‘Os cangurus da Rio 2016’

Estragos à imagem dos Jogos, da cidade do Rio e do Brasil ainda exigem reparos muito maiores do que remendar encanamentos, limpar vidros ou substituir privadas quebradas 

Vila Olímpica
 (Foto: Roberto Castro/ME/Brasil2016)

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A troca de gentilezas na volta da delegação à Vila Olímpica selou na terça a paz entre o prefeito carioca Eduardo Paes e o time australiano, o primeira a chegar no domingo e a se surpreender com a falta de acabamento em boa parte dos 31 prédios que vão abrigar os atletas. Os problemas estruturais até parecem resolvidos, graças à ação de uma força-tarefa. Mas os estragos à imagem dos Jogos, da cidade do Rio e do Brasil ainda exigem reparos muito maiores do que remendar encanamentos, limpar vidros de janelas, substituir privadas quebradas ou embutir fios descobertos.

A crise da vila foi (e para sempre assim será lembrada) um desgaste desnecessário. Algo inteiramente evitável.  Num evento da magnitude de uma Olimpíada, lidar com o imprevisto faz parte da rotina. Por mais que os órgãos de segurança trabalhem direito, não se pode garantir com 100% de convicção que não haverá um incidente qualquer. Um atleta contrair zika – apesar de improvável nesta época do ano – é algo que não pode ser evitado. Até os engarrafamentos e eventuais problemas no sistema de transportes podem fugir ao controle das autoridades, quando se trata de uma operação com porte jamais visto na história da cidade.

Agora, que prédios inaugurados há mais de um mês não tenham passado por uma vistoria detalhada, não tenham sido testados antes de receber as delegações é algo absolutamente inadmissível. Não há nenhuma razão que justifique tamanho disparate a não ser a negligência ou completa incompetência dos responsáveis.

E, aqui, surge uma outra questão: quem são os responsáveis por tamanho absurdo?

O problema começa, é claro, com o descaso da Odebrecht e da Carvalho Hosken, empresas executoras da obra, num sistema de Parceria-Público-Privada. Mas vai muito além disso. A administração da Vila, desde que os prédios, as vias de circulação internas e os demais equipamentos de serviço e lazer foram entregues, é responsabilidade única do comitê Rio 2016. E essa responsabilidade, em última instância, tem nomes e sobrenomes: Carlos Arthur Nuzman, o todo-poderoso presidente do comitê, e Sidney Levy, seu diretor-geral e fiel escudeiro.

Tão inacreditável quanto os problemas rasos com os quais os atletas foram recebidos na vila, é a postura desses cartolas. Nuzman ainda falou, minimizando os problemas, quando saia de uma reunião terça-feira em Brasília. "Todos nós aqui moramos em apartamentos e casas, eu imagino, e todos nós aqui temos problemas em casa, ou será que não temos?”, perguntou o cartola. Sem considerar o fato de que uma simples vistoria, daquelas que todos nós fazemos antes de receber um imóvel, poderia ter evitado o problema.

Nuzman e Levy, na verdade, esconderam-se - como canguruzinhos com a cabeça enfiada na bolsa das mães - por detrás das declarações polêmicas e do espírito briguento do prefeito Eduardo Paes. Também jogaram às feras a ex-jogadora de basquete Janeth, prefeita da Vila, e o diretor de operações, Rodrigo Tostes, e em nenhum momento assumiram claramente suas (ir)responsabilidades. Como se espera dos comandantes em mares de tempestade.

Os 10.500 atletas que vão disputar esses Jogos, os cariocas e os brasileiros têm o direito de ver a cara dos verdadeiros responsáveis. De ter os pingos colocados nos is. Mas merecem mais do que isso, merecem um pedido formal de desculpas por parte dessa gente, pelos danos que causaram à imagem da cidade.

O Rio vem sendo atacado na imprensa brasileira e estrangeira por uma boa carga de problemas reais e outros tantos exagerados. Podia passar sem uma bobagem com essa.

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