Velejadores brasileiros reclamam de equipamento e temem prejuízo no Rio

Convocados na RS:X, Ricardo Winicki e Patricia Freitas dizem que recebem peças danificadas e criticam monopólio na produção de materiais para a classe

Patricia Freitas e Bimba (foto:Divulgação)
Patricia Freitas e Bimba se veem prejudicados por fabricação de equipamentos (Foto: Divulgação)

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A vela brasileira já tem uma dor de cabeça a ser solucionada em 2016. Convocados para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro na classe RS:X, Ricardo Winicki, o Bimba, e Patricia Freitas estão preocupados com a qualidade dos equipamentos que eles terão à disposição.

Em maio deste ano, os atletas fizeram um abaixo-assinado à Federação Internacional de Vela (Isaf) e à fabricante Neilpryde, que fornece as quilhas (peças de sustentação das embarcações) à classe. De acordo com os dois, os materiais quebram com facilidade e apresentam defeitos que prejudicam o rendimento.

Após a mobilização, os responsáveis prometeram mudanças, mas os brasileiros não têm perspectivas de solução a quase sete meses do início da Olimpíada. Eles temem reviver na própria casa os problemas que tiveram nos Jogos de Londres (ING).

"Quando você tem um monopólio, sem um concorrente para ameaçar, o material quebra e nada acontece" - Bimba

Na ocasião, Bimba e Patricia reclamaram não só dos materiais, mas da falta de organização dos juízes, já que alguns concorrentes teriam trocado de equipamentos de maneira irregular no decorrer da competição.

– O fabricante não está conseguindo fazer de acordo com o que os atletas querem. As quilhas quebram e não têm o mesmo padrão de qualidade. Isso prejudicou muito meu ano de 2015 – disse Bimba, ao LANCE!.

Em maio de 2014, os velejadores receberam equipamentos custeados pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB). A entidade, ao lado da Confederação Brasileira de Vela (CBVela), é responsável por adquirir quilhas e outras peças. Velas e pranchas serão dadas pela organização da Rio-2016, pois todas terão as cores do Brasil.

– Temos de comprar muitas quilhas para conseguir uma que sirva. De todas que tenho, só uma funciona, mas de uma edição proibida para os Jogos. Um dos focos para o começo do ano é encontrar ao menos três quilhas boas para corrermos a Olimpíada tranquilos – contou Patricia.

A RS:X é uma das classes cotadas para trazer ao menos uma medalha ao Brasil em 2016. Tetra pan-americano em Toronto (CAN), Bimba foi prata na etapa final da Copa do Mundo deste ano, em Abu Dhabi (EAU). Patricia se sagrou bicampeã no Canadá e levou dois bronzes na Copa.

O L! procurou a Isaf e a Neilpryde, mas não teve respostas até o fechamento desta edição. Já o COB informou que está em recesso até o dia 3.

CBVela diz que apoia críticas

A Confederação Brasileira de Vela (CBVela) informou ao L! que a solução dos problemas relatados por atletas da RS:X cabe à Isaf e ao fabricante, mas disse apoiar a pressão por melhorias nos equipamentos.

“A CBVela está ciente da reclamação de vários atletas e apoia a manifestação a respeito da qualidade das quilhas, mas a solução efetiva precisa partir do fabricante e da Federação Internacional. É um problema que atinge não só os brasileiros, o que torna mais eficaz a pressão sobre o fabricante na busca por um equipamento de qualidade”, disse a entidade, em nota ao L!.

BATE-BOLA
Ricardo Winicki - velejador, ao LANCE!

‘Há milhões de dólares investidos, então ninguém tocava no assunto’

LANCE!: O que vai fazer para amenizar o problema com as quilhas?
Ricardo Winicki: O primeiro passo é investir na compra de quilhas, testes e medições para chegarmos à Olimpíada com uma dor de cabeça a menos. As que não forem excelentes repassamos à Vela Jovem para aproveitarmos o investimento pensando no futuro.

LANCE!: Como os atletas se mobilizaram para buscar uma solução?
R.W.: Ninguém reclamava, pois há milhões de dólares investidos. Eu era um dos que mais criticava. Fiz um abaixo-assinado entre os atletas, e enviamos à Federação Internacional (Isaf), à classe RS:X e à fábrica. Até então, quanto mais vendiam, mais eles lucravam. Quando você tem um monopólio, sem um concorrente para ameaçar, o material quebra e nada acontece.

LANCE!: O que ocorreu em Londres?
R.W.: Minha quilha era ruim. Quando pedi ao juiz para trocar, ele me disse: “Bimba, você é campeão do mundo (2007), pode trocar o que quiser”. Então, vi que a organização era uma bagunça. Tudo acontecia por baixo dos panos.

BATE-BOLA
Patricia Freitas - Velejadora, ao LANCE!

‘Até os Jogos do Rio, utilizaremos quilhas com defeito de fabricação’

LANCE!: Você também tem enfrentado problemas com as quilhas?
Patricia Freitas: As quilhas das mulheres, que são um pouco mais curtas, também apresentaram problemas, não somente de qualidade, mas de defeitos na construção. A classe (RS:X) se diz ‘one design’, ou seja, afirma distribuir equipamentos iguais a todos, mas desde os Jogos de 2012 não conseguiu fornecer nada semelhante.

LANCE!: Alguma medida já foi tomada?
Patricia Freitas: A classe e a Isaf prometeram melhorias, mas até agora nada eficaz. A Neilpryde disse que lançaria uma peça nova em setembro, após os Jogos do Rio, com mudanças na construção. Não querem entregá-las antes, pois podem seguir com problemas. Até os Jogos, usaremos quilhas com defeitos de fabricação.

LANCE!: Desde 2012, o que mudou?
Patricia Freitas: Depois do fiasco que foi Londres, a classe decidiu que, para o Rio, nós poderemos levar quilha, mastro e retranca (antes eram cedidos pela organização). Por isso a urgência em encontrar quilhas confiáveis.

A CLASSE RS:X

O que é
Popularmente conhecida como windsurfe, a RS:X tem uma prancha como base.

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Quilha
Viga posicionada no sentido longitudinal, considerada a espinha dorsal da embarcação.
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Mastro
Peça vertical que sustenta a vela.

Retranca
Interface entre o atleta e a vela, que o permite direcionar a embarcação enquanto veleja.
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Rio-2016
As pranchas e velas serão cedidas pela organização dos Jogos, enquanto as quilhas, mastros e retrancas podem ser levadas pelos atletas, porém dentro dos padrões do evento.

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