Fabuloso chora em adeus ao São Paulo: ‘Estou morrendo um pouco’

Luis Fabiano recebe homenagens no CT da Barra Funda em sua última entrevista coletiva no Tricolor, se emociona com vídeos e vê sócio-torcedor chorar ao fazer uma pergunta

Luis Fabiano - São Paulo
Luis Fabiano recebeu homenagens de sócios-torcedores no CT da Barra Funda (Foto: Bruno Grossi)

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Luis Fabiano é um perfeito anti-herói. É daqueles bandidos dos filmes que cativa mais do que qualquer mocinho sem sal. O garoto de Campinas tornou-se herói por ter enfrentado "as lutas do Brasil", como definiu nesta sexta-feira. Tornou-se Fabuloso pelos gols - e foram muitos - pintados de vermelho, preto e branco. Tornou-se meio bandido, meio vilão por suas expulsões e "ajudar na briga", é claro. Mas, acima de tudo, porque é humano.

Foi o homem Luis Fabiano Clemente quem se despediu do São Paulo. Na sala de imprensa do CT da Barra Funda, batizada de "Auditório Telê Santana", encarou câmeras e microfones pela última vez como cidadão são-paulino. Emocionado desde o discurso do presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, o ídolo chorou, gargalhou e decretou: não haverá novo Fabuloso!

- Quero agradecer a todos. Todos foram importantes em minhas passagens, conquistei muitos amigos e vai ser difícil me desligar desse clube nos primeiros meses da jornada. Mas saibam todos que estarão no meu coração. Futebol passa, números ficam marcados, mas o que marca mesmo são os verdadeiros amigos e o carinho de todos - discursou, já com lágrimas nos olhos.

'Eu me emociono. É uma bênção estar presente quando o Luis Fabiano se despede do clube. Em 2002, como diretor de futebol, concretizamos um negócio fabuloso', relembrou Leco

Marejados estavam também os olhos de Leco, tão torcedor do clube como os sortudos sócios que puderam participaram do evento. Agora presidente, o cartola relembrou com voz embargada do momento em que firmou um dos primeiros contratos de Luis com o São Paulo, ainda em 2002. Em poucos minutos, o mandatário se rendeu ao ídolo com abraços e presentes: uma miniatura do Morumbi, um livro de fotos, um quadro, depoimento ao vivo de Rogério Ceni e vídeos de França, Reinaldo, Kaká, Lucas e até Daniel Alves, parceiros especiais de toda sua carreira.

Luis deixa o São Paulo atordoado pelo fim de um "casamento intenso". Diz não saber para onde vai e se atrapalha só de pensar em, um dia, entrar no Morumbi como adversário. Sem rumo, despejou mais lágrimas quando encarou pergunta feita aos prantos por um dos torcedores, de quem garante ser o mais fiel representante em campo. E função que exercerá com afinco neste domingo, 17h, quando o clube que "aprendeu a amar" decidirá uma vaga na próxima Copa Libertadores da América.


- Não estou parando de jogar, mas estou morrendo um pouquinho (risos). Vai ser difícil, os primeiros meses serão duros, mas vai passar. Vai mudar totalmente meu costume de vir ao CT todo dia, mas espero ter forças para seguir jogando do mesmo jeito onde for. Ainda não me passou pela cabeça enfrentar o São Paulo, mas seria muito estranho, diferente... Não sei nem se conseguiria jogar, de verdade - confessou o centroavante.

Confira outros trechos da coletiva do adeus de Luis Fabiano:

O que gostaria de dizer agora?

Obrigado por me aguentarem, por suportarem as brincadeiras e tudo o que passamos juntos. Ficará para sempre na minha carreira, na minha memória e na minha vida. Nos veremos em breve. Obrigado, de coração.

Pode voltar um dia?
Eu sempre demonstrei a vontade de permanecer. O momento é de novos projetos aqui, mas não vou me desligar. Se tiver uma nova oportunidade e Deus me der condições e força, além da vontade da diretoria que estiver, voltarei. Nunca vou negar, sempre estarei disponível para esse manto sagrado.

NÚMEROS:<br>​352 jogos,&nbsp;​212 gols<br>186 vitórias, 69 empates e 97 derrotas

Sai realizado do clube?
Gostaria de ter conquistado mais coisas, mas não me arrependo de nada. Saio de cabeça erguida porque vesti essa camisa da forma mais honesta e leal, dando meu máximo. O amor que tenho por esse time é verdadeiro. Saio feliz por ter jogado no time que gosto, algo que a maioria não consegue na carreira.

