Agassi: ‘Odiei o tênis por 27 anos’

Americano comentou sobre sua autobiografia "Open" em um evento na Espanha.

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“Open” é a maior obra de referência bibliográfica de um atleta. Em visita à Madri, Andre Agassi concedeu uma entrevista ao jornal ‘El Pais’ falando sobre sua polêmica autobiografia lançada em 2009.

O livro aborda diversos temas importantes da vida do ex-número 1 do mundo. A figura de seu pai, os métodos de treinamento que adotava com o filho, a relação que tinha com o mesmo, relação essa que hoje Agassi alega ser muito boa. “Hoje a relação com meu pai é a melhor que ela pode ser”, comentou o americano aos risos.

Uma das mais chocantes revelações de um livro onde Agassi conta os mais íntimos detalhes de sua carreira, é a de que o americano realmente odiou o esporte por muito tempo e apenas seguiu sua carreira pois era a única coisa que sabia fazer.

“Odiei o tênis durante os primeiros 27 anos. Não havia olhado para ele mais profundamente”, apontou Agassi. “Quando eu parei e pensei no que dava sentido à minha vida, me dei conta do quão desconectado eu estava do que eu fazia. Era como um soltado na guerra: era algo danoso e um desperdício, mas você não percebe isso até estar aqui fora. É quando você se dá conta de que está fingindo ser algo que não é.”

“Não se tratava apenas de escrever um livro, mas sim de usar esta ferramenta para entender toda minha vida. Era muito importante organizar minhas ideias e sentimentos e isso me levou a escrever um livro. Minha intenção não era que as pessoas me conhecessem melhor, mas sim que conhecessem melhor a si mesmas, pois às vezes através dos problemas e dos caminhos de outro pode ver a si mesmo.”

No livro, Agassi revela que consumiu substâncias proibidas, um fato que gerou respostas não muito positivas de grandes nomes do esporte. “Eu já esperava estas reações, mas creio que é mais respeitoso ler o livro e refletir sobre os fatos antes de tecer as críticas. E, sinceramente, não conheço muitos tenistas adeptos à leitura”, comentou Agassi aos risos e arrancando risadas dos presentes. “Me decepcionou um pouco a reação de Rafa Nadal, que comentou que eu estaria causando danos ao esporte. Entendo que, exatamente como Federer, estava protegendo o tênis. Sei que eles amam esse esporte, mas não foi um comentário muito fundamentado de sua parte. De qualquer forma, não tive medo de lançar o livro. A verdade sempre espanta o medo.”

Ainda que Agassi reconheça abertamente o ódio que teve pelo esporte, acabou reconciliando-se com o tênis. “Foi quando encontrei meu caminho, quando tive meus próprios motivos para jogar. Lembro que isso veio no Finals de 1997. Tive uma epifania: me dei conta que se não tomasse minhas próprias decisões, minha vida não me pertenceria. Tive que buscar minhas próprias razões e uma dessas foi a minha escola, ajudar as crianças que não tem chance de fazer suas próprias escolhas na vida. Neste momento o tênis passou a ser uma oportunidade, pela primeira vez era algo importante para mim e aí sim comecei a me sentir bem em quadra.”

Um dos aspectos que mais inquietam os tenistas, é a solidão causada pelo esporte. Apesar de estar rodeado todos os dias de uma equipe muito completa, a solidão em quadra é uma característica do esporte. “Em outros esportes você pode falar, se comunicar, no tênis isso não existe. Você tem um espaço enorme que te separa do seu rival e ao mesmo tempo uma forte conexão, ainda que não possa tocá-lo, ouvi-lo ou até mesmo ouvir sua respiração.”

Agassi, por fim, reflete sobre a fama, algo que sempre o acompanhou. “Qualquer coisa nova é excitante, interessante. Você está aprendendo e conhecendo algo e o começo é sempre fascinante. Mas isso dura pouco, quando você é famoso todo mundo te conhece mas isso não muda nada. A fama é uma distração, algo que te tira do caminho da vida que você realmente quer levar”, concluiu o americano.

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