Prazer, Alan: a joia que o Verdão tirou do SP e pode ser ‘a cara’ da base

Conheça a trajetória do meia de 17 anos, um dos principais nomes da reconstruída base palmeirense, e saiba o que o clube planeja para ele. Europa? Ainda não...

Alan Guimarães
(Foto: Divulgação CBF)

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O celular de Alexandre Mattos vibrou. A mensagem de WhatsApp vinha da Espanha, mais especificamente do Real Madrid. Era um dirigente garantindo ao diretor de futebol do Palmeiras que não tem a intenção de levar o jovem Alan Guimarães para lá no meio do ano que vem, como o jornal "As" noticiou em sua capa há uma semana. Não quer dizer, porém, que o armador de 17 anos não esteja no radar dos espanhóis - e de outros grandes europeus. Trata-se de uma das maiores promessas da base do Verdão no momento. Se não for a maior.

O Palmeiras acredita que Alan Guimarães pode ser, no futuro, um símbolo de força das categorias de base, que passaram por imensa reformulação nos últimos anos. Os frutos já estão aparecendo, mas a aposta da diretoria está na atual geração sub-17, da qual o meia é destaque. Acreditam que essa safra tem potencial para fazer sucesso como nenhuma outra na história do clube. Se isso se concretizar, a tendência é ir menos ao mercado. Mattos costuma dizer que a base ainda não está pronta para entregar atletas "sub-20" ao profissional, e por isso é preciso comprar jovens como Mina, Luan e Róger Guedes.

A descoberta de Alan foi um dos primeiros passos da transformação da base palmeirense, em 2014. Erasmo Damiani, profissional trazido por Paulo Nobre para coordenar as divisões inferiores, foi quem o contratou. A família do jovem pediu que o amigo Ronaldo, dono de uma escolinha em que ele jogava quando pequeno, atuasse como empresário na hora de escolher um clube. O São Paulo acabou ficando para trás.

- A família do Alan me chamou quando os clubes grandes começaram a fazer contato. Ele estava em avaliação no São Paulo fazia três meses, mas não tinha uma definição. Os outros clubes começaram a se interessar porque o viram viram no futsal. Corinthians, Santos, Inter, Ponte Preta, Portuguesa... Todos queriam. Como o São Paulo não definia e a proposta do Palmeiras era muito boa em relação a projeto, preferimos deixar o São Paulo e ir para o Palmeiras. Eles tinham um projeto novo e enxergavam que o Alan poderia ser uma referência lá. Foram muito atenciosos, muito profissionais, e isso impressionou a gente - conta Ronaldo.

- O Alan jogava futsal no time da Mercedes Benz, em São Bernardo, e começamos a receber informações de que ele era bom. Chamamos a família dele e demos uma explanação do projeto do Palmeiras, dissemos que o queríamos para longo prazo, porque era um jogador de qualidade técnica e tinha a inteligência do futsal. Ele se enquadrava no que estávamos pensando naquela época, de trazer atletas pensando em progressão, com 11, 12, 13, 14 anos, em vez de começar a trazer com 15. Tanto que montamos as categorias sub-11 e sub-13 - relembra Damiani.

Alan chegou ao Palmeiras pouco antes de completar 14 anos e passou os primeiros meses treinando tanto no campo quanto no salão, onde jogava como ala. Aos poucos, o garoto começou a se destacar em competições sub-14 e sub-15 e fixou-se no gramado.

O talento do jogador para deixar companheiros na cara do gol chama tanto a atenção quanto sua estatura: apenas 1,63m. Até hoje, isso nunca o impediu de se destacar. Basta lembrar que, durante toda a sua trajetória no Palmeiras, fez partidas com garotos mais velhos. No início de 2017, ainda com 16 anos, ele disputou a Copa São Paulo Júnior com atletas de até 20 anos. Seu maior ídolo não é nenhum grandalhão: Iniesta, de 1,71m, de quem não se cansa de ver vídeos no Youtube.

- Se você conversar com dez pessoas que veem os jogos, as dez vão dizer que ele é bom, mas não sabem se vai dar certo pela estatura. Dentro do Palmeiras já se questionou muito isso, só que a parte técnica do Alan é muito interessante. Se fosse no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina ou no Paraná, poderia ser que não virasse, porque a média de estatura nesses locais é muito alta, os jogadores são fortes, e aqueles mais técnicos têm um pouco de dificuldade. É diferente em São Paulo, no Rio, em Minas... O Messi virou jogador porque foi para a Espanha. Será que na Argentina ele seria o Messi? Será que o pessoal entenderia? - analisa Damiani, que deixou o Palmeiras em 2015 e conviveu novamente com Alan no período em que foi coordenador da base da CBF, até fevereiro de 2017.

Pela Seleção Brasileira, o prodígio palmeirense foi campeão sul-americano sub-15, em 2015, e sub-17, no início deste ano. Além disso, está se destacando no Mundial Sub-17, disputado na Índia: o Brasil perdeu a semifinal para a Inglaterra na última quarta-feira, mas ainda faz a decisão do terceiro lugar no sábado, contra Mali.

Segundo Damiani, "às vezes tem mais observador a serviço de clube europeu do que torcedor em jogos das seleções de base", o que colabora para Alan Guimarães ter o nome muito falado fora do Brasil. Consequentemente, o garoto torna-se conhecido dos torcedores e vê a pressão por sua promoção ao elenco profissional aumentar.

Mas o Palmeiras age com calma. Acredita que ele ainda não está pronto, não tem planos de promovê-lo tão cedo e tenta blindá-lo do assunto "Europa". Dono de 100% dos direitos econômicos do atleta, o clube renovou com ele em junho: o novo vínculo vai até 2020 e, extraoficialmente, fala-se em multa rescisória de 15 milhões de euros. O Verdão tomou o cuidado de não fazer um contrato incompatível com seu atual status, que por enquanto é apenas de "promessa da base". Quer mantê-lo com os pés sobre a terra.

- O Alan é bem tranquilo. Sempre que tem convocações ou quando sobe para outra categoria no Palmeiras, ele mantém a calma, mantém a frieza. Ele é sossegado até fora do futebol, não é um menino de mudar o jeito de ser por uma conquista ou outra. A gente tenta deixá-lo meio por fora das coisas, se chegou alguma coisa na família, no clube, no empresário... A gente deixa o Alan bem tranquilo. O que a gente combinou é o seguinte: tem que focar sempre no próximo jogo sem olhar para o lado. Se ele perder o foco, essas coisas que estão aparecendo na mídia não vão se realizar - completa Ronaldo.

Por enquanto, a experiência da joia com o elenco principal se resume a alguns treinos na Academia de Futebol. Em uma dessas ocasiões, já recebeu os parabéns de Dudu por uma bela assistência. A ideia do clube é intensificar o intercâmbio até senti-lo preparado para desabrochar. Não é hora de pular etapas e nem ter pressa.

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