‘Nunca deixei de acreditar’, diz primeiro brasileiro campeão na MLB

Em entrevista ao LANCE!, Paulo Orlando&nbsp;fala sobre sua 'saga' até conquistar o <br>título e a emoção de chegar ao topo do beisebol

Kansas City
Kansas City (Foto: Ed Zurga/AFP)

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Paulo Orlando protagonizou em 2015 uma das histórias mais marcantes e de superação um atleta brasileiro pelo mundo.

Para começar, ele colocou como objetivo tornar-se um jogador profissional de beisebol, modalidade pouco popular no Brasil.

Em 2005, aos 19 anos, Orlando começou a atuar nas ligas menores nos Estados Unidos, que servem como preparação e trampolim para aqueles que querem chegar à MLB, a principal competição do mundo deste esporte. Lá, vários jogadores são celebridades esportivas, e os salários são milionários.

Orlando passou dez temporadas rebatendo bolinhas e esperando sua chance de entrar na MLB, o que aconteceu só em abril deste ano, com o Kansas City Royals.

A paciência acabou sendo recompensada. No último domingo, o brasileiro tornou-se o primeiro do país a conquistar o título na World Series. E logo no dia do seu aniversário, em que completou 30 anos.

Em entrevista ao LANCE! por telefone, na quinta-feira, Orlando disse que nunca deixou de acreditar que entraria na MLB. E falou que ele jamais esquecerá o dia em que foi campeão da liga, com a vitória sobre o New York Mets.

Confira abaixo a entrevista do jogador, que chega neste domingo ao Brasil e ficará no país duas semanas principalmente para ações com a mídia.

LANCE!: Quais foram os seus sentimentos em relação a este título na MLB?
Paulo Orlando:
É um orgulho para mim. É algo comparado a alguns jogadores que marcaram seus nomes no beisebol e foram super estrelas. É uma coisa que só vivendo mesmo para sentir, ter uma emoção como essa, no maior palco do beisebol do mundo, que é os Estados Unidos. Só eu sei qual foi a dificuldade para estar aqui nesse nível e chegar ao título.

L!: O que passou pela sua cabeça quando o jogo decisivo acabou e o Kansas City Royals sagrou-se campeão?
PO:
Na hora você só pensa em comemorar. Foi um dia especial. Antes do jogo eu estava nervoso e ansioso, pelo fato de também ser meu aniversário (Paulo completou 30 anos no dia em que foi campeão). Deus me deu essa bênção de comemorar da melhor forma possível. Agora estou vendo o quanto foi importante trazer esse título para a cidade de Kansas City. Depois do título houve o desfile do time inteiro, na terça-feira, e ali eu senti o quanto era importante ser um jogador e representar a cidade. Também pude ver o quanto isso foi importante para o beisebol brasileiro.

L!: Sobre o seu aniversário, como foi dividir essa data com o dia do título? Como foi o retorno que você teve de companheiros e fãs?
PO:
Antes do jogo, muitos jogadores me parabenizaram. E eu pedi para que mantivessem o foco e trouxessem o título. No ano passado, o time jogou a World Series e passou perto. Foi um dia que eu não irei esquecer.

L!: E o fato de ter levado a bandeira brasileira para dentro do campo. Foi algo planejado, ou surgiu na hora?
PO:
Eu sempre levo uma bandeira comigo, deixo preparada em jogos como esse, valendo título. Sempre deixo uma próxima a mim. Quando eu fui campeão em ligas menores, eu também fiz isso. Queria mostrar para o mundo que tinha um jogador do Brasil ali, e que é um país de onde podem sair mais jogadores.

L!: Em algum dia você imaginava chegar onde chegou, ao ser campeão da principal liga de beisebol do planeta?
PO:
Quando você começa a jogar profissionalmente, e tem a oportunidade de atuar nas ligas menores dos Estados Unidos, vamos dando passo a passo e ganhando a chance de jogar. Muitos atletas latinos não têm essa oportunidade, e nem mesmo os americanos. O contrato de quatro anos para jogar nas ligas menores é pouco para você mostrar o que sabe. Depois que vim para os Estados Unidos tentei mostrar que sei jogar, mas tive uma lesão (em 2013), e foi um ano que não me deram muita oportunidade. Mas nunca deixei de ter paciência e acreditar que, ao menos, chegaria nas grandes ligas (MLB). Foi um sonho ter sido campeão, e neste ano tudo foi muito rápido. Primeiro consegui ter uma rebatida válida na liga, depois consegui disputar a World Series. Tudo vai ficar guardado, e espero viver isso novamente.

