Fora de forma, Suelen se destaca no talento e guia Sesi à final da Superliga


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– Acho que Deus me deu uma luz e falou: vai, filha! Mesmo com tudo errado, você vai jogar. Mesmo com tudo pesando contra, você terá um dom.

Romário, no auge de sua marra, certa vez afirmou que Deus havia apontado e dito que ele era o cara. A declaração acima não é do ex-atacante brasileiro. Muito menos foi dada de forma arrogante. Pelo contrário. É soltando um sorriso sincero e acanhado que Suelen, líbero do Sesi-SP - que enfrentará a Unilever na final do próximo domingo - admite que, apesar de ser um tanto quanto incomum, nasceu para jogar vôlei.

Ela nunca teve biotipo de atleta. A balança era um problema já na adolescência. No entanto, com 12 anos, disse à mãe: queria ser jogadora de vôlei. Ouviu de sua família que teria de se empenhar para ser boa no que sonhava fazer. Suelen, dona de uma personalidade forte, se empenhou. O resultado chegou em 2003. A primeira convocação para a Seleção Brasileira de novos na carreira. Dali, deslanchou.

Hoje, dez anos depois, a líbero do Sesi-SP alcançou a Seleção principal. Conquistou a confiança do técnico José Roberto Guimarães, com quem trabalhou no Amil Campinas, e figura entre as principais atletas do Brasil. Inclusive, arranca elogios fervorosos por onde passa. Em seu novo clube, encantou o técnico Talmo Oliveira:

– A Suelen é uma atleta fora da curva. Ela tem um rendimento muito bom, qualidade. É uma atleta diferenciada, com muita força para deslocamento e leitura de jogo boa – destacou.

Porém, de todos os elogios, o mais esperado por Suelen era o de Sérgio Mançan, preparador físico do Sesi. O motivo: a jogadora não está na forma física ideal para uma atleta de alto rendimento. Visivelmente acima do peso, Suelen costuma gerar comentários e pré-julgamentos daqueles que não acompanham seus jogos ou seus treinamentos. Ou, segundo Mançan, os que desconhecem o seu verdadeiro talento:

– Ela é rara porque poucos jogadores que saem do perfil ideal do esporte são como ela. Ela destoa pelo biotipo, mas encanta ainda mais pelo estilo de jogo. Ela tem um talento de encher os olhos. Acompanha um jogo e tira a prova! Ela se destaca no talento. Ela faz o time jogar – diz

Ao saber destes elogios, Suelen admitiu surpresa e felicidade, já que os preparadores físicos sempre pegam em seu pé. Mas ela endossa o coro de Mançan quando se refere às críticas que recebe. Apesar de estar ciente de sua condição, ela mostra incômodo com o assunto. Principalmente com a repetição dele.

– Muita gente só julga a aparência. Muitas pessoas não entendem de vôlei. Nem querem entender se eu jogo bem ou mal, porque eu não tenho biotipo. Mas muita gente que conhece foi a favor da minha convocação para a Seleção, por exemplo – garante.

E os números vão a favor da líbero. Seus últimos clubes sempre disputaram títulos. Foram os casos do Pinheiros, do Amil Campinas e do atual, o Sesi-SP. O clube da capital paulista, inclusive, "namorou" sua contratação por dois anos. Em 2013, enfim, o casamento. O peso não atrapalhou em nada. Todos no clube garantem que apenas o desempenho de Suelen era observado.

No entanto, se o peso não afeta a carreira de Suelen neste momento, a preocupação com o futuro da jogadora é grande dentro do clube.

– Claro que sempre tem a pergunta: e se ela fosse mais magra? Poderia até render mais, mas não sabemos. Só que ela é nova. Ao longo da carreira, esse sobrepeso pode vir a causar lesões. Ela tem de se empenhar ao longo desses anos pra diminuir esse risco. Pelo potencial que ela tem, ela é uma craque. Se ela quiser, joga até os 35 fácil. O que pode impedir é o excesso de peso. Em algum momento, o tempo vai cobrar esse excesso – avisa Mançan.

A líbero é ciente dos perigos. E divide da mesma preocupação que o preparador.

– Preocupa muito. Principalmente pela minha lesão no joelho. Tenho de me preocupar daqui a cinco ou seis anos. Por isso eu já venho querendo abaixar cada vez mais o peso pelo meu joelho. Uma pessoa que já tem o biotipo bom pode ter dificuldade no futuro, imagina pra mim? – questiona. 

Definida como craque por quem a rodeia, Suelen tem desafios. Obstáculos enormes surgem a cada dia e o tempo "cobra" seu excesso. Para perseguir a Seleção Brasileira e a disputa de uma Olimpíada, que é o seu sonho declarado, ela precisa manter o desempenho e buscar diminuir o sobrepeso. Talento não falta.

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