correndo atrás deles - e depois mais três atletas midiáticos. Um deles a gente já tem. Diria até dois. O Robinho e o Gabriel. Aliás, eu que levei o Gabrielzinho para o Santos com nove anos.

Como foi isso?
Eu conhecia um treinador chamado Liló, em São Bernardo do Campo. Aí ele me ligou e disse: "Tenho um menino que está indo para o São Paulo e ele joga muita bola". Aí pedi: "traz aqui". Ele passou na nossa sede em São Paulo e, em um determinado momento da conversa, eu perguntei para o garoto se ele tinha interesse em jogar no Santos. Ele falou: "É o sonho da minha vida". O pai me disse que ele era santista doente.

Então por que o próprio Gabriel diz que o responsável por levá-lo ao Santos foi o Zito?
O Zito foi um mito. Ele é meu amigo, levou o Neymar para o Santos, mas ele só tomou ciência do Gabigol depois de muita insistência minha. Ele falava "qualquer um aí tem nível de Seleção, é novo Menino da Vila". Mas um dia consegui pegá-lo e fomos assistir ao treino da Gabriel e ele comprou a ideia, viu que era diferenciado.

Retomando o assunto da montagem do elenco. É possível ter esses três midiáticos?
Vamos reformular o grupo, não tenha dúvida, pretendemos readequar o departamento. Mas isso é para janeiro, não adianta falar agora. Mas a ideia é essa. O midiático a gente vai trazer por meio de investidores. Queremos investidores com ética, transparência, regras determinadas pelo Conselho Deliberativo. Queremos também a participação do sócio, dos torcedores, dos conselheiros...

Já que você falou em investidores, gostaria que comentasse os modelos de parceria com o Doyen Sports e a Teisa. Você é favorável a eles?
Eu sou favorável a esses dois tipos de negócio. Só que a Teisa tinha alguns investidores dentro da diretoria do Santos, isso eu não acho ético. Não estou falando que eles fizeram qualquer coisa errada, pelo contrário, eles ajudaram em algumas questões. Mas isso me preocupou. Por isso a gente proíbe conselheiro de ter negócio com o Santos. Agora falando em investidor de uma forma geral: o futebol não sobrevive sem eles. Nós perdemos dinheiro de arrecadação nos estádios - temos que reconquistar isso - o clube não tem capital para contratar e reforçar o elenco requer agilidade, análise e isso tudo tem que ser feito com critério. Hoje está provado que o investidor trabalha melhor que o clube nesse ponto, ele trabalha em cima disso, jogadores midiáticos, alguns que estão no exterior... Veja, a gente não explora o futebol argentino como deveria explorar. De dez jogadores, três vêm para o Brasil e sete para a Europa. Por que eles não passam por aqui antes de ir para a Europa?

Hoje a direção do futebol profissional está baseada num tripé: André Zanotta (superintendente de esportes), Sandro Orlandelli (scout) e Zinho (gerente de futebol). Como você avalia o trabalho deles e, se eleito, pretende mantê-los?
Eu nem aprecio nem deixo de apreciar o trabalho deles, porque não conheço, são figuras que raramente aparecem. Eu só lamento que contratações sejam feitas basicamente por um scout. Ele não pode falar "pode contratar, eu garanto". Tem que ter elementos para contratar muito acima disso, senão deixa tudo para eles. Assim corremos risco. Um exemplo: tivemos uma contratação milionária que quem decidiu foi o scout, algo inaceitável para um clube da gradeza do Santos.

Quem tem que tomar essa decisão?
Tem que ter um departamento profissional bem afinado com o executivo, o presidente e o vice, que também têm que estar alerta. Ele não precisa sair no mercado procurando jogadores, mas tem que ter o lado crítico dele, saber o que está acontecendo. "Por que eu vou pagar X nesse jogador?" Os profissionais têm que mostrar isso a ele.

Você falou em um profissional "afinado" com o presidente. Já tem essa pessoa definida?
Essa pessoa pode não estar afinada hoje, mas te garanto que será a melhor pessoa para esse trabalho e pode vir do Brasil ou do exterior. É claro que estou falando tudo isso para você e em janeiro ter uma outra realidade, mas a intenção hoje é de ter alguém com muita experiência e credibilidade para tocar o futebol. Queremos montar uma estrutura que funciona.

