Alecgol lembra crise de choro e diz: ‘Se pudesse, não enfrentaria a Chape’

Novo camisa 9 do Palmeiras e titular com Eduardo Baptista, atacante fala de sua renovação e mostra confiança para o ano, mas ainda sente tragédia da Chapecoense

Alecsandro durante treino da pré-temporada do Palmeiras
Cesar Greco

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Alecsandro deixou para trás o falso doping que o tirou de cena por mais de três meses em 2016, marcou seu centésimo gol na era dos pontos corridos na última rodada do Brasileirão e inicia a nova temporada como titular do Palmeiras e com a camisa 9. O jogo que abre a temporada tinha tudo para ser 100% feliz, mas o centroavante admite que será difícil entrar na Arena Condá, para o amistoso com a Chapecoense, às 16h30 deste sábado, sem lembrar do acidente aéreo que matou 71 pessoas no fim do ano passado.

- Se eu fosse titular absoluto, se tivesse um lugar garantido, eu pediria para não ir. É muito difícil. Acho heroica a atitude dos jogadores que vão jogar pela Chapecoense, com certeza eu não conseguiria. Então, se eu tivesse a condição de não ir para esse jogo, eu não iria. Perdi vários amigos e isso ainda me dói - disse ele, em entrevista ao LANCE!.

Na rodada final do Brasileirão de 2016, os jogadores do Palmeiras usaram camisas com os nomes dos atletas da Chapecoense às costas. Alecsandro homenageou o amigo Bruno Rangel, marcou um gol e não conseguiu esconder a emoção. Era um dos mais abatidos na ocasião.

- Vesti a camisa do Bruno Rangel e tive uma crise de choro antes de entrar no jogo. Se eu pudesse eu me pouparia desse jogo, mas aqui você pode perder a posição se ficar fora de um treino, imagine de um jogo.

Nesta entrevista, o goleador fala de sua renovação de contrato, da busca do Palmeiras por outro jogador de sua posição e de sua confiança para que a nova temporada seja repleta de gols. Leia a íntegra:

LANCE!: Para você, qual é a importância de trocar a camisa 29 pela 9?

Alecsandro: Eu nunca tive essa vaidade por camisa, nunca tive esse problema. Respeito quem tem, já vi jogador ter dificuldade de fechar um contrato por não poder usar a camisa que gostaria. Eu não tenho esse problema, mas é lógico que a camisa 9 sempre representou um bom atacante, que faz gols. Então geralmente quando a gente veste uma camisa como essa, principalmente no Palmeiras, que já teve grandes atacantes, como o Evair, a gente fica muito feliz. Espero que eu possa honrar a camisa 9 do Palmeiras como eu honrei a 29.

Alecsandro: Você costuma estipular uma meta pessoal de gols antes de cada temporada. No ano passado, a ideia era fazer 20. Qual é a meta agora?

Acho que eu passaria a meta no ano passado. Eu acabei o ano com 12 gols, sendo o segundo jogador com mais gols no clube, ficando atrás só do Gabriel Jesus. Tenho certeza que esses meses parado por causa do doping me atrapalharam, acho que passaria da minha meta. Agora vou tentar aumentar um pouquinho a minha média, dar uma aumentada na meta, até porque esse ano tem a Libertadores. É uma competição importante, em que fazer gol é melhor ainda.

Você viveu o pior momento da sua carreira com a suspensão por doping, mas terminou o ano com o centésimo gol em Brasileiros por pontos corridos e renovando contrato. O saldo foi positivo?

Foi um pecado o que aconteceu, né? Lógico que o único culpado nisso tudo fui eu, o meu organismo, uma situação inusitada. A própria entidade maior no assunto reconheceu que era falso doping, mas foi um momento ruim, porque eu vinha bem e poderia ser muito mais decisivo, jogar mais jogos, colocar meu nome na história do Brasileiro em um patamar um pouco maior. Acho que não apaga o que eu fiz, mas não chega ao nível dos outros jogadores, como Gabriel Jesus, o Dudu. Tenho certeza que se não ficasse quatro meses parado atingiria esse nível de importância que os outros jogadores tiveram. Fazer gol é importante, fazer cem gols é para poucos, e felizmente acabei cumprindo a promessa que fiz para o meu filho e para o ex-presidente Paulo Nobre, de que faria o centésimo com a camisa do Palmeiras. Como gosto de me vencer todos os dias, agora espero poder buscar o cara que está mais próximo de mim no Brasileiro, que é o Paulo Baier. Vou tentar chegar o mais próximo possível.

A torcida está muito ansioso pela chegada de Borja ou Pratto. Acha que precisa de camisa 9?

Aí é uma questão de gestão, do próprio treinador também. Eles têm de ver se precisa ou não. O meu posicionamento é de, primeiro, agradecer ao clube pela renovação. Eu não pedi pelo amor de Deus. Pelo contrário, o contrato foi renovado há três meses pelo Alexandre e pelo presidente porque o Palmeiras queria que eu continuasse. E eu queria continuar, então aqui estou. Mas é lógico que um clube que vive um momento como o do Palmeiras, que é a menina dos olhos do futebol brasileiro, onde há patrocinadores fortes, uma receita diferenciada, sempre vai procurar bons jogadores. E não procura só atacante, tanto que contratou meia, volante, lateral... Mas é lógico que, dentro de toda a minha humildade, eu posso tranquilizar a torcida do Palmeiras e dizer que eles estão muito bem servidos com os atacantes que aqui estão.

