Em entrevista especial ao L!Net, Tite abre o jogo sobre o ‘mundo das táticas’ e fala de como levar a Recopa

Esécial Tite - Corinthians (Foto: Ari Ferreira/ LANCE!Press)
Esécial Tite - Corinthians (Foto: Ari Ferreira/ LANCE!Press)

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Foi só a equipe de reportagem do LANCE!Net dizer que a entrevista seria sobre tática para Tite abrir um sorriso. O técnico do Corinthians não pensou duas vezes: correu para sua sala nas dependências do CT Joaquim Grava para buscar sua pasta. Dentro dela, anotações e uma minilousa, onde costuma dar coordenadas aos jogadores durante os treinos. Com 1.000 dias de Timão completados nesta terça-feira, ele admite: tática é seu assunto preferido.

– Vou buscar meu campinho. Fica bem melhor de explicar sobre essa coisa toda – avisou.

Aficionado pela área desde os tempos de jogador, Tite diz que seu conhecimento tático é uma das armas para o Timão conquistar mais um título. A decisão da Recopa Sul-Americana, nesta quarta-feira, contra o São Paulo, foi o assunto mais tocado durante a entrevista de 35 minutos. Tite também falou de seus métodos para fazer o time funcionar, dos seus esquemas campeões na carreira e até de como os jogadores do elenco costumam absorver o assunto. Confira:

Você nunca escondeu que gosta de táticas? Ela ganha jogos decisivos como o de terça?
Com o entrosamento ao longo do tempo, contribui para ganhar. Não a tática específica, mas como ela funciona. Não é mágica: “Olha, vou colocar o 3-5-2 para ganhar na quarta-feira”. Eu não acredito nisso. Você tem a organização tática pronta, faz ajustes. Se mudar a mecânica da equipe, perde o jogo sem pensar. A velocidade do jogo não permite você olhar, pensar, trocar... Tem de ser um processo todo automático.

Tem consciência de que seu time engoliu o São Paulo no jogo de ida?
Não digo isso. Mas fizemos um grande jogo e elogiei todos. Tenho a consciência de que dois gols de diferença representariam melhor o que foi a partida. Foram só 90 minutos, tem mais 90. O futebol não permite baixar a guarda. Não pode brincar.

Muitas pessoas criticam o São Paulo por não ter um padrão tático. Você acha isso também?
O São Paulo tem um 4-2-3-1 definido desde o ano passado. O que vem acontecendo é modificação dos jogadores. Eles não estão jogando juntos há muito tempo. O entrosamento que falo é jogar 30, 40 vezes juntos. Tem novos jogadores, estão se conhecendo. Ganso e Jadson me dão uma dificuldade, você não tem ideia! São muito bons armando jogadas.

O fato de o São Paulo ter trocado de técnico é bom ou ruim pra você?
Não se tem resposta para isso. É uma variável muito grande. Eu seria leviano se falasse o que eu espero do outro lado. O trabalho vinha se desenvolvendo, não sei como vinha vindo, muito menos o que vai ser agora. É uma dificuldade.

Você explorou muito o seu treino tático fantasma (só com os 11 titulares em campo) para o jogo de ida. Realmente faz diferença?
Ele nos dá uma maturidade maior para o jogo. Esse tático é segurança, para deixar o que eu quero fresco na cabeça do cara. Tem jogador que, só você falando, ele absorve a mensagem. Tem outros que precisam ver no vídeo. Agora tem outros que precisam ver, ouvir e fazer no campo. Se tem algum que não responde, em um desses três canais de comunicação ele vai entender. Divido durante a semana, deixo também o auxiliar treinar. Se eu passar a semana toda cobrando o cara, no sábado ele vai pensar: “Vai tomar no c...! Encheu o saco a semana inteira!”. Tem de dosar.

O trabalho é todo em cima do adversário do dia seguinte?
Procuro ver primeiro meu time. Em termos estratégicos, claro que você busca o que o adversário tem de mais fraco. Também olha o mais forte. Observo outra coisas também. Por exemplo: o São Paulo estava tomando muito gol de escanteio. Contra o Goiás tomaram assim, aí teve outros gols de bola parada... A gente estudou o tipo de marcação que faziam e tudo mais. Mas no jogo de ida, vieram com 11 dentro da área nessa jogada. Modificaram e tivemos muita dificuldade para acertar. Pensei comigo: “P... que pariu! Acertaram!”

O seu gosto por táticas vem desde os tempos de jogador?
Não era consciente que eu viria a ser técnico. Mas era uma coisa que me fomentava. Lembro da final do Brasileiro de 86 contra o São Paulo, estávamos eu e Tosin. O técnico falou que a gente precisava marcar Silas e Pita. Fiquei quieto. Tosin disse que era indiferente. Eu disse: “Prefiro marcar o Pita”. Porque eu já tinha estudado ele. Silas era veloz, eu iria ter mais dificuldade. Era um procedimento técnico e tático individual. Eu ia planejando minhas atuações. É um processo que vai evoluindo.