Você não quis elogiar nem criticar os profissionais que lá estão, mas caso seja eleito trará uma equipe nova?
Não tenha dúvida. Na questão da direção, sim. Mas no plantel e outros departamentos ainda vamos estudar.

Ter uma identificação com o clube é um pré-requisito para ser contratado?
Esse é uma das exigências, mas é preciso ter competência, credibilidade, experiência. Depois disso, veremos se é santista.

Se ele tiver tudo isso e for corintiano, por exemplo, será contratado?
Acho que isso não é problema... Até porque um profissional desse nipe não tem time nenhum. Tanto que você vê, o cara que está no Vasco hoje...

Rodrigo Caetano.
Sim, ele já trabalhou em outros clubes.

Recentemente o Santos teve um superintendente administrativo corintiano, e ele saiu do clube falando que esse fato o atrapalhava, que ele era até boicotado. Para evitar esse tipo de problema, os santistas serão priorizados?
A gente quer contratar santista, alguém identificado com o clube. A maior prova é o Robinho, que de tão identificado até se transforma. A gente quer isso, mas nada impede de ter um profissional do Rio de Janeiro, por exemplo. O profissional no futebol não tem clube. Ele tem que ter competência e dar resultados.

E para a base, que é muito badalada, há pontos a melhorar?
Temos um time abençoado por Deus. O torcedor santista dá muito apoio para o garoto, mesmo jogando mal é aplaudido, o que não acontece em nenhum clube do futebol brasileiro. O problema maior hoje é a falta de alojamento para os garotos, falta de campo de treinamento... A base, nossa fábrica de jogadores, é motivo de orgulho para o torcedor, mas precisamos melhorar, oferecer alojamento, ter um trabalho social para transformar esses jovens em homens. Todos os clubes têm meninos vindos de favelas, que passavam fome, queremos dar apoio a esse meninos e suas famílias. Temos que trazer grandes empresas para trabalhar nessa parte social, dando alimentação, acompanhando o atleta. Tudo isso sem nenhuma participação (em direito econômico), a empresa já vai ter um benefício para sua imagem. Fazer um alojamento, uma casa dos meninos é fundamental. Não aguento mais ir para a Vila e ver aqueles meninos na janela.

A metodologia de trabalho na base agrada? Recentemente o clube dispensou vários atletas. O caminho é esse, trabalhar melhor com menos jovens?
Muitas vezes o jogador que tem qualidade mais apurada quando jovem não chega ao profissional, enquanto outros demoram a brilhar, mas depois despontam. Essa questão de dispensar muitos atletas é preocupante. Não acredito que tinham 100 jogadores que não jogavam nada e estavam lá. Se isso for verdade, é de uma incompetência sem precedentes. Mas acima de tudo é preciso oferecer qualidade, conforto e treinamento intelectual a esses meninos. O garoto está no sub-20 falando em jogar no Barcelona. Temos que dar a eles orgulho de ser santista, dar a eles uma escola dentro do clube com ex-jogadores mostrando o que foi o Santos, o que o clube representa no mundo. Eles têm que entender que já estão em um clube de primeira linha, tem tempo para ir para o exterior. E aí já tem que ter outro menino para trilhar o mesmo caminho. Mas que isso seja com 26, 27 anos, não como o Robinho, novinho, querendo ir jogar no Real Madrid.

Você falou um campos melhores para treinamentos da base. Atualmente, a diretoria estuda a permuta do CT Meninos da Vila, de modo que o clube ficará com um terreno maior, mas numa região menos valorizada. O caminho é esse?
Esse terreno era grande, mas teve um problema, fizeram uma negociação para ter um CT maior e deram parte do terreno. Ali tem um problema sério, ali do lado tem um necrotério. Onde eles usam de vestiário, que é um container, a parede é dividida com o necrotério. Isso é um negócio surreal, que não pode acontecer. Nosso pensamento é ter uma área grande, com grama sintética e natural, escola, alojamento e refeitório.

