Crise na Ucrânia afeta o futebol e envolve brasileiros

Michel Huff (Foto: Divulgação)
Michel Huff (Foto: Divulgação)

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A crise política envolvendo Ucrânia e Rússia tem reflexos diretos no futebol - o Campeonato Ucraniano começa nesta sexta-feira. Conflitos em regiões de fronteira, cidades ucranianas tomadas por manifestantes pró-Russia, mortes, violência e até a queda de um avião, que matou 298 pessoas, são ingredientes que afastaram jogadores, causaram episódios inusitados e culminaram na extinção de alguns clubes. Em vários casos acima, brasileiros viveram esse drama de perto.

No Shakhtar Donetsk, cinco brasileiros se recusaram a voltar para a Ucrânia após um período de pré-temporada: Alex Teixeira, Fred, Douglas Costa, Dentinho e Ismaily. No Metalist, o brasileiro naturalizado ucraniano Edgar chegou a ser convocado para defender o exército do país. E na região da Crimeia, anexada ao território russo após referendo popular, dois clubes fecharam as portas e devem mudar de nome para começar do zero em divisões inferiores da Rússia: Sevastopol e Tavriya. Com isso, um brasileiro que já chamava a atenção no Ucraniano acabou desempregado.

O meia Farley, de 21 anos, passou pela base do Cruzeiro e do Sporting (POR), se transferiu para a Ucrânia e foi eleito uma das dez melhores contratações na temporada passada. O clube que defendia, o Sevastopol, fica na região da Crimeia, cuja população em sua maioria é pró-rússia e optou pela anexação ao país de Vladimir Putin. Com um cenário de mudanças e incertezas, os salários ficaram atrasados, jogadores foram dispensados e as atividades encerradas.

– Depois dessa mudança da região da Crimeia para a Rússia ficaram várias opções no ar do que aconteceria com o clube, se jogaria a Liga Russa, mas precisando começar na Quarta Divisão, ou se  mudaria de cidade e jogar a Primeira Divisão da Ucrânia. Eram incertezas, nós jogadores não sabíamos de muita coisa. Então, há poucas semanas, o presidente, que é ucraniano, resolveu acabar com o clube e liberou todos os jogadores – disse o brasileiro Farley.




Outra cidade que tem boa parte da população pró-Rússia é Kharkiv, local de treino e jogos do Metalist, clube que tem vários brasileiros no elenco. Porém, de acordo com o preparador físico Michel Huff, o clima na região ainda é de tranquilidade:

– Em Kharkiv levamos uma vida normal. Não mudou em nada, desde quando começaram os problemas na Ucrânia. Nossa rotina não mudou em nada. Treinamos todos os dias, vivemos tranquilamente, venho de carro para o clube, saio para jantar...  A cidade vive o seu dia a dia:

- É uma cidade equilibrada politicamente. Muito se falou que Kharkiv passaria pelos mesmos movimentos (de conflitos), é pró-Rússia. O idioma mais usado é o russo, estamos a apenas 50 quilômetros da fronteira. Temos praticamente a mesma cultura da Rússia. Houve algum momento crítico, como a invasão na sede da prefeitura. Mas tudo acabou sendo contornado.


Bate-bola: Farley, ex-jogador do Sevastopol

1- Como foi o período de crise na região da Crimeia?
 
R: A crise na Crimeia começou em janeiro, quando voltei das férias. Acho que a população da região queria essa mudança, pois eu via muitas famílias com problemas financeiros, acho que a anexação à Rússia fará bem para a Crimeia. Talvez seja essa a solução encontrada pela população para melhorar de vida.

2- Houve violência? Você estava preocupado com toda essa situação tensa?

R:Nesse período, não presenciei nenhuma violência, só via por televisão, jornais e internet as notícias de que tinha violência em outras cidades da Ucrânia, e com mortes e vandalismo. Existia uma sensação de segurança na cidade porque o exército russo tomou a cidade de Sevastopol e a maioria da população era a favor da anexação. O exército russo não deixava que manifestações chegassem à cidade.

3- Como foram os momentos de ocupação da Crimeia pelo exército russo?

R: Após a votação que aprovou a anexação à Rússia, o exército russo tomou a cidade, e o clima era de tranqüilidade. Mas as informações de um ataque da Ucrânia sempre deixavam um ar de tensão

4- Com todo esse quadro, quais foram as maiores dificuldades encontradas pelo clube?

R: A dificuldade que encontramos foi em viajar para jogar nos fins de semana. Os voos, que duravam cerca de duas horas, foram proibidos. Começamos a viajar de trem, chegamos a levar 23 horas.

5- Você saiu de uma forma tranquila?

R: O clube começou a ser afetado financeiramente a partir de janeiro, comecei ficar sem receber todo o salário e os prêmios de jogo. Consegui a minha  liberação e agora estou livre para negociar

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