E como fazer um esquema tático funcionar dentro de campo?
O primeiro diagnóstico é chegar e olhar o elenco, o que você tem em mãos. Eu cheguei no Corinthians e não podia querer fazer uma equipe que marcasse lá no ataque. Tinha o Ronaldo, outros jogadores mais lentos. Eu não teria uma transição rápida. Tinha de esperar mais para sobressair tecnicamente. Se eu metesse pressão, como essa de hoje, mataria meu time no primeiro tempo. Como fazer isso? Treino, treino, treino e jogos. É repetição e intensidade.

Jogador gosta de tática? Ele se sente à vontade para ouvir a respeito em preleções e treinos?
Tem alguns que são mais afeitos a essa abordagem. Tem outros que são de mais ações individuais. Alessandro, Fábio Santos, Danilo, Paulinho, Chicão e Paulo André, por exemplo, conseguem ter essas percepções. É tudo bem individual, você precisa equilibrar tudo isso.

E qual é o risco de se fazer alteração tática antes de uma final? Jorge Henrique entrando no lugar do Douglas entre a semifinal e a final do Mundial, por exemplo...
Um ajuste ou outro pode. Mas não coloquei o Jorge por causa do Chelsea. Coloquei porque nossa equipe precisava dessa transição (entre meio de campo e ataque) mais rápida. Claro que olhei o adversário, mas penso assim: “Potencialize seu time, faça-o jogar da melhor maneira possível.” Aí sim podemos ajustar com relação ao adversário. Sempre foi assim e assim será contra o São Paulo.

Esse elenco é o que tem mais consciência tática entre os que você treinou na carreira?
Se eu tiver de escolher dois, os mais inteligentes, é um deles. Agora, você dizer assim, o melhor taticamente, não sei... O Grêmio de 2003 era fascinante. Fui assistir ao jogo da Espanha e um grande cronista espanhol, veio fazer um elogio ao Corinthians e a mim. Fiquei muito feliz. Ele disse que é o time do mundo que melhor consegue se organizar na defesa, na linha de quatro. Essa organização, para mim, é marcante.

O seu esquema número 1 no Corinthians é o 4-2-3-1. Os reforços são contratados para ele?
Correto. Buscamos os que se adaptam ao nosso estilo de jogo. Mas a direção também coloca necessidades, como rejuvenescer o elenco, trazer jovens de qualidade. É bem por aí mesmo.

E nesta decisão da Recopa Sul-Americana? Será um título inédito para o clube, mais um... O que esperar do seu time?
Vou cobrar desempenho técnico e muita concentração. Título se ganha assim, ambição, coragem. Se unirmos tudo isso à tática, temos grandes chances.


Foi só a equipe de reportagem do LANCE!Net dizer que a entrevista seria sobre tática para Tite abrir um sorriso. O técnico do Corinthians não pensou duas vezes: correu para sua sala nas dependências do CT Joaquim Grava para buscar sua pasta. Dentro dela, anotações e uma minilousa, onde costuma dar coordenadas aos jogadores durante os treinos. Com 1.000 dias de Timão completados nesta terça-feira, ele admite: tática é seu assunto preferido.

– Vou buscar meu campinho. Fica bem melhor de explicar sobre essa coisa toda – avisou.

Aficionado pela área desde os tempos de jogador, Tite diz que seu conhecimento tático é uma das armas para o Timão conquistar mais um título. A decisão da Recopa Sul-Americana, nesta quarta-feira, contra o São Paulo, foi o assunto mais tocado durante a entrevista de 35 minutos. Tite também falou de seus métodos para fazer o time funcionar, dos seus esquemas campeões na carreira e até de como os jogadores do elenco costumam absorver o assunto. Confira:

Você nunca escondeu que gosta de táticas? Ela ganha jogos decisivos como o de terça?
Com o entrosamento ao longo do tempo, contribui para ganhar. Não a tática específica, mas como ela funciona. Não é mágica: “Olha, vou colocar o 3-5-2 para ganhar na quarta-feira”. Eu não acredito nisso. Você tem a organização tática pronta, faz ajustes. Se mudar a mecânica da equipe, perde o jogo sem pensar. A velocidade do jogo não permite você olhar, pensar, trocar... Tem de ser um processo todo automático.

Tem consciência de que seu time engoliu o São Paulo no jogo de ida?
Não digo isso. Mas fizemos um grande jogo e elogiei todos. Tenho a consciência de que dois gols de diferença representariam melhor o que foi a partida. Foram só 90 minutos, tem mais 90. O futebol não permite baixar a guarda. Não pode brincar.

Muitas pessoas criticam o São Paulo por não ter um padrão tático. Você acha isso também?
O São Paulo tem um 4-2-3-1 definido desde o ano passado. O que vem acontecendo é modificação dos jogadores. Eles não estão jogando juntos há muito tempo. O entrosamento que falo é jogar 30, 40 vezes juntos. Tem novos jogadores, estão se conhecendo. Ganso e Jadson me dão uma dificuldade, você não tem ideia! São muito bons armando jogadas.

