Jesus Morlán, um técnico acima de todas as expectativas na canoagem

Elogiado pelos dirigentes, incensado pelos atletas, o espanhol que colocou o Brasil no mapa do esporte se desculpa por ter sumido da mídia e mostra que não tem nada de sisudo

Espanhol Jesús Morlán inicia treinamentos na nova casa da canoagem brasileira (Foto: Pedro Arruda/ COB)
Espanhol Jesús Morlán inicia treinamentos na nova casa da canoagem brasileira (Foto: Pedro Arruda/ COB)

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A canoagem brasileira passou a ter um ídolo depois dos Jogos Olímpicos 2016. Embora fosse campeão mundial, Isaquias Queiroz só conseguiu se tornar uma celebridade após conquistar duas pratas e um bronze no Rio de Janeiro. Mas, para ter chegado tão longe, o baiano contou com a mão de ferro do treinador espanhol Jesus Morlán, um dos mais respeitados do mundo desde que conseguiu fazer  que um atleta seu, David Cal, ganhasse cinco medalhas olímpicas entre 2004 e 2012.

Com este currículo, Morlán foi contratado para ser o comandante da canoagem brasileira em 2013. Em três anos, muito trabalho com os atletas, quase nenhum contato com a imprensa e os resultados mais relevantes da história da canoagem. Papo com a imprensa, apenas nesta sábado, com o fim das provas e com direito a pedido de desculpas pela sua ausência na mídia.

- Sou falastrão. Mas sei que não fui de fácil acesso nestes últimos tempos, não dei a menor oportunidade para que falassem comigo. Mas isso fazia parte do plano, este isolamento para os Jogos. Peço desculpas - diz Morlán.


Esse estilo pode ser colocado na conta de que ele é muito supersticioso. Era assim na Espanha. Outras dessas manias: jamais falar de renovação de contrato antes de cumprir o seu ciclo. Os dirigentes brasileiros há meses tentam iniciar conversas sobre a a prorrogação do acordo por mais quatro anos e o treinador dizia que não, dava azar.

-  Por causa dessas superstições ele não queria conversa. Mas o que Jesus fez com a canoagem foi espetacular, com metodologia, consistência, acima de qualquer avaliação imaginada. Faremos todo esforço para mantê-lo, até porque o próximo ciclo se desenha ainda mais favorável, com a inclusão dos 500 metros no programa olímpico, exatamente a prova na qual o Isaquias é o melhor - diz Jorge Bichara Gerente de performance do Comitê Olímpico do Brasil (COB).

Os atletas assinam embaixo a importância de Morlán. O agora recordista brasileiro de medalhas em uma única edição de Olimpíada Isaquias Queiroz disse que sem o espanhol era provável que nem estivesse disputando os Jogos do Rio e que ele precisa permanecer no cargo.

- Quando Jesus chegou para ajudar, nós crescemos do zero ao 100. Em quatro meses ganhamos medalha em Mundial e isso mostrou o talento dele. Se eu treinasse sozinho ou com outro treinador talvez não fosse longe, mas ele sabe conduzir o atleta , é por aqui é por ali, eu quero assim. Ele pega pesado demais e queria nos colocar no auge da canoagem, nos ajudando. Agora mesmo estava ansioso em entrar na raia, fazer as provas e o Jesus, calma Isaquias, calma.

- Realmente usei a mão pesada com esses garotos. Principalmente nos últimos meses - completou Morlán, que espera seguir o seu trabalho linha-dura no Brasil.

. Já tenho ideias no rascunho, mas o COB tem muitos dirigentes, eles precisam autorizar o meu plano e aí renovamos. Depois, tenho de falar com os atletas, que precisaram fazer democraticamente o que o "cacete" manda - diz Morlán, com um olhar de lado e sorriso irônico.

O treinador está longe de ser sisudo. Na entrevista, conversou, fez brincadeiras do tipo" A Alemanha é uma potência, deveria ser proibida de disputar a canoagem" dava deixas para que os atletas até zoassem do seu estilo. Como fez Isaquias.

- Lá na nossa concentração em Lagoa Santa (cidade mineira onde a canoagem brasileira se preparou) trabalhávamos muito, mas era muito divertido, barulhento. Um dia ele chegou e colocou na porta "Não perturbe" falei para o pessoal que aquilo não iria dar certo. Não durou um dia.

Para os atletas tem o estilo durão e paizão, que se importa com a comida, com a preparação física, em deixar os atletas mais secos e não bombados, pois isso prejudica a dinâmica dos movimentos. E diz que o momento mais duro foi quando teve de fazer uma escolha: Isaquias como companheiro de Erlon na categoria C2, colocando Roni, que é o oitavo do ranking e parceiro e Erlon, na reserva.

- Era o que tinha de ser feito e Roni entendeu porque sabe quem é o Isaquias. Fiz pelo bem do time e não foi nada gostoso. Estou orgulhoso de ter tomado essa decisão, mas não estou orgulhoso de ter decidido isso. Mas neste próximo ciclo, caso eu permaneça, Roni volta a fazer dupla com Erlon.

Caso permaneça, será que Jesus Morlán será um pouco mais acessível para a imprensa? 

- Sei que não fui o treinador mais simpático do mundo para os jornalistas. Vou tentar mudar, mas não prometo nada - finalizou.

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