Como foi esse processo de renovação? Estava apalavrada antes de ser anunciada?

Na época do doping a gente não pensava em nada a não ser sair disso. Isso foi tudo após o doping, quando eu voltei a jogar. Eu fico muito feliz por ter recebido quatro propostas de clubes da Série A. O mercado da bola é assim, um clube quer, o outro também quer. O Alexandre Mattos teve inteligência de me segurar três meses antes do fim do meu contrato, de me fazer dar a palavra de que renovaria faltando três meses para acabar. De repente ele pensou: "Espera aí, estou com um atacante aqui que quatro clubes querem, então ele tem de ser meu". Em uma conversa informal, ele me falou que a gente renovaria, que já tinha o aval do novo presidente, e só esperaria trocar a diretoria. Não recebi um real de aumento, estou com o mesmo salário do ano passado e estou muito feliz. Não fiz questão de me valorizar, acho que estar no Palmeiras já é uma grande valorização.

O que você dizia para os clubes que te procuravam?

Antes de qualquer papel assinado, se tem a palavra. E eu tinha a palavra de, nada mais nada menos, o diretor do clube, que é o Alexandre Mattos. Então estava muito tranquilo e neguei a primeira proposta três meses atrás dizendo que renovaria com o Palmeiras, até porque estava apalavrado.

O que podemos esperar do Alecsandro em 2017?

Estou iniciando o ano tranquilo, porque estou treinando bem. Nos trabalhos físicos, estou puxando o pelotão da frente. Fui muito bem nos testes, um dos melhores dentro da minha característica. Eu começo muito tranquilo porque não tenho que driblar, dar chapéu, caneta ou marcar. Lógico que tenho de ajudar em alguns momentos, mas tenho que fazer o que fiz toda a minha carreira, que é gol. Se eu estiver física, psicológica e tecnicamente bem, as coisas vão andar para mim. Estou muito feliz no começo de 2017. Estar com quase 40 jogadores se preparando e perceber que, na parte física, você está um pouquinho na frente dos outros, me deixa muito feliz também.

No ano passado, você nos disse que havia quatro centroavantes "realmente goleadores no Brasil": você, Fred, Ricardo Oliveira e Gabriel Jesus. Com a saída do Jesus, agora são só três? Ou você acha que pode aparecer mais algum?

Pode aparecer. Eu poderia, dentro da amizade, colocar o Diego Souza, mas de vez em quando ele fica cinco, seis, sete jogos sem fazer gols, e é meia, né? Por enquanto, acho que são esses três. O futebol brasileiro hoje carece de centroavante, tanto que algumas equipes abrem mão de um camisa 9, o que algumas vezes dá certo, mas geralmente dá errado. Na Copinha eu vi bons meninos e espero que eles possam aparecer.

O esquema do Eduardo Baptista te ajuda?

Me ajuda muito. Na hora de atacar, na hora que o Palmeiras estiver com a bola, minha única função será estar dentro da área para fazer o gol. É tudo o que nós, centroavantes, sonhamos. Lógico que tem de ter a calma do torcedor, a paciência da própria equipe e a qualidade do atacante, porque vai acontecer em alguns jogos de o centroavante ficar 15, 20 minutos sem pegar na bola. Aí a gente vai ler no LANCE! que o atacante passou o primeiro tempo sem pegar na bola. E vai acontecer em alguns jogos, porque nesse esquema do novo treinador a minha função não é vir no meio de campo, não é buscar a bola, não é fazer tabela, é exclusivamente correr para a área ser o finalizador. Acho que 2017 vai ser bem assim, o Alecsandro bem concentrado para ter uma chance, e nessa chance marcar.

O Palmeiras foi buscar jogadores experientes para ficar com mais perfil de Libertadores, segundo o Mattos. Concorda com essa visão?

Cara, eu dei uma declaração ano passado dizendo que nosso grupo aprendeu a jogar a Libertadores no jogo contra o Rosario, que já era o penúltimo da fase de grupos. Não deu mais tempo, acabamos deixando uma competição para trás. Se não me engano, aquele time tinha poucos jogadores que já tinham jogado uma Libertadores. Hoje, temos outros jogadores que já jogaram essa competição, já têm um lastro maior no futebol, então você qualifica o grupo. Não diria que o Palmeiras é o favorito, mas a gente entra como um dos favoritos ao título.

O que tem achado do trabalho do Eduardo Baptista?

Por todo o nome, por estar no Palmeiras, por ter sido sondado por outros clubes e pela campanha que ele fez ano passado, ele está mostrando por que veio. É um treinador muito preocupado com a formação tática, acredita que se você marcar bem vai atacar bem também. Nós estamos comprando a ideia dele, como compramos a do Cuca. São esquemas totalmente diferentes. É um treinador jovem, que já está entre os tops, porque está no Palmeiras, um dos maiores clubes do mundo. Com certeza vai ser um dos tops por muito tempo.

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