O fato de o São Paulo ter trocado de técnico é bom ou ruim pra você?
Não se tem resposta para isso. É uma variável muito grande. Eu seria leviano se falasse o que eu espero do outro lado. O trabalho vinha se desenvolvendo, não sei como vinha vindo, muito menos o que vai ser agora. É uma dificuldade.

Você explorou muito o seu treino tático fantasma (só com os 11 titulares em campo) para o jogo de ida. Realmente faz diferença?
Ele nos dá uma maturidade maior para o jogo. Esse tático é segurança, para deixar o que eu quero fresco na cabeça do cara. Tem jogador que, só você falando, ele absorve a mensagem. Tem outros que precisam ver no vídeo. Agora tem outros que precisam ver, ouvir e fazer no campo. Se tem algum que não responde, em um desses três canais de comunicação ele vai entender. Divido durante a semana, deixo também o auxiliar treinar. Se eu passar a semana toda cobrando o cara, no sábado ele vai pensar: “Vai tomar no c...! Encheu o saco a semana inteira!”. Tem de dosar.

O trabalho é todo em cima do adversário do dia seguinte?
Procuro ver primeiro meu time. Em termos estratégicos, claro que você busca o que o adversário tem de mais fraco. Também olha o mais forte. Observo outra coisas também. Por exemplo: o São Paulo estava tomando muito gol de escanteio. Contra o Goiás tomaram assim, aí teve outros gols de bola parada... A gente estudou o tipo de marcação que faziam e tudo mais. Mas no jogo de ida, vieram com 11 dentro da área nessa jogada. Modificaram e tivemos muita dificuldade para acertar. Pensei comigo: “P... que pariu! Acertaram!”

O seu gosto por táticas vem desde os tempos de jogador?
Não era consciente que eu viria a ser técnico. Mas era uma coisa que me fomentava. Lembro da final do Brasileiro de 86 contra o São Paulo, estávamos eu e Tosin. O técnico falou que a gente precisava marcar Silas e Pita. Fiquei quieto. Tosin disse que era indiferente. Eu disse: “Prefiro marcar o Pita”. Porque eu já tinha estudado ele. Silas era veloz, eu iria ter mais dificuldade. Era um procedimento técnico e tático individual. Eu ia planejando minhas atuações. É um processo que vai evoluindo.

E como fazer um esquema tático funcionar dentro de campo?
O primeiro diagnóstico é chegar e olhar o elenco, o que você tem em mãos. Eu cheguei no Corinthians e não podia querer fazer uma equipe que marcasse lá no ataque. Tinha o Ronaldo, outros jogadores mais lentos. Eu não teria uma transição rápida. Tinha de esperar mais para sobressair tecnicamente. Se eu metesse pressão, como essa de hoje, mataria meu time no primeiro tempo. Como fazer isso? Treino, treino, treino e jogos. É repetição e intensidade.

Jogador gosta de tática? Ele se sente à vontade para ouvir a respeito em preleções e treinos?
Tem alguns que são mais afeitos a essa abordagem. Tem outros que são de mais ações individuais. Alessandro, Fábio Santos, Danilo, Paulinho, Chicão e Paulo André, por exemplo, conseguem ter essas percepções. É tudo bem individual, você precisa equilibrar tudo isso.

E qual é o risco de se fazer alteração tática antes de uma final? Jorge Henrique entrando no lugar do Douglas entre a semifinal e a final do Mundial, por exemplo...
Um ajuste ou outro pode. Mas não coloquei o Jorge por causa do Chelsea. Coloquei porque nossa equipe precisava dessa transição (entre meio de campo e ataque) mais rápida. Claro que olhei o adversário, mas penso assim: “Potencialize seu time, faça-o jogar da melhor maneira possível.” Aí sim podemos ajustar com relação ao adversário. Sempre foi assim e assim será contra o São Paulo.

Esse elenco é o que tem mais consciência tática entre os que você treinou na carreira?
Se eu tiver de escolher dois, os mais inteligentes, é um deles. Agora, você dizer assim, o melhor taticamente, não sei... O Grêmio de 2003 era fascinante. Fui assistir ao jogo da Espanha e um grande cronista espanhol, veio fazer um elogio ao Corinthians e a mim. Fiquei muito feliz. Ele disse que é o time do mundo que melhor consegue se organizar na defesa, na linha de quatro. Essa organização, para mim, é marcante.

O seu esquema número 1 no Corinthians é o 4-2-3-1. Os reforços são contratados para ele?
Correto. Buscamos os que se adaptam ao nosso estilo de jogo. Mas a direção também coloca necessidades, como rejuvenescer o elenco, trazer jovens de qualidade. É bem por aí mesmo.

E nesta decisão da Recopa Sul-Americana? Será um título inédito para o clube, mais um... O que esperar do seu time?
Vou cobrar desempenho técnico e muita concentração. Título se ganha assim, ambição, coragem. Se unirmos tudo isso à tática, temos grandes chances.

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