Mas como fazer um novo CT, contratar jogadores midiáticos e executar outras propostas que você apresenta se o clube atrasa salários, deve a parceiros e enfrenta diversos problemas financeiros?
Os midiáticos têm que ser com investidor, não tem outro caminho. Agora salário e pagamentos são diferentes: na sua casa, se você gasta o que não tem, deve seu aluguel, contas de água, luz... É a mesma coisa. Se eleito, em janeiro nós temos que sentar e começar a trabalhar, fazer um plano de sustentabilidade. Tem que chegar no final do mês e o dinheiro estar lá, como em uma indústria. Isso é a coisa mais simples do mundo. Como faturar? A arrecadação em bilheteria é pífia. Por que? A primeira coisa que tem que fazer é conhecer o perfil do torcedor. Outra coisa: ninguém sai de casa para ver um jogo se não tiver segurança e conforto. Temos que fazer a hospitalidade, algo que aprendemos bastante com a Copa do Mundo. Oferecer transporte, segurança, alimentação dentro do estádio... Mais um item: jogar na Vila e no Pacaembu.

Como funcionará essa divisão de mandos?
Vamos consultar os sócios e chegar em um número correto.

A ideia é fazer uma pesquisa?
Não, um referendo. Vamos fazer isso pela internet. Para comprar ingresso o sócio não tem uma senha? Para esse referendo usaremos a mesma.

Vai ter tempo para preparar a tecnologia e fazer isso logo que assumir?
Não, antes teremos de fazer uma divisão nossa no Paulista. Porém, vamos fazer essa divisão antes mesmo do campeonato começar, antes da publicação da tabela, para não ter que ficar mudando jogo na véspera, como é feito agora, em cima da hora, sem critério ou análise.

O Santos enfrenta um problema de público pequeno nos seus jogos, o que não ocorria até mesmo nos períodos de seca. Hoje é raro o clube lotar estádios. Só oferecendo melhores serviços e ouvindo o sócio isso vai melhorar?
Em termos. Não é só fazer isso, tem que ter um pacote. Tem que ter credibilidade, anunciar o local do jogo com três meses de antecedência. Eu conheço quem faz a tabela do Campeonato Paulista e do Brasileirão, é só telefonar e dizer: "amigo, quero participar disso". E aí direi quantos jogos serão no Pacaembu, quantos serão na Vila.

Já que falamos do Pacaembu, você acha interessante administrar o estádio em parceria com uma construtora, como a diretoria atual estuda?
Não podemos só criticar. Se isso está sendo estudado com a OAS, como é dito, nós vamos continuar. Tudo que fizeram de bom, vamos manter. E o que estiver errado, vamos tentar consertar.

E a Vila Belmiro, está boa ou precisa ser reformada?
Acredito que temos que ter uma mini-arena em Santos, para 20 mil, 25 mil pessoas. Não para viver de arrecadação de bilheteria. Ela precisa se habituar a shows, reuniões de empresas, alugar camarotes. Quem é que não quer fazer uma reunião em Santos? Usar o camarote do Santos e, depois, lá mesmo almoçar no restaurante do estádio? Temos que faturar em todos os sentidos.

Isso é possível mesmo com a concorrência das arenas da capital?
Santos é para isso. A Vila Belmiro é nosso berço. Em janeiro, no primeiro dia após a eleição, quero um encontro com o prefeito de Santos. Quero saber o que a cidade vai fazer pelo clube, pois nunca foi feito nada, o governo só criou problema.

A reforma da Vila é uma das suas prioridades ou há temas mais importantes?
É uma das prioridades. Já é o nosso orgulho, porque lá nasceram os maiores jogadores do mundo. Não quero tirar o Santos de lá, mas não sou favorável a fazer reforma com dinheiro do próprio bolso. Tem que ter investidor e apoio estatal, o prefeito tem que ajudar, como Campinas está fazendo com a Ponte Preta. A gente cede o terreno e eles constroem, algo do tipo.

Construção ou reforma?
Construção, sou a favor de uma nova arena. Com conforto, pequena, para o santista ir para lá e ter prazer de levar os filhos.

