Ministro do Esporte ao L!: ‘Visão de sucesso da Rio-16 ficou mais intensa’

Leonardo Picciani visita o LANCE! e fala sobre o que espera para os Jogos, política e projetos para o futebol. Ele quer minimizar a violência nos estádios e investir no futebol feminino

Leonardo Picciani, ministro do Esporte
(Foto: Paula Mascára)

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Há 40 dias, como uma das consequências da mudança de governo, ele deixou de ser o deputado federal líder do partido que assumiu a presidência do Brasil para herdar o Ministério do Esporte às vésperas da Olimpíada.

Passada a surpresa, admitida por ele mesmo, de ter sido indicado para cuidar de um tema que não tinha tanta ligação, Leonardo Picciani está ficando cada vez mais íntimo da Rio-2016. É sob esse argumento que o ministro, em visita ao LANCE! na última sexta-feira, explicou o motivo do crescimento da expectativa em relação aos Jogos Olímpicos no Rio.

- Eu tenho certeza que a Rio-2016 será um sucesso. Já tinha essa visão antes e essa visão ficou mais intensa após a minha entrada no Ministério, quando eu tive contato mais direto. A Olimpíada será uma grande oportunidade para o Brasil e será um sucesso na parte esportiva quanto no legado - afirmou.

Picciani ainda garantiu que, pensando no pós-Rio-2016, o investimento no alto rendimento não irá ser diminuído.

- Não vamos andar para trás. Vamos avançar.

MISSÃO MINISTERIAL

A tarefa de assumir o ministério é mais difícil que você imaginava? Ou mais fácil?
Eu diria que é uma tarefa importante. Você precisa ter bastante atenção. É uma temática importante porque o brasileiro é apaixonado pelo esporte. Vivemos esse momento muito próximo dos Jogos, momento de acerto de detalhes, no qual tem que ter cuidado com os detalhes. A maioria das instalações está feita. Mas tem que assegurar que até o dia do começo tudo esteja perfeito. É um trabalho intenso, mas não vejo uma dificuldade adicional. Não subestimo o desafio, nem superestimo. Trato com a seriedade que merece.

"Queremos botar em dia. Tem coisa de 2006 que não tem conta prestada. Foi o quadro que me deparei".

Qual é a maior dor de cabeça?
Organizar o ministério é uma coisa que tem tomado bastante atenção. Queremos aperfeiçoar as prestações de contas. Tem coisas atrasadas junto ao TCU e a Controladoria Geral da União. Estamos querendo botar em dia esse passivo. Tinha uma demanda reprimida de prestação de contas de convênios e programas. Queremos botar em dia. Tem coisa de 2006 que não tem conta prestada. Foi o quadro que me deparei. A estrutura do Ministério não é grande. Temos que otimizar os meios. Uma questão seríssima é do legado, quais serão as destinações das instalações, fazendo com que o legado seja o melhor possível. Criei um grupo de trabalho para fazer esse planejamento. Vamos até antes da Olimpíada vamos ter um planejamento.

É um trauma da Copa?
A Copa teve sucesso. Mas tem características diferentes. Queremos que o legado olímpico seja de grande sucesso e tem tudo para ser, não só no Rio de Janeiro. Há instalações em todas as regiões do Brasil, centros de treinamentos. áreas de preparação. O Centro Paralímpico em São Paulo é uma instalação fantástica, o Centro de judô na Bahia... Tem equipamentos bastante importantes que têm que ser utilizados.

O senhor falou sobre legado, mas o curioso é que a situação mais incerta está no Maracanã. Tem conversado sobre o tema com as autoridades do Rio?
Eu não conversei com o governo do estado. A princípio, há uma concessão em vigor. Não sei dizer se ela será mantida ou não, já que isso é uma atribuição do estado.

POLÍTICA

Teve algum tipo de surpresa quando chegaram ao seu nome para a pasta? Afinal, você era o líder do PMDB na Câmara... E fatalmente seria o líder do novo governo...
De certa maneira foi uma surpresa, porque não era o meu planejamento de vida, nem minha expectativa. Mas foi uma boa surpresa. Primeiro que foi um bom desafio. Segundo, é um momento importante do Brasil e do Rio de Janeiro em especial. Todo esse tempo de preparação, sete anos, nenhum ministro era do Rio até a minha chegada. Considero uma deferência do presidente com o Rio ao colocar alguém do estado.

 Acha que te dar um ministério serviu para te tirar da Câmara depois do voto contra o impeachment?
De forma alguma. A maneira com a qual a bancada tomou a decisão no impeachment foi muito amadurecida. Na semana de votação decidiram pelo apoio. Eu, como líder, encaminhei o voto favorável, mas a bancada liberou a mim e mais sete deputados que tinham posição mais técnica na comissão que votássemos contra. Tanto isso não gerou trauma que o presidente Temer me chamou para ser ministro. O impeachment não é uma eleição indireta. Quando se votou, foi pelo prosseguimento do processo contra a presidente e não uma eleição entre ela e o vice.

