Ceni na Inglaterra: ida ao treino de bicicleta, estudos e teste como técnico

No aniversário de sua chegada ao São Paulo, Mito falou sobre aposentadoria: faz curso na Federação Inglesa, já visitou grandes clubes e até já deu treino para equipe da 7ª divisão

(foto: Reprodução/Facebook)
Ceni acompanhou treinos de clubes da Premier League, como Chelsea e Leicester (foto: Reprodução/Facebook)

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O São Paulo celebrou a data de chegada de Rogério Ceni ao clube com uma entrevista exclusiva com o ex-goleiro. Nesta quarta-feira, 7 de setembro, completou-se 26 anos que Ceni passou na peneira e iniciou sua trajetória vencedora no Tricolor. Este é o primeiro ano sem o Mito desde então.

Na entrevista, Ceni conta detalhes de sua vida na Inglaterra, onde está fazendo um curso para ser treinador. O ex-goleiro utiliza metrô, bicicleta e até vai à pé para os locais das atividades em Londres. Ele já visitou alguns clubes da Premier League para acompanhar treinamentos, como o atual campeão Leicester, o Chelsea e o West Ham, e até já deu um treinamento como simulação para uma equipe da 7ª divisão inglesa.

Ceni se aposentou no fim do ano passado, aos 42 anos. Foram 25 de São Paulo e inúmeros recordes, títulos, como os de campeão da Libertadores e Mundial, em 2005. O ex-goleiro se prepara para ser treinador. Ele aproveitou e elogiou Ricardo Gomes, que atualmente comanda o Tricolor. Os dois trabalharam juntos entre 2009 e 2010, quando da primeira passagem de Ricardo.

Confira abaixo a entrevista de Ceni ao site oficial do São Paulo.

Este é o primeiro aniversário da sua chegada ao São Paulo desde que você deixou os gramados, o que mudou na sua relação com o clube nesses nove meses?
Na relação profissional com o clube é claro que existe um distanciamento, até porque eu não sou mais atleta profissional do São Paulo, mas o carinho e toda a paixão permanecem. Continuo assistindo aos jogos, indo ao estádio quando é possível. Agora, viajando um pouco mais, não dá pra acompanhar tão bem o time como quando eu jogava (risos), mas o amor pelo clube continua o mesmo. Além disso eu sempre falo por telefone com algumas pessoas, também pude encontrar na Seleção o Rodrigo Caio, o Betinho (fisioterapeuta)… Tenho um carinho pelo clube que será levado para sempre.

Como foi vir ao Morumbi como torcedor?
É diferente. Claro, em uns jogos você sai feliz com as vitórias, em outros, lógico, você sai triste com a derrota, mas é uma situação bem diferente. Não digo nostálgica porque eu me sinto bastante realizado como atleta, mas é uma visão diferente do jogo, uma maneira diferente de enxergar a partida. Mas sempre na torcida, sempre esperando que as coisas boas aconteçam para o São Paulo.

Você está em um período de estudo na Inglaterra, que curso você está fazendo e o que significa essa nova etapa?
Estou fazendo um curso da Federação Inglesa, a FA (English Football Association). São dois níveis, primeiro, dois blocos separados. Há a opção de fazer cada bloco e depois seguir no curso da UEFA, aqui também na Inglaterra. Para mim tem sido uma experiência muito prazerosa. Um pouco difícil, nos primeiros dias, com a língua, mas você vai se adaptando. Tem sido muito proveitoso, aborda não só temas táticos, técnicos, físicos, mas também o lado psicológico e social do esporte. Tem sido um aprendizado muito grande. Além disso, já visitei cinco clubes da Premier League e fico muito contente pela maneira como fui recebido, tive a oportunidade de conversar com treinadores da escola italiana, francesa, o Bilic, treinador do West Ham, que é croata… Conversei 30 minutos com cada um deles após assistir ao treino, sempre, que é o mais legal. Ouvi respostas muito interessantes, pensamentos diferentes, culturas diferentes, times de tamanhos diferentes, com desejos, aspirações diferentes no campeonato, então é um aprendizado muito grande. Também fiz uma aula-teste com uma equipe da 7ª divisão daqui, pude dar um treinamento. Está sendo muito proveitoso. Muito puxado, porque eu acordo muito cedo e vou de metrô, bicicleta ou até a pé pro curso, muitas vezes, e ainda temos as visitas. É diferente, é uma vida muito diferente. Nos últimos meses eu não tinha tido uma rotina como essa, mas para mim está sendo um aprendizado como atleta, como ex-atleta e, principalmente, como pessoa está sendo um aprendizado muito grande. Queria, inclusive, aproveitar para agradecer ao amigo Charles Hembert, que me ajudou muito nesta passagem pela Inglaterra, visitando todos os clubes e auxiliando em tudo nesta estadia aqui.