L!: Como foi a comemoração do título com o time?
PO:
Depois do título comemoramos com os jogadores e familiares. Já tínhamos programado que viajaríamos a Kansas City na manhã seguinte. Então fiquei com a minha esposa para fazer as malas para a viagem. Quando chegamos a Kansas, vimos que a recepção ia ser grande. Programaram o desfile para a terça-feira, já tinha bastante fã comemorando. As escolas suspenderam as aulas para as pessoas irem na parada comemorar. Foi tudo muito lindo, muito emocionante. Agora mesmo estou arrumando as malas novamente. Tenho que entregar meu apartamento aqui, volto ao Brasil e chegou no domingo (hoje) de manhã. Durante a semana vou dar entrevistas e cobrir o máximo que for possível. Espero levar essa felicidade para vocês (do Brasil).

L!: E dentro do vestiário, como foi a festa?
PO:
Dentro do vestiário teve muita champanhe, o troféu de campeão, e o anúncio do Salvador Perez como o MVP (melhor jogador). Foram muitos abraços. Depois teve muita emoção em Kansas também, a cidade parou, mais de 800 mil pessoas receberam a gente. Não esperávamos tantas. Mas eles também esperaram muitos anos para comemorar um título (o último foi em 1985).

L!: Como serão seus próximos meses? Você vai tirar férias, vai permanecer nos Estados Unidos, ou tem outros planos?
PO:
Não tenho o intuito de morar aqui (nos Estados Unidos). Vamos ver como vai ser nos próximos anos. Ainda não tive essa chance de morar aqui. Estou voltando para o Brasil, ficarei duas semanas, e logo depois irei para Barquisimeto para jogar na liga da Venezuela, pelo Cardenales de Lara. Espero entrar lá e fazer parte do time e chegar na final. O time não tem filiação ao Kansas City Royals, mas eles dão liberação para alguns jogadores, dependendo da quantidade de jogos que ele fez no ano. Os arremessadores que jogam diariamente têm uma certa exigência de descansar o ombro. Mas como eu não fui jogador regular, o Kansas entende a minha situação de voltar lá (na Venezuela) e receber o carinho da torcida. Joguei os últimos três anos lá, e o Kansas acompanhou. Vai ser bom para mim seguir nessa.

L!: O que representou para você ter sido o primeiro brasileiro campeão na MLB?
PO
: O Brasil é um país muito grande. Há muitos estados que não conhecem o beisebol. É preciso levar o esporte a eles, e ter uma academia, como fizeram a República Dominicana e a Venezuela. Nos últimos anos a MLB vem trabalhando em escolas, fornecendo material, que é o mais complicado de conseguir. Futuramente podem pintar lá jogadores como eu.

L!: Jogar uma World Series é diferente do que uma partida regular na MLB?
PO:
Era um jogo final, e quem erra menos tem mais chances de ganhar. Os arremessadores fizeram um grande trabalho. No pouco que eu joguei, tentei ajudar o time ao colocar a bola em jogo, e fazer com que a pressão fosse para o time do New York Mets. Depois veio a rebatida, e ajudei o time a levar a vitória na partida decisiva.

L!: Você já tem algo definido para o futuro? Sabe se ficará no Kansas City Royals?
PO:
Agora começarão as negociações. Dependo deles (Royals) para ficar no time. Este só foi meu primeiro ano no roster 40 (os 40 principais jogadores de uma franquia). Ainda não está na minha hora de negociar o contrato. É esperar para começar. Espero no próximo ano estar brigando novamente por uma vaga.

L!: Você considera que teve uma caminhada árdua até tornar-se campeão da MLB?
PO:
Normalmente, quando um jogador é contratado para atuar nas ligas menores nos Estados Unidos, no quarto ou quinto ano ele tem uma resposta se jogará ou não na MLB. No meu caso, fui persistente nestes dez anos. Fui um jogador que passou dessa média de quatro ou cinco anos. Eu me sinto um guerreiro e agradeço pela oportunidade que o Kansas City Royals me deu. Venho de um país que não joga muito beisebol, mas fui aprendendo no dia a dia e pude ajudar o time.Normalmente, quando um jogador é contratado para atuar nas ligas menores nos Estados Unidos, no quarto ou quinto ano ele tem uma resposta se jogará ou não na MLB. No meu caso, fui persistente nestes dez anos. Fui um jogador que passou dessa média de quatro ou cinco anos. Eu me sinto um guerreiro e agradeço pela oportunidade que o Kansas City Royals me deu. Venho de um país que não joga muito beisebol, mas fui aprendendo no dia a dia e pude ajudar o time.

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