Economista que liderou Martine e Kahena vive dilema sobre o futuro

Após fim de namoro à distância para levar brasileiras ao ouro na Rio-2016, espanhol Javer Torres não sabe se continuará no Brasil até Tóquio-2020, mas diz que quer aproveitar a vida<br>

Javier Torres foi o técnico de Martine e Kahena na conquista do ouro na Rio-2016
(Foto: Fred Hoffman/CBVela)

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O Brasil virou sinônimo de oportunidade para Javier Torres, um economista apaixonado pelo mar. Técnico das velejadoras Martine Grael e Kahena Kunze, medalhistas de ouro nos Jogos Olímpicos do Rio na classe 49erFX, o espanhol leva até a bandeira verde e amarela com a palavra “obrigado” na foto de capa de seu perfil do Facebook. Mas um dilema o aflige dois meses após o título.

O profissional não sabe se ficará no país para encarar mais um ciclo ou se dedicará seus dias à vida pessoal, algo que ele deixou de lado nos últimos quatro anos. Até amargou o fim de um namoro com uma espanhola, por causa da falta de tempo.

O contrato com a Confederação Brasileira de Vela (CBVela) e o Comitê Olímpico do Brasil (COB) terminou em agosto, mas as entidades contam com a permanência do técnico.

A manutenção da classe, que estreou nos Jogos na capital fluminense, é esperada para Tóquio (JAP), em 2020. Uma assembleia da World Sailing tomará a decisão em fevereiro.

Enquanto isso, o espanhol quer aproveitar as férias. Nesta semana, ele veio ao Brasil, mas para acompanhar a Copa da Juventude, classificatória para o Mundial da categoria. Até sexta-feira, ajudará a identificar talentos. Mais um sinal, além da bandeira na rede social, de que seu vínculo com o país ainda não terminou.

– Foram anos bem trabalhosos. Não tenho família e namorava uma menina muito legal, mas ficou difícil. Não conseguia passar tanto tempo com ela. O trabalho prejudica um pouco nesta hora (risos). Não disse que sim ou não (sobre a proposta), mas, se eu ficar, pretendo aproveitar mais a vida – afirmou Javier, ao LANCE!.

Aos 34 anos, o espanhol mostra uma personalidade calma, que destoa do temperamento muitas vezes explosivo de Martine e Kahena. A característica das atletas, amigas desde a infância, é vista pelo treinador como trunfo. Ele acredita que, se não fossem as brigas, o ouro não sairia.

– Há muitos treinadores bons, mas que não se relacionam bem com seus atletas. Em nosso caso, deu certo. A convivência nem sempre foi fácil, mas é normal. Ficamos mais de 240 dias do ano juntos – diz Torres.

Embora os comandantes não ganhem medalha, a conquista no Rio foi duplamente especial. Não apenas coroou um ciclo de sacrifícios, mas apagou a frustração de quem acabou fora da Olimpíada de Londres.

Na época, Javier trabalhava com os irmãos Federico e Arturo Alonso, que se classificaram pela Espanha na 49er. Mas o país optou por levar o veterano Iker Martínez, campeão em Atenas-2004 e prata em Pequim-2008. Ele só terminou em 12º, ao lado de Xabier Fernández.

– Ele era muito bom, mas foi decisão política – conta Javier, que vê ligação entre a vela e a economia.

– Ambas tratam de variáveis. É uma união que dá muito certo. Se eu não fosse economista, não teria obtido o mesmo sucesso nos Jogos.

CBVela diz ter verba para gringos

A renovação do vínculo com os três técnicos estrangeiros da equipe olímpica que disputou a Rio-2016 é o desejo da Confederação Brasileira de Vela (CBVela) para Tóquio-2020.

Além de Javier Torrer, a Seleção contou com o também espanhol Rafael Trujillo, que treinou Jorge Zarif, quarto colocado na classe Finn, e com o neozelandês Jon Paul Tobin, o JP, comandante de Patrícia Freitas na RS:X. Ela ficou em oitavo lugar.

– Estamos na fase de negociação, mas existe a verba e o desejo de que eles continuem – disse Marco Aurélio Sá Ribeiro, presidente da CBVela, confiante na decisão de Javier:

– Como está fora de seu país há muito tempo, ele está avaliando. Mas a própria vinda agora, para a Copa da Juventude, já sinaliza que continuará conosco – falou o dirigente.

BATE-BOLA
Javier Torres Técnico, ao LANCE!

‘Foi uma missão difícil até o Rio’

O que foi mais desafiador na campanha do time até o Rio?
O principal foi que competimos em um barco novo. A cada dia, tínhamos de evoluir mais e descobrir algo. As qualidades dos atletas vão mudando, o que nos permite fazer algo novo com o tempo. Foi uma missão bem difícil.

Como foi a passagem da vida de economista para a de treinador?
Foi engraçado. Simplesmente aconteceu (risos). Eu fazia faculdade de economia e velejava. Esta é uma característica que nem todo mundo tem, e havia uma demanda. Como fui para uma empresa relacionada ao mar, era importante ter um conhecimento do assunto. Para ter um pouco de dinheiro, comecei a trabalhar como treinador. Formei um bom time de garotos e tudo foi ficando maior. Fui chamado para Mundiais e para a equipe olímpica da Espanha. Uma campanha olímpica é como uma empresa. Você tem de destinar muita atenção.

O momento ruim da economia brasileira pode pesar na sua decisão sobre continuar ou não? Teme que isto afete o esporte por aqui?
Está difícil, mas temos de ser positivos. Não acho que será um fator decisivo. A CBVela está no caminho certo. Gosto mais do trabalho que fazem aqui do que o que via na Espanha. Estão investindo na base. Confio muito que o Brasil terá bons resultados em 2020.

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