Memórias da Copa: ‘Fúria’ já era atração em 1950

Para a sub do jornal e pro site (Foto: Rodrigo Cerqueira)
Para a sub do jornal e pro site (Foto: Rodrigo Cerqueira)

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Com 90 anos, e sem abrir mão de se vestir de forma impecável, João Maria Barbosa, mais conhecido como Seu Barbosa, é um daqueles senhores que dá gosto de conversar. Entre as muitas histórias de um arquivo mental incrível, uma das mais presentes é a Copa do Mundo de 1950. Ele viu tudo de perto, desde a construção da Vila Capanema, estádio de Curitiba na ocasião, até os dois jogos na cidade (Espanha x EUA e Suécia x Paraguai). O Mundial, segundo ele, foi uma surpresa na época para a o Paraná. Outra surpresa era a presença de uma tal de "Fúria", que ele muito escutava falar e resolveu ver de perto.

- A Copa do Mundo foi uma surpresa em Curitiba, ninguém esperava. Então eu queria conhecer a tal da Fúria, de que muito se falava. A seleção da Espanha. Pensei: "nós temos os melhores jogadores do mundo, o que essa Fúria tem?" Tinha um toque de bola mais cadenciado, jogava e deixava correr - lembrou, com saudade, Seu Barbosa, que na época da Copa do Mundo tinha 26 anos.


Calmo e sereno nas palavras, Seu Barbosa lembra que naquela época não havia um grande movimento pelos jogos da Copa do Mundo na cidade:

- Tanto é que não houve essa coisa de hoje em dia. Povo atrás de ingressos, nem havia televisão. Era rádio e olhe lá. E a prova disso é que não houve recorde de público, lotação máxima. E o ingresso era caro. Não houve muita assistência por parte do público. Mas veio muita gente de fora. Assim mesmo deu prejuízo, o governado do estado deu um cheque para a CBD (atual CBF) para custear o prejuízo .

Falta de dinheiro, no entanto, não era um "grande problema". Sem ter como entrar na Vila Capanema, algus torcedores davam aquele jeitinho brasileiro para poder ver de perto um jogo de Copa do Mundo. Além disso, em alguns momentos era "emoção pura" estar nas cercanias do estádio:

- Tinha um pátio de manobras de trem atrás do estádio Durival de Brito (nome da Vila Capanema). Então o pessoal subia nos vagões cobertos para assistir aos jogos. E em determinados momentos o trem começava a fazer manobras, e era um desespero (risos). E ali também desembarcavam os gados que vinham do interior dentro de vagões. E volta e meia um boi se desgarrava na hora do jogo e corria pela rua. Era aquele deus nos acuda!

A Vila Capanema foi construída num terreno atrás da Rede Ferroviária de Curitiba. Hoje o local abriga a rodoviária da cidade. E Seu Barbosa era funcionário da Rede, ou seja, passava pelo local todos os dias. E acompanhava as obras daquele que viria a ser o estádio da capital paranaense na Copa de 50. Quase que como um fiscal, Seu Barbosa caminhava pelos entulhos e há uma foto da época, de uma construção de uma arquibancada, em que ele foi fotografado caminhando pelo local:

- Eu passava por ali sempre, e um fotógrafo da Rede Ferroviária sempre fazia imagens da obra. Em uma delas, eu apareço caminhando onde foi construída uma geral. Acompanhei toda a história deste estádio.


De uma Copa para outra, de 1950 para 2004, Seu Barbosa foi testemunha de uma mudança radical em Curitiba. E também no país. Mas deixa claro que jogo hoje em dia, só pela televisão:

- Não vou assistir jogo de Copa. Não vou levantar taça para corruptos e esses irresponsáveis. Temos muita coisa pra fazer nesse país, como saúde e educação. Vamos crianças morrendo porque não tem hospital. Não vou torcer contra a Seleção, mas não quero ir aos jogos.

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