Qual o momento mais marcante no clube?
Não tem coisa mais especial do que o Morumbi lotado, sem jogo, só para minha apresentação (em 29 de março de 2011). Vai ficar no meu coração sempre. Foi maravilhoso, inédito no Brasil, transmitido ao vivo em vários canais... Isso foi um marco na minha carreira. Poderia falar de gols, mas esse carinho para me ver rapidamente marcou demais.

O que faria de diferente?
Foi um casamento intenso, com brigas, mas com amor das duas partes. Talvez mudasse um jogo específico, na Libertadores de 2004. Isso ficou entalado na garganta, mas de resto valeu por todos os gols, brigas e números que ficam. Esse era o meu destino. Foi bom, valeu e não tenho nada para me arrepender.


Onde jogará em 2016? (Acerto com o Tianjin Songjiang, da China, está perto).
Vou para minha casa porque não tem nada definido ainda (risos). Como ainda tinha a chance de jogar o último jogo e eu não poderei, infelizmente, decidi deixar tudo para depois. Será na semana que vem a decisão. Vamos definir com tranquilidade onde será a nova aposta.

Verdade que o Rogério Ceni pediu para que viaje a Goiânia?
Não precisa pedir, estou na barca e 'tamo junto'. Vou para lá ficar na torcida e conquistar a vaga. Vou ficar aqui com eles até o último minuto, não tem jeito.

Qual o balanço das três passagens?
Representei em campo cada um que está na arquibancada, honrando a camisa e jogando com raça todos os jogos. A torcida tem um carinho por isso, se identifica com a história de luta do Luis Fabiano. Eles me adotaram por isso, pelas lutas que temos no Brasil. Saio com dever cumprido. Mesmo sem tantos títulos consegui o respeito do torcedor.

NÚMEROS NO MORUMBI:<br>171 jogos, 125 gols, 109 vitórias, 30 empates e 32 derrotas. A média de 0,73 gol/partida é a maior da história do clube no estádio

Rogério Ceni interrompe a coletiva :
Quero agradecer tudo. Foi uma honra trabalhar contigo desde 2001. Não é para qualquer um chegar a 212 gols, terceiro maior artilheiro. Desejo um grande futuro e sorte para você. É um dos três maiores matadores da história do clube, dos maiores que vi.

O que representou a frase "entre bater o pênalti e ajudar na briga, prefiro ajudar na briga", dita em 2003, para sua carreira?
Se estou no campo, estou com os companheiros até a morte. Eu tinha 22 anos naquele jogo com o River Plate e expressei o que pensava naquele momento. Entre bater o pênalti, eu preferi ajudar os companheiros no braço. Foi um marco. Até hoje riem da piada, da frase, me param na rua para lembrar. Ali era o Luis Fabiano de verdade, não tem como esconder. Foi um marco. Muita gente passou a me ver diferente depois dessa grande frase. Quase um poeta.

Quando tempo pretende jogar ainda?
Minha carreira vai depender do estado físico. Se eu continuar ajudando mais dois três anos, vou seguir. Se vir que não dá mais, paro. Depende das condições em que eu me encontrar. Vou até quando aguentar. Depois a gente sabe que é traumático, então vou desfrutar muito. Sei que não tenho mais seis anos, então vou aproveitar o máximo do máximo. Vai ser duro, mas vou nessa.

Luis Fabiano - Sport 2x0 São Paulo
Luis e a fama de bad boy geraram problemas com os árbitros nas últimas temporadas no futebol brasileiro (Foto: Aldo Carneiro)


A quem dedica toda a carreira?
Dedico tudo a meu avô mesmo. Ele recortou um pedaço pequeno de jornal quando estreei pela Ponte Preta com 17 anos e andava para todo lado com aquilo. Teve meu pai me ajudando muito na carreira e muitos outros, mas meu avô é o mais especial. 

Tomou muitos cartões pela fama de bad boy?
Tomava alguns injustos, mas não sou santo, né (risos)?

Pode haver um novo Luis Fabiano?
É difícil, hein? Não vai ter outro, não!

Parece que você não gostaria de sair. Por que deixar o clube, então?
Não sei, sinceramente (risos). Não sei. Não houve conversa, não houve nada, o tempo foi passando diante de muitos problemas, renovações ficaram para trás. O tempo passou e estou me despedindo. Faz parte do futebol, é uma coisa normal. Outros estão saindo comigo, mas aconteceu. 

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