O que você identifica de diferente no que está aprendendo do que é praticado no Brasil?
Na maior parte dos treinamentos a forma de praticar os exercícios é muito parecida com o Brasil, mas cada time que você visita tem uma prática que sempre traz alguma coisa diferente, e essa variação eu acho importante, porque se um dia você decidir ser treinador você tem variações de treinamento, de sistemas de jogo. Hoje eu vi um treinamento tático muito bacana, de um treinador com um conceito italiano, que joga com uma equipe que na maioria das vezes joga num 3-5-2. Quando falei com o treinador, o Mazzarri, eu disse que nós fomos tricampeões brasileiros jogando num 3-5-2, que é um conceito que muitas pessoas têm como defensivo e que na verdade não é. Você joga com uma linha só de três, em vez de quatro, mas tudo depende da maneira como a equipe joga, da disponibilidade e da característica dos jogadores que a equipe tem. Mas muito legal, muito bacana cada time que eu fui, cada experiência, cada sistema de jogo. Há aqueles que gostam de jogar com a posse de bola, os times que gostam de fazer a ligação direta, de jogar em contra-ataque, os tradicionais 4-4-2, o 4-2-3-1. Você conversa com treinadores para ver o que cada um tem de ideia. Tive uma historia bacana com o Claude Puel, do Southampton, que foi jogador do Monaco durante 19 anos, só jogou profissionalmente em uma equipe e depois se tornou treinador dessa equipe e foi campeão francês, inclusive, com ela. São coisas diferentes, de culturas diferentes do futebol, mas que no final a conversa vai ficando cada vez mais agradável. No final, o maior ganho que eu levo daqui é essa troca de experiências que eu levo com gente que já trabalha há muito tempo dentro do futebol.

Quais os próximos passos?
Ainda não sei. Já fiz a matrícula para o próximo nível do curso, agora em outubro-novembro. Quis garantir a vaga, mas voltando ao Brasil vou pensar se darei continuidade. Também estou fazendo contatos para que eu possa visitar outros clubes, estar por mais tempo em algum clube. Que eu possa ver uma semana completa de trabalho, de treinamentos. O que mais me deixa feliz é a receptividade de todos os clubes que eu fui, desde aqueles que têm jogadores brasileiros até aqueles que não têm, agradeço o carinho com que todos me trataram.

Quais as principais descobertas desse período longe dos gramados?
Eu sempre fui um apaixonado pelo que eu fiz, e tudo aquilo em que você coloca paixão tende a dar mais certo. Além disso, você vai descobrindo que existe uma outra vida fora do campo, que é diferente e você tem que se dedicar a uma coisa nova. Tem que começar não do zero, por que por um lado você tem a experiência durante tanto tempo, mas você tem que se dedicar, estudar, tentar entender o jogo, tentar entender novas culturas de jogo e tentar adaptar àquilo que você acredita, que você acha que é o mais adequado e pretende trabalhar, implantando sempre as características boas de cada treinador, de cada equipe. Uma coisa fantástica: os centros de treinamento aqui na Inglaterra. Desde as equipes mais simples até as mais conhecidas. Os gramados, a estrutura externa às vezes mais simples mas a interna de muita qualidade, é impressionante a qualidade dos centros de treinamento, dos estádios… acho que está sendo a maior experiência que eu carrego daqui.

Você falou sobre o encontro com o Rodrigo Caio na Seleção, acompanhou a conquista da medalha de ouro na Olimpíada?
Sim, claro. O único atleta são-paulino campeão olímpico no futebol! É muito merecido porque ele é um menino muito bom, de muito bom caráter e extremamente profissional, dedicado. Acho que ele merecia, realmente. E, jogando, fez uma dupla muito boa com o Marquinhos. Ele ficou muito feliz, eu tenho certeza, porque eu sei da dedicação que ele tem todo dia, é um grande profissional, fico muito feliz por ele por essa medalha.

Você trabalhou com Ricardo Gomes na primeira passagem dele pelo clube, como você vê esse segundo momento dele no São Paulo?
O Ricardo foi um dos caras mais bacanas dos que eu trabalhei. Acho que o São Paulo fez uma escolha fantástica pois é um cara de um caráter excepcional, é uma pessoa por quem eu tenho um carinho muito grande. Eu não pude vê-lo ainda, Não pude dar um abraço nele, mas acho que o São Paulo está em boas mãos, com um treinador de altíssimo nível - e uma pessoa, especialmente, de altíssimo nível.

Qual o objetivo do São Paulo na temporada?
O último jogo que acompanhei antes de vir foi o do Juventude, em que acredito que o resultado fugiu da expectativa do torcedor. É um momento delicado, difícil, mas acredito que o São Paulo tem totais condições, tem atletas, elenco, tem profissionais com capacidade de reverter essa situação. Acho que só o tempo vai dizer aonde o São Paulo pode chegar no campeonato. Primeiro é preciso conseguir as vitórias. Ainda faltam 16 rodadas, são quase 50 pontos em jogo e o time tem que tentar pontuar o máximo para acabar na melhor posição possível. Mas acho que o São Paulo está muito bem servido com profissionais do mais alto nível.

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