No mesmo local? O acesso não dificulta?
Não me venha dizer que o solo hoje em Santos é ruim, isso é questão superada, há tecnologia. Tem que fazer estacionamento debaixo da Vila. Na Arena Amsterdam há uma rodovia abaixo do estádio. Essa possibilidade é tranquila. Por isso vou trazer a Prefeitura, que tem que desapropriar o entorno, ajudar o clube.

Você enfrentará muita resistência...
Os saudosistas que tinham não existem mais. Hoje temos que inovar. O Santos é o único time que pode ter estádio em duas cidades, a Vila e o Pacaembu. Com um investidor forte vamos mexer no Pacaembu e na Vila. A OAS, por exemplo, está interessada, já falei com eles. O saudosismo tem um limite e aí você tem que perguntar: o que o Santos quer? Se amarrar ao passado? Se ele fizer isso, será pequeno. Se olhar para o futuro, será um dos poucos times do Brasil com a cara de clubes grandes da Europa.

Como aumentar o número de sócios?
Temos um plano de expansão. Não dá para o associado de Brasília pagar o mesmo que o de Santos ou de São Paulo. Tem que dar privilégio. Para os que moram longe vamos criar faixas de valores. Ele quase nunca vai ao jogo, mas será sócio pelo prazer de ajudar o clube de coração. Pagando R$ 10 ao mês, ele representa R$ 120 no fim do ano. Multiplique isso por 100 mil torcedores e veja quanto o Santos irá faturar. Estou sendo simples, pode ser R$ 20. Isso é inovar!

E como fidelizá-lo?
É muito simples. Tem que conhecer o perfil dele e entender o por quê de ele não ter nenhuma relação com o Santos. Hoje calculo que 97% dos nossos torcedores não têm relação com o clube. Não compra produtos, não é sócio...

Quais os planos para o marketing?
Já temos meio que montada uma estrutura. Posso adiantar que o marketing do Santos será em São Paulo, na nossa subsede aqui. Sabe por que? Tudo está em São Paulo, as maiores empresas. Ninguém vai pegar estrada durante a semana para negociar. Ele tem que estar passeando na Avenida Paulista e pensar: "poxa, vou da um pulinho lá no Santos". A ideia é que o financeiro e o marketing sejam na capital. Outra coisa: o cara que vende produto do Santos pertence ao marketing. Não pode! Temos que criar uma área comercial.

Mas o clube tem cortado vagas. Você acha que a equipe tem que crescer?
Muito pelo contrário! Hoje a equipe é grande. O mesmo cara que cuida do licenciamento pode cuidar das escolinhas. Você tem que ocupar essas pessoas, senão vai ficar o dia inteiro jogando paciência no computador. A pessoa tem que dar o sangue para trabalhar no Santos, mas também ser bonificado por seus resultado, com prêmio, viagens.

Especificamente sobre patrocínio, o que está faltando para conseguir um anunciante master?
Uma ideia que tenho é usar multi-patrocínios. Quatro no peito e um nas costas, com rodízio a cada jogo. Se eu vender cada cota por R$ 7 milhões, o que é acessível até para empresas médias, faço R$ 28 milhões.

Recentemente o Santos terceirizou alguns departamentos. Você concorda com isso?
Tem áreas que não podem, como marketing, patrimônio, comunicação... Como foi feito por essa gestão. O Santos tem que falar com as pessoas, não contratar uma empresa para isso. Pretendemos criar um modelo totalmente diferente para a comunicação. Como também para o patrimônio. Ele tem que se mexer. O que foi feito nessa gestão? Nada! Abriram uma porta e depois fecharam porque não passava a ambulância. Já no departamento jurídico vamos estudar a terceirização. Em janeiro vamos sentar lá e estudar, ir departamento a departamento e ver o que cada profissional faz. É um aviso aos navegantes também: dentro do clube não haverá mais funcionário indicado. Vamos trazer a maioria do mercado.

News do Lance!

Receba boletins diários no seu e-mail para ficar por dentro do que rola no mundo dos esportes e no seu time do coração!

backgroundNewsletter