O que acha da presença da presidente afastada na cerimônia de abertura?
Eu não tratei ainda com o Comitê Rio-2016. É uma responsabilidade do COI também o convite. Devo saber nos próximos dias o procedimento adotado. Da parte do presidente Temer, não há restrições.

Sobre Dilma na Rio-2016: "No Maracanã se vaia até minuto de silêncio. Então, quem entra lá não tem que ter medo nem de vaia".

Há uma preocupação que, com ela no estádio, haja vaias que atrapalhem a abertura?
Como diria Nelson Rodrigues, no Maracanã se vaia até minuto de silêncio. Então, quem entra lá não tem que ter medo nem de vaia nem de aplauso. Tem que estar preparado. Não acho que isso seja de relevância. A manifestação da população é livre. Não acredito em interferência na cerimônia de abertura, o Rio e o Brasil estão habituados a grandes eventos.

Já sabe quanto o governo federal vai custear das cerimônias de abertura e encerramento?
O Comitê vai nos apresentar os custos, os projetos, para que avaliemos se o orçamento está adequado. O governo vai tomar a decisão, a Casa Civil acompanha de perto essa tomada de decisão. O governo quer que o Brasil apresente uma abertura à altura do país e do que representam os Jogos Olímpicos. O presidente Temer citou que a abertura de Pequim foi muito falada, mas que a abertura do Brasil faria ainda melhor. Isso é a imagem do país. Bilhões de pessoas estarão assistindo à abertura em todos os cantos. Então, pretendemos ajudar.

E afinal, o Ministério do Esporte vai acabar?
De forma alguma. Total segurança. É um tema importante que nós daremos prioridade. A grande contribuição que posso dar é aumentar a força política do Ministério. O PMDB hoje governa o país e o partido do presidente está no comando do Esporte. Não é para desprestigiar.

FUTEBOL

Sobre futebol, em relação à Apfut: Qual o seu plano para a presidência da agência?
Devemos indicar nos próximos dias o presidente, submeter à decisão do presidente. Creio que o perfil é alguém que tenha conhecimento técnico, jurídico, envolvimento com o direito desportivo. Temos também que indicar os representantes do Ministério do Esporte e de outros Ministérios que têm membros na Apfut. Nas duas do Esporte, a minha ideia é ter alguém técnico, ligado ao direito, a alguém ligado ao Esporte. Conversei recentemente com alguns ex-atletas, mas devemos nos próximos dias definir. Ainda não tem fechado os nomes.

Já sabe quando vai receber o Bom Senso para discutir o lugar deles?
Não me pediram. Na hora que solicitarem, será de imediato.

Mas há chance de que o Bom Senso perca o lugar na Apfut?
Nenhuma. Os membros da sociedade eu não fiz nenhuma alteração. Estão todos mantidos. Tanto o Bom Senso, quanto os indicados pelos clubes. As alterações que fizemos foram nas indicações do governo, por duas razões. A primeira, é que elas foram feitas na véspera da posse, quando já se sabia da mudança de governo. Não foi o procedimento mais adequado. O segundo ponto é que os indicados dos Ministérios têm que fazer parte deles. Estavam mudando os ministros e não tínhamos certeza se as pessoas iriam continuar. Teve ministério que deixou de existir, como o da Previdência.

"O Ministério não pode ser um dificultador das atividades esportivas. Tem que ser um facilitador"

Já acharam uma solução para a questão da obrigatoriedade da CND este ano e o Profut? Entende que há risco jurídico para o Brasileirão? O secretário-geral da CBF, Walter Feldman, esteve lá e conversou com vocês...
Há uma discussão jurídica em torno desse tema. A lei do Profut foi positiva para os clubes e para o país. Tem termos duros, portanto, tem que ser cumprida. Há uma discussão jurídica envolvendo STJD, Ministério do Esporte. Nossa consultoria jurídica, vinculada à Advocacia-Geral da União, fará um parecer. Outra coisa que farei de imediato é a reinstalação do Conselho Nacional do Esporte, que é nosso órgão consultivo, opine sobre essa questão. O que eu posso dizer é que a lei será cumprida, mas a questão jurídica será cumprida. O Ministério não pode ser um dificultador das atividades esportivas. Tem que ser um facilitador, cumprindo a lei. Eu creio que em 30 dias temos condições de fazer isso.


Mais alguém te procurou?
Por parte da CBF, o contato que eu tive foi com o Feldman. Reputo como uma pessoa séria. Ele me procurou para falar um pouco das medidas que a CBF está tomando de modernização, transparência, torcemos para que dê bons frutos.

