Apaixonado pelo Central, técnico tenta deixar “loucura” no passado

Eduardo Coudet sonha em levar adversário do Palmeiras desta quinta ao primeiro título da Copa Libertadores. Ele já adiou o nascimento da filha por causa do Rosario Central

Eduardo Coudet
Eduardo Coudet assumiu o comando do Rosario Central no ano passado  (Foto: AFP / STR)

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A imagem do estádio Gigante de Arroyto lotado fascina Eduardo “Chacho” Coudet, 41 anos. Encantava quando era um voluntarioso volante e causa o mesmo efeito agora, que é técnico. Ele confessa entrar em campo e se pegar sussurrando as músicas da torcida. É apaixonado pelo Rosario Central na mesma medida em que é apaixonado pelo futebol.

Nesta quinta-feira, Coudet estará em São Paulo para comandar o time argentino contra o Palmeiras, no Allianz Parque, pela segunda rodada do Grupo 2 da Libertadores. Na estreia, empatou em 1 a 1, em casa, contra o Nacional (URU). Um resultado que surpreendeu o treinador. Negativamente.

- Não conseguimos repetir tudo o que geralmente fazemos nos jogos. Deveríamos ter vencido. Não vou ficar pensando nisso. Futebol é assim – disse ele, em conversa por telefone com o LANCE!

O Coudet de hoje tenta ser mais prudente e recatado. Evita as explosões, as polêmicas que marcaram sua carreira. Até mesmo no cargo em que ocupa atualmente. Prometeu a si mesmo, antes de começar a temporada, que seria mais comportado. Tentaria até dar exemplo para seu elenco. Nos tempos de jogador, ele atuava como um homem possuído. Fora de campo, isso às vezes acontecia também.

- Eu quero que minha equipe seja inquieta. Que busque o tempo inteiro o jogo com intensidade. É para isso que trabalho. No dia em que eu me conformar com alguma coisa que não seja a vitória, fico em casa – garante.

Na temporada passada, o Rosario Central foi a maior surpresa do futebol argentino. Brigou pelo título nacional e chegou à final da Copa Argentina. Perdeu ambas para o Boca Juniors. Nesta última, foi prejudicado pela arbitragem, que anulou um gol legítimo do atacante Marco Ruben e marcou pênalti inexistente para o Boca. Coudet gritou nos microfones, após o apito final, que aquilo havia sido “um roubo”.

É esse tipo de explosão que deseja evitar hoje em dia. Não que consiga. O velho “Chacho” (apelido dos tempos de jogador) continua por ali.

- O Coudet de hoje é bem mais louco do que quando tinha 20 anos – já definiu Cesar Luis Menotti, campeão mundial de 1978 com a seleção argentina.

- Depois eu vejo as minhas reações e não me sinto bem. Não creio ser certo. Preciso me cuidar sobre isso. Mas o futebol é intenso. Eu sou daqueles que vive isso dentro de campo, ainda mais em Rosário. A cidade é apaixonada por futebol – analisa.

"O Coudet de hoje é bem mais louco do que quando tinha 20 anos


Assim como ele também é. Coudet é a imagem do Rosario Central por fazer questão de ser mais um, de tirar fotos com os torcedores, de não se importar em parar o que está fazendo para assinar um autógrafo. Acredita que isso cria um bom ambiente entre torcida e equipe. Ele não é único a usar essa arma, de maneira falsa ou verdadeira. Mas ninguém leva isso às últimas consequências como Eduardo Coudet.

Quando ainda era jogador do Central, em final de carreira, sua mulher estava grávida. O nascimento da filha estava programado para 17 de dezembro. Coudet tinha outras ideias. Convenceu não apenas a esposa como os médicos a adiar a cesariana. Ele exigia que o parto acontecesse dois dias depois.

O 19 de dezembro é a data mais importante do ano para o torcedor “canalha” (apelido do Central). É a comemoração da “palomita”, quando o atacante Aldo Pedro Poy, de peixinho (a palomita), fez o gol que derrotou o arquirrival Newell's Old Boys na semifinal do Campeonato Argentino de 1971. O Rosario Central seria campeão nacional pela primeira vez naquela temporada. Todos os anos, a Organização Canalla Anti Lepra (Organização Canalha Anti-Lepra, a OCAL) organiza uma festa para comemorar a palomita, com a presença do próprio Poy, que reencena o peixinho diante de uma multidão. “Lepra” é o apelido da torcida do Newell’s.

Em 19 de dezembro de 1995, Coudet era o cabeça de área do Rosário Central que derrotou o Atlético-MG na final da Copa Conmebol.

Por esses dois motivos, ele conseguiu adiar o nascimento da filha. 

- O que se sente no futebol em Rosário é diferente do que se sente em outros lugares. É lindo. Faz você querer recompensar as pessoas. Quis mostrar a minha ligação com a cidade e o clube – afirma Coudet, natural de Buenos Aires.


Como jogador, ele teve três passagens pelo Rosario Central. Em uma delas, em 2004, conheceu o então garoto Marco Ruben, de 17 anos. O atacante será a principal esperança do time no Allianz Parque e chegou a ser cobiçado por clubes brasileiros há três meses. Os dois foram companheiros de quarto, mas brevemente. Coudet gostava de ir dormir tarde, tomar mate, conversar com amigos, rir alto. Ruben ia dormir todas as noites às 23 horas.

Na partida seguinte, o veterano expulsou o menino, o mandou ficar sozinho em outro quarto e que o deixasse em paz.

- Marco é um jogador de grande hierarquia (qualidade) e se tiver apenas uma chance, pode decidir qualquer partida. É uma grande arma nossa – garante o técnico.

Ser campeão argentino pelo Central, para o treinador, seria insano. Ganhar a Libertadores então e fazer o que o Newell's nunca conseguiu… Como o próprio Coudet diz, é uma “ilusão”. Mas a palavra é empregada no sentido de sonho. Do objetivo supremo a ser alcançado.

- Em 2015, nós poderíamos ter conquistado dois títulos. Deste ano, não pode passar. Temos time e talento para brigar em todas as competições.

Esse caminho passa por São Paulo, onde Coudet já venceu e deu alegria aos palmeirense. Ele era titular do River Plate que eliminou o Corinthians nas oitavas de final da Libertadores de 2003, no Morumbi.

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