‘Tivemos um sinal de alerta em 2015’, diz Adriana Behar sobre desempenho olímpico brasileiro

Peça importante do COB para a Rio-2016, ex-atleta e agora dirigente do comitê cita lesões e trabalho para obter vagas olímpicas como motivos para ano irregular do país

Adriana Behar posa para foto no Parque Aquático Maria Lenk, no Rio (Foto: Alexandre Castello Branco/COB)
Adriana Behar posa para foto no Parque Aquático Maria Lenk, no Rio (Foto: Alexandre Castello Branco/COB)

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Nos dois primeiros meses de 2016, os brasileiros que deverão competir na Olimpíada do Rio começaram com tudo, com medalhas importantes em competições internacionais no judô, vela e ginástica artística, entre outras modalidades. Algo que volta a dar esperança de um bom desempenho nos Jogos após um 2015 preocupante.

No ano passado, o país obteve 16 medalhas nas principais competições nos esportes olímpicos, como em Campeonatos Mundiais ou eventos equivalentes. Uma performance que acabou não sendo celebrada pela comunidade esportiva nacional. Nem mesmo pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB).

Dentro do comitê, o resultado geral acabou servindo como um sinal de alerta, segundo relatou a ex-jogadora de vôlei de praia e medalhista olímpica Adriana Behar, atual gerente geral de Planejamento Esportivo do COB.

Em entrevista ao LANCE!, por telefone, a dirigente disse que lesões e a busca por vagas olímpicas acabou influenciando no número de pódios em 2015. E falou que a campanha pode servir para não deixar os atletas em uma zona de conforto.

Confira a entrevista a seguir:

Qual é a avaliação do COB sobre o desempenho dos atletas brasileiros neste ciclo olímpico, e também no ano de 2015?
O balanço foi positivo, pelo número total de medalhas conquistadas. Tivemos um aumento no número de modalidades ganhando medalhas, houve uma expansão no cenário internacional. Na comparação entre os anos de 2009 e 2013, saltamos de nove para 27 medalhas, depois de 15 para 24 (de 2010 para 2014), e em 2015 mantivemos o mesmo número de 2011, de 16. Dentro desta evolução, há um ponto de atenção por melhores resultados. É um sinal de alerta. Mas no ciclo como um todo, não podemos esquecer dos anos anteriores a 2015. Neste contexto esportivo, o saldo é positivo.

O ano de 2015 serviu então como um sinal de alerta em termos esportivos para o COB?
É óbvio que não somente o Brasil evoluiu, mas também outros países. Tivemos algumas situações de lesões importantes, e não dá para omitir tais situações. A lesão tira do atleta a oportunidade de competir e conquistar resultados. Algumas modalidades se concentraram mais em um trabalho de base para garantir um ano melhor em 2016, outras buscaram um posicionamento no ranking mundial para buscar vagas olímpicas, como foi a equipe masculina no Mundial de Ginástica Artística. Neste caso, a prioridade foi conquistar a vaga da equipe na Rio-2016, ao invés do resultado individual. Cria-se uma expectativa, mas esses pontos impactam no desempenho.

" É um sinal de alerta positivo. O atleta não pode ficar em uma zona de conforto. Tem que ir em busca de melhoria e evolução"

Qual é o tamanho deste sinal de alerta?
Digamos que é normal. Não foi grande. Não podemos esquecer os anos anteriores a 2015. Não podemos esquecer o plano estratégico, de obter mais vagas olímpicas. É um sinal de alerta positivo. O atleta não pode ficar em uma zona de conforto. Tem que ir em busca de melhoria e evolução. Estamos fazendo neste ciclo olímpico a melhor preparação de todos os tempos.

A meta do COB de ser top 10 na Olimpíada Rio-2016 no total de medalhas está mantida após o desempenho em 2015?
Sim, está mantida. Obviamente ela é agressiva. É importante dizer que ela é factível, com este número de 27 ou 28 medalhas. É preciso olhar o histórico de outros países que ficaram nesse número no total de medalhas. É claro que essa média depende da distribuição de medalhas em outros países.

Qual é o foco do trabalho do COB nos próximos meses, visando a Rio-2016?
Nosso foco será manter os atletas em competições para terem ritmo e prevenir lesões. Em todos os processos e serviços, estamos voltados para os detalhes finais. Ainda temos atletas buscando a classificação olímpica, não temos delegações fechadas. A lapidação final está sendo individualizada. Isso é o mais importante, personalizar o tipo de serviço.

"O Cielo, por tudo o que ele fez, continua sendo um atleta muito importante para o Brasil. E nessa questão de personalizar o trabalho, pelo histórico e pela experiência passada dele, ele resolveu ir para os Estados Unidos, onde conseguiu os melhores resultados"

O COB teme que o nadador Cesar Cielo, um dos maiores atletas da história olímpica brasileira, fique fora da Rio-2016?
O Cielo, por tudo o que ele fez, continua sendo um atleta muito importante para o Brasil. E nessa questão de personalizar o trabalho, pelo histórico e pela experiência passada dele, ele resolveu ir para os Estados Unidos, onde conseguiu os melhores resultados. Esse acompanhamento próximo é importante, e continua sendo feito. A decisão do atleta tem que ser levada em conta. Ele está treinando com o técnico (Scott Goodrich) com quem obteve os melhores resultados. Temos que entender isso. Tudo isso foi feito em comum acordo conosco. A ida dele para os Estados Unidos foi feita em parceria com a confederação (CBDA), atendendo a uma solicitação dele.

Como tem sido o trabalho para prevenir lesões dos atletas nesta reta final para a Olimpíada?
A prevenção é muito importante nisso. Cada atleta é tratado como uma peça rara. Nesta reta final, temos que cuidar deles de uma forma muito atenta, e minimizar riscos. Como fui atleta, sei que isso pode acontecer. Faz parte da nossa vida.

E como este trabalho é realizado de fato?
Temos uma área de performance esportiva, assim como a área médica, a de ciência do esporte, a de biomecânica, a de análise de imagens e de movimento. Com isso, você consegue antecipar riscos. Na minha época não tinha isso. Você consegue antecipar qualquer tipo de lesão, se houver algum desequilíbrio muscular, alguma questão química, de movimento... Dá para prevenir também na parte da alimentação e no repouso, com todos os protocolos e procedimentos.

Como o COB pretende balancear estes meses finais para os atletas antes da Olimpíada, em que a exposição e o assédio tendem a aumentar, mas eles também precisam se focar nos treinos e em descansar?
É um desafio. Há essa exposição e o assédio aumenta, e ao mesmo tempo os atletas precisam se manter em alto nível e também repousar. É com isso que ele consegue se regenerar fisicamente e ficar 100% para o próximo treino. Todos precisarão entender que este é um momento importante. Só por meio do treino se pode alcançar um resultado. É preciso balancear essas demandas, obviamente pensando no resultado final, onde se possa minimizar interferências negativas e maximizar as positivas.

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