Ministro do Esporte se importa com a Seleção Brasileira? Achou o que da demissão do Dunga e contratação do Tite?
Todo brasileiro se preocupa com a Seleção. Infelizmente ela não tem tido sucesso ultimamente. A troca do treinador é uma decisão dos envolvidos. De modo geral,quando as coisas não vão bem, uma mudança às vezes é positiva. Vamos torcer.

"Como é que um pai não pode levar o filho ao jogo? É criminosa a prática da violência nos estádios"

A nomeação do Gustavo Perrella já saiu no diário oficial. Qual a missão para o novo secretário de futebol?
Qual a missão que eu dei para ele é cuidar dessa questão da violência nos estádios. Isso é inadmissível. Como é que um pai não pode levar filho ao jogo? É criminosa a prática da violência nos estádios. O Ministério pretende atuar fortemente nessa questão, tanto na prevenção quanto na punição para quem se envolver com esse tipo de atividade. Outra determinação é que o Ministério atue no apoio ao futebol feminino. O masculino não precisa de fomento, caminha com as próprias pernas, ele se autofinancia. Mas o feminino não, precisa de ajuda. Vamos a partir de agora, da nomeação, estipular um prazo para que a secretaria apresente um planejamento.

Sobre a violência, que tipo de medidas?
Vamos estudar. Se for o caso, vamos sugerir ao presidente o envio de medidas ao Congresso, que se aprove uma legislação mais dura de punição aos marginais que praticam esse tipo de ação. Vamos fiscalizar, ter operações sistemáticas. Vamos cobrar das autoridades policiais, tanto na identificação quanto na punição.

Essa questão da identificação é antiga. O projeto de cadastro de torcedores deve estar com teia de aranha...
Preliminarmente chegamos a tratar com o secretário. É tirar do estádio o cidadão que vai lá só para brigar e amedrontar o torcedor que vai para torcer, que é a maioria. Banimento... O cidadão que vai e briga uma, duas, três vezes não pode estar lá. Não é lugar dele ali, Temos que proteger as pessoas de bem.

Pensa em usar a nova Lei Geral do Futebol, que está sendo feita na Câmara, como instrumento?
Essa é uma iniciativa da Câmara dos Deputados. O Ministério acompanha e quando formos chamados a opinar, faremos isso. No momento, respeitamos a autonomia do legislativo. Mas temos boas ideias, uma modernização que favoreça a formação de novos atletas e não que os jovens de talento tenham que ir cedo para o exterior.

NOMEAÇÕES E FUTURO

Por que Luiz Lima na secretaria de Alto Rendimento?
Conversei com diversos atletas que poderiam ter ocupado a função. Luiz Lima me chamou a atenção pela motivação. Desde a primeira conversa, ele se mostrou muito motivado. Nossa intenção era ter um atleta e não um burocrata. O Ministério tem uma boa equipe técnica na secretaria de Alto Rendimento. A intenção era ter o atleta para ter a sensibilidade para desenvolver os programas para aquilo que os atletas precisam e da forma que vá funcionar melhor.

Já conversou com Luiz Lima sobre o que fazer com o edital de R$ 150 milhões para projetos que foi suspenso?
Esse foi publicado no dia em que eu tomei posse. Um impacto orçamentário grande. Nós, por precaução, suspendemos a publicação. Vamos voltar a discutir com as confederações e, se for preciso, fazer ajustes no edital. Queremos que seja o mais rápido possível, mas não faremos de qualquer jeito. É um projeto importante, que tem que ser feito com seriedade. Não adianta gastar o recurso e não ter o retorno, que é o fomento da prática do esporte de alto rendimento, a preparação dos atletas.

Evidentemente, o foco agora é a Rio-2016. Mas e depois?
Temos três pontos importantes. O primeiro é manter os investimentos na preparação do próximo ciclo olímpico no alto rendimento. Temos Bolsa Atleta, Bolsa Pódio. Vamos mantê-los e aperfeiçoa-los, talvez unificar em um único grande projeto. É uma discussão que vamos fazer. O foco do Ministério já está no pós-olimpíada. A atenção está redobrada nos detalhes para dar tudo certo, mas, do ponto de vista do planejamento, estamos pensando no pós-Olimpíada. Segundo ponto é conseguir intensificar o investimento no esporte como fator de inclusão social, educacional, para a maioria da população, que não vai ser atleta de alto rendimento, mas tem todo o direito de ter o esporte na formação, no dia-dia. A terceira é o cuidado com o legado, para que seja revertido para as futuras gerações.

Então as confederações podem ficar tranquilas?
Eu diria que é para ficarem tranquilas. Evidentemente o país passa por um momento difícil, precisamos recuperá-lo. Uma vez recuperada a economia do país, vamos conseguir colocar ainda mais recursos no esporte. Não tenho percentual, mas queremos avançar em relação ao que temos hoje. 

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