Desigualdade social, o combustível da violência no futebol colombiano

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Uma combinação entre desigualdade social e herança das disputas de grupos de narcotraficantes por territórios registradas na década de 1990, temperada com uma rivalidade exacerbada entre clubes e cidades. Mistura que resulta em confrontos cada vez mais comuns envolvendo torcedores na Colômbia.

Ao mesmo tempo em que os colombianos comemoravam sua volta à uma Copa do Mundo após 16 anos, o futebol do país foi sacudido com uma escalada de mortes ligadas à rivalidade futebolística. Em 2013 foram oito mortes, sendo que três apenas na última semana de setembro. Fato que fez o clássico entre Millonarios e Atlético Nacional ser suspenso.

- A violência no futebol colombiano é resultado direto das desigualdades sociais em nosso país. Basta ver que a maioria dos envolvidos nestes delitos são jovens sem qualquer tipo de esperança, e que vivem à margem da sociedade - explicou ao LANCE!Net o repórter do diário "El Colombiano", Jaime Herrera.

Impressiona a faixa etária dos torcedores imputados nos casos de violência envolvendo as "pandillas", como são chamadas as organizadas colombianas. Geralmente são jovens entre 16 e 25 anos, cujas emboscadas com armas brancas são as formas preferidas de ataque.

- São tipos que sentem não ter nada a perder. Muitos são produtos de famílias desestruturadas, vítimas de tragédias sociais. A disputa por territórios que havia no passado, quando o narcotráfico era mais poderoso, deixou uma trágica herança - afirmou Herrera.

Além disso, a rivalidade entre cidades é tamanha que, atualmente, vestir uma camisa na cidade errada pode ser uma sentença de morte.

- Chegamos ao ponto em que você pode morrer simplesmente pelo fato de estar andando em Medellín com uma camisa do Millonários, ou do com uma do Atlético Nacional em Bogotá - completou o jornalista.

O momento dramático fez com que os jogadores da seleção colombiana divulgassem uma carta aberta, pedindo paz aos torcedores.

- Os jogadores da seleção colombiana de futebol querem fazer um chamado de consciência e reflexão sobre a visão, e o verdadeiro papel do futebol em nossa sociedade. Os tristes acontecimentos de violência que presenciamos em várias cidades do país vão na contramão da função social do esporte. Com grande esforço de milhares de colombianos, igual a nós, vamos ver nesta atividade uma forma de aproveitar e mostrar a cara positiva da Colômbia - foi o primeiro parágrafo da carta.

Ainda assim, a violência não cessou. No último dia 27 de janeiro foram registradas mais duas mortes antes do clássico de Medellín, entre Atlético Nacional e Independiente.

Violência na Colômbia: briga já terminou em velório no estádio

Casos recentes de violência no futebol colombiano:

27/01/14 - Duas mortes antes do clássico entre Atlético Nacional e Independiente de Medellín. Um jovem de 16 anos, torcedor do Atlético Nacional, foi morto a punhaladas. Outro, torcedor do Independiente, de 20 anos, foi assassinado dentro de sua própria casa após ter discutido minutos antes com torcedores do rival.

07/11/13 - Dago Farney Higuera, de 17 anos, torcedor do Santa Fé morto por disparos de arma de fogo em Bogotá. O assasinato foi cometido por um grupo de desconhecidos.

28/09/13 - Andrés Felipe Gallego, torcedor do Once Caldas, foi esfaqueado por torcedores do Deportivo Cúcuta horas antes da partida entre os dois clubes. Apesar dos ferimentos graves, ele sobreviveu.

24/09/13 - Carlos Andrés Medellín, de 20 anos, morreu após confronto entre torcedores de Millonarios e Atlético Nacional em uma estação de ônibus em Bogotá. Os incidentes fizeram cancelar o clássico entre as duas equipes.

24/09/13 - Carlos Javier Rodríguez, de 21 anos, morto por arma branca. Era torcedor do Atlético Nacional e foi morto por outro do Millonarios.

21/09/13 - Pedro Contreras, de 66 anos, morto por torcedores do Millonarios ao tentar defender o seu filho, que vestia uma camisa do Santa Fé.

26/07/13 - O jogo entre Atlético Huila e Atlético Nacional teve de ser interrompido após torcedores do Huila terem invadido o gramado. Um total de 18 torcedores acabaram proibidos de frequentar estádios até o fim de suas vidas.

25/06/13 - Sebastián Jiménez, 16 anos, torcedor do Boyacá Chicó. Foi atacado a facadas por um torcedor do Patriotas. Ficou internado nove dias antes de morrer.

22/06/13 - Oscar Sandino, 28 anos, torcedor do Millonario morto vítima de arma branca. Foi apunhalado por um seguidor do Deportivo Cali. Seu caixão foi velado pelos torcedores em pleno estádio El Campín, em Bogotá.

13/05/13 - Matam a tiros, em Itagüi, o torcedor do Once Caldas conhecido como Juan David Atehortúa, de 22 anos. Ele voltava para Manizales após assistir ao jogo de sua equipe contra o Atlético Nacional, em Medellín.

16/04/13 - Daniel Sánchez, torcedor do Once Caldas, levou uma punhalada nas costas ao cruzar com um grupo de torcedores do Atlético Nacional.

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