‘Era Gareca’ começa no palco em que estreou o maior argentino do Palmeiras

Treino do Palmeiras - Gareca  (Foto: Eduardo Viana /LANCE!Press)
Treino do Palmeiras - Gareca (Foto: Eduardo Viana /LANCE!Press)

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A espera acabou: às 19h30 desta quinta-feira, 55 dias depois de ser apresentado, o argentino Ricardo Gareca vai iniciar sua trajetória como técnico do Palmeiras diante do Santos, na Vila Belmiro. O adversário e o palco serão os mesmos da estreia de Filpo Núñez, o principal técnico "hermano" na centenária história do clube alviverde.

Há quase 50 anos, em 8 de novembro de 1964, o Verdão comandado por Nélson Ernesto Filpo Núñez, substituto de Mário Travaglini, fez 3 a 2 no Peixe com um gol de Ademar Pantera e dois de Tupãzinho, o último aos 45 minutos do segundo tempo. Coutinho havia marcado os dois gols do rival.

Aquele time, que tinha Valdir Joaquim de Moraes, Djalma Santos, Dudu e Ademir da Guia, venceria o Torneio Rio-São Paulo de 1965 - com direito a uma impiedosa goleada por 7 a 1 sobre o Santos na primeira fase - e entraria para a história ao vencer a seleção uruguaia por 3 a 0 na inauguração do Mineirão, vestindo a camisa do Brasil. Filpo Núñez, até hoje, é o único estrangeiro a ter dirigido a Seleção, representada pelo Palmeiras naquele dia. Era a primeira Academia de Futebol do Verdão.

Filpo Núñez teve mais duas passagens pelo Verdão e não voltou a ganhar títulos. Sofreu um ataque cardíaco e morreu em 1999, quando tinha 78 anos e morava na favela do Heliópolis, em São Paulo. Já havia deixado seu nome na história, feito que Gareca, o 20 estrangeiro a sentar-se no banco para dirigir o Alviverde, tenta repetir agora.


O "pim-pam-pum", como ficou conhecido o estilo dos times de Filpo, que pode até ser comparado ao "tiki-taka" da atualidade, não deve ser visto tão cedo. Os treinos na Academia de Futebol, parados a todo instante pelo apito de Gareca, mostram um Palmeiras que se esforça para não deixar espaços grandes entre a defesa, o meio e o ataque. O novo técnico cobra que os atacantes pressionem a saída de bola, talvez por saber que o setor de criação, que perdeu Valdivia, o camisa 10, ainda é frágil.

- Não esperem mudanças. Não vai ser muito diferente do que vocês estão acostumados a ver. Acho que vamos chegar bem para o jogo contra o Santos - disse Gareca, que se esforça para tirar de si a pressão de mudar os rumos do clube com uma maneira diferente de enxergar o futebol, mas que foi contratado exatamente com essa intenção.

Nos nomes, a única novidade será o zagueiro Tobio, trazido a pedido do chefe. Começa a era Gareca!

Ricardo Gareca é o primeiro argentino desde a saída de Filpo Núñez (Foto: Eduardo Viana/LANCE!Press)

Bate-bola com Emerson Leão, ex-comandado de Filpo Núñez:

LANCE!Net: O que você lembra do Filpo?
Leão: Foi meu primeiro técnico no Palmeiras (em 1969). Era baixinho, bem gordinho, inteligente. Depois de um jogo que ganhamos de 3 a 0, ele foi dar nota para os jogadores e me deu 8. Eu falei: "Por quê? Não tomei gol, não errei nada". Ele respondeu: "Não se precipite. É 8, mais 2 de bonificação: nota 10!".

Era bom técnico?
Fazia bom trabalho psicológico, um pouco menos como treinador. Eu era garotinho, um mês de Palmeiras, e o Chicão se machucou. Entrei no lugar, ganhamos três seguidas e a quarta era contra o Santos. Pelé, Coutinho... O Filpo me chamou e disse que eu não ia jogar. "Eu? Nem morto! Vou sim!". Ele ouviu e falou: "Gostei da sua personalidade". Me escalou, ganhamos por 1 a 0 e ele veio me abraçar: "Trabalhei seu psicológico". É mentira? (risos)

O que acha do Gareca?
Se for como o Filpo, vai ser bom para o Palmeiras. Vi jogar, era muito bom jogador, um organizador ofensivo.

QUEM FOI:

Nome: Nélson Ernesto Filpo Núñez
Nascimento: 19/8/1920 (morreu em 6/3/1999)
Naturalidade: Buenos Aires (ARG)
Período: 1964 a 1965; 1968 a 1969; 1978 a 1979
Título: Rio-São Paulo de 1965
Clube anterior: Jabaquara-SP
Jogos: 154 (94 vitórias, 27 empates e 33 derrotas)

Todas as estreias de técnicos argentinos no Verdão:

Jim Lopes - Palmeiras 6 x 0 Mogiana-Campinas - 20/3/1950
Abel Picabéa - Palmeiras 2 x 2 Fluminense - 2/3/1952
Armando Renganeschi - Palmeiras 1 x 0 Vila Nova-GO - 28/3/1961
Filpo Núñez - Palmeiras 3 x 2 Santos - 8/11/1964
Alfredo González - Palmeiras 1 x 0 Universidad Católica - 21/2/1968
Filpo Núñez - Palmeiras 1 x 0 São Bento - 15/8/1968
Filpo Núñez - Palmeiras 5 x 1 Portuguesa Santista - 20/9/1978

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