Sem apoio no país de origem, tenista batalha em federação por um sonho

Impedido de jogar Copa Davis pela Grã-Bretanha, Aljaz Bedene, nascido na Eslovênia, torce por mudança de regras da ITF, que hoje cria barreiras para os atletas com dupla cidadania

Aljaz Bedene
Aljaz Bedene disputou o Aberto do Rio em 2014 e 2016 (Foto: Bruno Lorenzo/Fotojump)

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O incentivo que Aljaz Bedene (51º do ranking da ATP) recebe de seus companheiros de equipe da Grã-Bretanha é um conforto para quem aguarda há oito anos pela realização de um sonho.

Impedido de jogar a Copa Davis no ano passado devido a uma mudança de regras da Federação Internacional de Tênis (ITF, na sigla em inglês), o jogador nascido em Liubliana, na Eslovênia, conta os dias para defender o Reino Unido, onde vive desde 2008, no torneio.

Em janeiro do ano passado, a entidade mundial do esporte decidiu que atletas com dupla cidadania não poderiam mais disputar a Davis, uma das mais prestigiadas competições do calendário. Mas Bedene alega que seu processo para obtenção do passaporte britânico teve início antes da alteração.

Após ter a solicitação negada em novembro de 2015 e ficar fora dos duelos que renderam à Grã-Bretanha o título da Davis sobre a Bélgica, seus advogados seguiram na batalha. No dia 20 de março, a ITF dirá se mudou ou não sua decisão.

– Será um dia muito importante. Não foi fácil não jogar a última Davis. Eu me preparei durante dias. O maior problema é a falta de respostas. Tive de esperar, esperar, esperar. Sigo esperando. Defender o país na competição é algo que realmente desejo – afirmou Bedene, ao LANCE!.

O tenista jogou pela Eslovênia entre 2008 e 2012, mas sem perspectivas. Os custos para se manter no alto nível eram altos, e não havia incentivo. Quem impulsionou a virada foi um amigo que conheceu em um torneio juvenil na Alemanha, em 2007.

Então técnico, John Morris levou o atleta para treinar sem custos em Londres (ING) e passou a gerenciar a carreira do segundo melhor britânico da ATP, atrás de Andy Murray (2º). Para obter a nova cidadania, ele teve de morar sete anos no novo país, onde vive com sua namorada e não pensa em sair.

– Resolvi mudar porque não tinha nenhum suporte da minha federação. Meus pais se esforçavam para pagar todos os custos da minha carreira. Não havia agente – explicou o tenista, que sonha com a Rio-2016:

– Espero que haja alguma chance, mas eu realmente não sei se virei.

No Aberto do Rio, ele não levou sorte. Foi eliminado na primeira rodada de simples, pelo italiano Fabio Fognini (24ª), e de duplas, ao lado do espanhol Abert Ramos-Vinolas, por Thomaz Bellucci e Marcelo Demoliner.

BATE-BOLA
Aljaz Bedene
Tenista, em entrevista ao LANCE!

LANCE!: Aonde acha que pode chegar na carreira?
Aljaz Bedene: Meu grande objetivo é chegar ao top 10. No ano passado, cheguei pela primeira vez ao top 50. Todas as vezes que coloco em mente um objetivo e o alcanço, sinto-me motivado. Foi o meu segundo ano sem nenhuma lesão, o que me ajudou. Se eu continuar assim e der continuidade ao trabalho, sei que posso me colocar entre os 10. Estou treinando para isso. Tive cinco lesões no pulso, três no direito e duas no esquerdo. Não foram contusões pequenas. Agora, estou livre de todos os problemas.

L!: Como foi o processo para conseguir defender a Grã-Bretanha?
A.B.: Nunca é fácil mudar de país. Não sei exatamente quais são os detalhes, mas, sem dúvidas, o principal problema foi ter de morar sete anos em meu novo país antes de obter a documentação. Foi o que fez demorar tanto. Mas, no fim, consegui o passaporte e a dupla nacionalidade. Estou muito feliz. Nós nunca sabemos o que vai acontecer, então nunca quis deixar minha cidadania eslovena.

L!: A mudança de regra da ITF sobre a Davis pode afetar sua participação na Olimpíada do Rio?
A.B.: É difícil dizer. Meus advogados estão tentando todos os esforços para convencer a ITF, mas não sei detalhes. Sei que é preciso estar apto para jogar a Davis no ano anterior aos Jogos Olímpicos. Há muitas regras, algumas vezes há mudanças. Se eu conseguir, será ótimo.

L!: Como é sua relação com Andy Murray? O que pode falar sobre ele?
A.B.: É um grande cara, muito bom de ter em seu time. Em março (entre os dias 4 e 6), ele terá os confrontos contra o Japão na Davis, e eu estarei lá pelo menos para aquecer com ele. Não quero incomodar ninguém, só vou ficar na minha. Mas sé bom tê-lo como modelo. É um jogador que nos ajuda muito, seja aquecendo ou nos ensinando.

L!: Quais foram suas impressões sobre o Brasil?
A.B.: Eu já vim inúmeras vezes. Conheci Blumenau (SC), Santos (SP), São Paulo, Rio de Janeiro... sempre gosto de vir. As pessoas te tratam com naturalidade, são despreocupadas, e os torneios acontecem perto das praias.

QUEM É

NOME
Aljaz Bedene

NASCIMENTO
18/07/1989 (26 anos), em Liubliana, na Eslovênia

ONDE MORA
Londres (ING)

PREMIAÇÕES NA CARREIRA
US$ 1,22 milhão (R$ 4,89 milhões)

PRINCIPAIS RESULTADOS
Vice-campeão do ATP 250 de Chennai (IND), em 2015, quando perdeu a final para o suíço Stan Wawrinka; 11 vezes campeão de Challengers, incluindo Irving (EUA), Roma (ITA), Todi (ITA) e Banja Luka (BOS).

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