Lepo Lepo, casa dividida, gincana… Alemanha reforça ‘família’ na Bahia

Jogadores da Alemanha em passeio (Foto: Reprodução)
Jogadores da Alemanha em passeio (Foto: Reprodução)

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Jogadores "morando" na mesma casa, dividindo tarefas. Liberdade e brincadeiras na área comum. Gincanas táticas e foco no campo. Há sete dias no "Campo Bahia", na vila de Santo André, do município de Santa Cruz Cabrália (BA), a Alemanha criou uma espécie de comunidade para os 23 responsáveis pelo sonho do tetra - a estreia será no próximo dia 16, contra Portugal, na Arena Fonte Nova, pelo Grupo G. O resultado são elogios e otimismo da comissão técnica e do elenco.

O luxuoso complexo construído com dinheiro de empresários alemães, parceiros da Federação Alemã, possui 14 casas de cerca de 400m². Sete delas, cada uma com seis suítes, sala e cozinha, são usadas pela delegação germânica. Os próprios jogadores escolheram com quem iam morar. Há relatórios sobre a organização de cada "team". O técnico Joachim Löw, o auxiliar Hans-Dieter Flick, o preparador de goleiros Andreas Köpke e o gerente Oliver Bierhoff dividem a mesma casa. Outros funcionários estão em outras.

- O Campo Bahia tem uma vibração bastante positiva, os jogadores passam o tempo juntos, aproveitam a companhia do outro, sem sofrer o lado da concentração. Eu adoro estar com os meus jogadores. Tudo isso tem melhorado o nosso estado de espírito - disse o técnico Joachim Löw.

Por volta de 6h, quase todos já estão de pé. E não há clausura, preocupação com torcida na porta, manifestações e trânsito nas ruas, logística para treinos... Após o café da manhã, grupos se dividem. Há quem opte por uma caminhada na praia, como o treinador, há quem prefira a piscina. Outros voltam para descansar em suas casas... A área dos jogos e da piscina é a que mais une o elenco. À disposição, os alemães têm uma sala de videogame, outra com bilhar, tênis de mesa e dardo, um espaço para minigolfe e raquetes de frescobol. No minigolfe, eles mostram toda a habilidade... no futebol. Funcionários passam boa parte do dia tirando as bolas do fundo da piscina.

No local, jogadores costumam colocar música nos celulares e aparelhos. O volante Bastian Schweinsteiger e o meia Mezut Özil já tocaram o "Lepo Lepo", da banda Psirico, e animaram outros companheiros. A cena provocou risos dos presentes. Se houver muito barulho, no entanto, há bronca do "chefe".

- Aqui é muito legal. Você pode não estar na mesma casa, mas marca de se encontrar, faz uma visita. Se eu escutar música alta, vou bater na porta e perguntar: "Vocês estão doidos?" (risos). Essa é uma oportunidade fantástica para os jogadores estarem juntos. Não existe uma sala de encontro. Em qualquer lugar eles podem se aproximar - disse o gerente Bierhoff.

Gincana tática
Os treinos ocorre a cerca de dois quilômetros do local onde a delegação está hospedada. Os jogadores se dividem em vans para o trajeto, que ocorre com escolta, mas sem presença de moradores ou torcedores tumultuando. Na atividade desta quinta-feira, o técnico Joachim Löw dividiu os jogadores em dois grupos. Um deles foi liderado pelo capitão Phillip Lahm e o outro, por Thomas Müller. Com papeis, canetas e uma prancheta, eles fizeram anotações e simularam situações de jogo. O objetivo era descobrir o que o técnico queria como alternativa.

- Fiz uma competição para que os jogadores pensassem sobre as variações táticas. Foram duas equipes, uma jogando contra a outra. A ideia era exercitar a mente dos jogadores em relação às jogadas ou algum elemento surpresa na partida - explicou o treinador alemão.

Ajuda ao companheiro no limite
Na terça-feira, a comissão técnica aproveitou que o treino seria apenas na parte da tarde e programou um passeio de barco. No veleiro de cerca de 35 metros, os jogadores formaram uma tripulação e tiveram que ajudar a baixar as velas e a mudar a direção do barco. Tudo para desenvolver a cooperação com o parceiro e o espírito de equipe. Em alto-mar, eles ouviram a palestra do explorador sul-africano Mike Horn, que já rodou o mundo e passou por situações extremas, próximo da morte.

- A palestra me tocou, me impressionou, me deixou inspirado. Ele nos deu uma ideia de que você pode criar qualquer situação e suportá-la. A mensagem-chave era o quanto nós precisamos para nos ajudarmos em situações difíceis, e como ajudar os nossos companheiros - disse o zagueiro Per Mertesacker.

Vale lembrar que o grupo é unido naturalmente no dia a dia, pois muitos já convivem há tempos. Entre os 23, há sete jogadores que são companheiros no Bayern de Munique e outros quarto, no Borussia Dortmund, além de três no Arsenal. Onze do grupo atual estavam na Copa de 2010, na África do Sul.

Calor do povo
Para colocar os jogadores no espírito da Copa no Brasil, a Federação Alemã tem destacado a importância da aproximação com o povo brasileiro. Apesar de a concentração para a Copa do Mundo, a Alemanha tem sido aberta para as atividades extracampo e no contato com o povo de Santo André. Na segunda-feira, foi permitida a entrada no gramado de 20 índios da tribo Pataxó, que dançaram com os jogadores e presentearam com um arco e flecha e um maracá (instrumento musical) o atacante Miroslav Klose, anivesariante do dia. Em outro dia, os jogadores visitaram a escola municipal, brincaram com as crianças e no fim ainda jogaram bola elas, encantando os presentes.

A simpatia tem chamado a atenção. Em certo dia, o goleiro Neuer e o volante Schweinsteiger estavam na rua em frente ao complexo e brincaram com torcedores. Neuer vestia uma camisa do Bahia, dada pelo companheiro de Bayern de Munique Dante, que está com a Seleção Brasileira. Schweinsteiger também queria uma camisa do clube tricolor e encontrou um torcedor na região para trocá-la por uma da Alemanha. Depois, os jogadores tentaram cantar o hino do clube, em vídeo que foi divulgado na internet.

- Se não der para o Brasil, vou torcer por eles. Todo mundo está gostando muito deles. O Schweinsteiger sentou ao meu lado no hotel e começou a conversar, brincando. Eu não entendi nada, ele falava em alemão. Mas foi muita emoção, um cara que eu só via pela televisão foi até mim conversar. Foi um sonho realizado. Os jogadores já presentearam vários funcionários com camisas - disse Henrique Ramos dos Santos, que é um dos funcionários do Campo Bahia e aparece no vídeo abraçado com os jogadores.


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