Parreira prevê Copa do Mundo sem inovações táticas: ‘Não há espaço’

Diego Costa e Diego Simeone (Fotos: AFP)
Diego Costa e Diego Simeone (Fotos: AFP)

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A relação de Carlos Alberto Parreira com a Copa do Mundo é tão próxima que muitas vezes os dois se confundem, ou melhor, se fundem. Não à toa, já que o Mundial no Brasil será o décimo na carreira dele (seis como técnico: Kuwait-82, Emirados Árabes-90, Brasil-94 e 2006, Arábia Saudita-98 e África do Sul-2010; duas como preparador físico em 70 e 74; e uma como observador técnico da Fifa, em 2002).

E foi como Mister Copa que o atual coordenador técnico da Seleção Brasileira foi tratado pelos ingleses em um evento da Gatorade, em Londres, no fim de março. Em um papo exclusivo com o LANCE!Net, Parreira relembrou de grandes seleções que não se sagraram campeãs, analisou o momento do futebol no mundo e apontou treinadores que o encantam atualmente:

LANCE!Net: Quais seleções não foram campeãs e você lamenta pelo futebol que elas demonstravam à época?
PARREIRA: A Hungria de 54 e a Holanda de 74, principalmente. E, por coincidência, as duas pararam na Alemanha. Daí você vê como o futebol é muito interessante. Os alemães, com a disciplina tática, conseguiram parar essas duas seleções fantásticas. E pouca gente analisa por essa ótica. O time húngaro estava há 54 jogos sem perder, possuía jogadores maravilhosos que mudaram a história do futebol. Era uma seleção que ganhava e ganhava bem dos rivais, como Itália, Inglaterra, França... Depois veio a Holanda, com um futebol moderno, parada pela eficiência da máquina alemã, que tinha Overath, Beckenbauer, Muller, um belíssimo goleiro (Maier). Além disso, tinham tradição e jogavam em casa. Por isso, ganharam. Lamento por Hungria e Holanda.

LNET!: Mas e o Brasil de 1982?
PARREIRA: O Brasil ganhou as Copas que podia ter ganhado: cinco. Em 82 podia ter vencido também, verdade, com aquele futebol bonito, grandes jogadores. Então, acrescento o Brasil de 82 e fecho esta lista com três. Um patamar abaixo, coloco a Holanda de 78 contra a Argentina.

LNET!: No futebol moderno, você vê espaço para inovações?
PARREIRA: Não há espaço.

LNET!: Mudando a pergunta: a globalização faz mal para o futebol?
PARREIRA: Ela evita surpresas. Não tem o que esconder, o que mudar de última hora. Hoje, você acompanha a Espanha em tempo real, vê as Eliminatórias, vê os jogos amistosos... Não tem como mudar, sem ninguém saber, em pouco tempo. Nem o Brasil, nem ninguém vai mudar nesta Copa a forma como já vinha jogando.

LNET!: Dos técnicos da atualidade, você gosta de algum em especial?
PARREIRA: Gosto de dois: Mourinho e Guardiola. Admiro muito o trabalho deles. Mourinho eu gosto pela personalidade, o estilo provocador, a forma como faz ironias. E não dá para discutir a competência dele também. Ganhou tudo e pode ganhar mais ainda nesta temporada (disputa a semifinal da Liga dos Campeões e está na briga pelo Inglês). Já o Guardiola, pelo que fez no Barcelona, impactou o futebol mundial.

LNET!: E ele já não está fazendo até mais pelo Bayern, em tão pouco tempo de trabalho?
PARREIRA: Espera aí. Eu ia chegar lá. Quando ele impactou o mundo, surgiu aquela dúvida: ele é fruto da escola do Barcelona, conhece tudo, jogou lá por muito tempo, começou na base, teve o Cruyff como treinador e se aproveitou de tudo isso para ser campeão. Ouvia muita gente dizer: “Quero ver quando ele pegar um time diferente”. Ele pegou nada mais nada menos do que um time como o Bayern, que havia ganhado tudo na temporada anterior com o Jupp Heynckes. Um verdadeiro supercampeão. E o Guardiola já imprimiu o estilo dele, em menos de uma temporada à frente do Bayern. O importante é isso. Eu admiro treinador quando ele consegue imprimir sua filosofia no jogo. O Bayern jogando atualmente é diferente do estilo do time da temporada anterior.

LNET!: Mas no começo foi difícil...
PARREIRA: Verdade. Ele chegou a ser contestado. Normalmente jogadores são resistentes quando se tenta implantar uma nova filosofia. E é difícil mesmo. Lembro de ter lido que alguns diziam que não entendiam o que o Guardiola queria. Agora o Bayern joga e consegue trocar quase mil passes em um único jogo, com 81% de posse de bola. É impressionante. O Barcelona, quando chegava a 65, 67%, já era impensável. E agora? Guardiola implantou uma filosofia e por isso o admiro muito.

LNET!: Ver este Bayern de perto é um espetáculo à parte?
PARREIRA: É exatamente isso. Falei com o Felipão: “A gente tem que viajar para a Europa justamente para isso”. O Bayern é a base da seleção da Alemanha, como o Barcelona é a da Espanha. Por isso é importante analisar de perto essa parte tática deles para a Copa.

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