‘Avaliando o Tour de France-2017’
Competição mais uma vez beneficiou quem não criou quem não criou as oportunidades, mas, sim, quem esperou que elas acontecessem. Vamos lembrar outras edições...<br>
Tentando avaliar o Tour de France-2017 pelo lado das disputas, comparado com as últimas nove edições, acredito que mais uma vez a competição beneficiou quem não criou as oportunidades e, sim, quem esperou que elas acontecessem.
É importante lembrar a diferença que faz, principalmente hoje em dia, o design das etapas. A ASO, organizadora da prova, parece ter escolhido o caminho de ir cada vez menos contra-relógios (individual e por equipes) para evitar a superioridade da Sky na disputa da camisa amarela, assim como optando por etapas de ligação (Sprint) totalmente planas para tentar tirar a superioridade do Sagan na disputa da camisa verde. Esse ano foram nove etapas que poderiam ser para os sprinters (!?). Na Vuelta serão cinco e nem todas favoráveis aos sprinters. Talvez tenha a ver com a largada na Alemanha e, digamos, a “vontade de agradar” os pesados sprinters alemães, que enfrentam dificuldades em etapas onduladas. Kittel ganhar etapa com chegadas em Liege e Pau? Isso é quase uma heresia. Com isso, mesmo produzindo diferenças menores entre a disputa pela camisa amarela, as três semanas acabam se tornando previsíveis e entediantes até os últimos dez, 15 minutos de cada etapa.
Claro que sempre é lindo, com excelente cobertura que produzem imagens inspiradoras e cada um pode ter gostado diferentemente, mas de qualquer maneira segue o que lembro dos últimos dez Tours do ponto de vista das disputas.
2008; Carlos Sastre. Ataque que definiu o Tour no Alpe d’Huez foi bom. Uns cinco poderiam ter acabado a etapa em amarelo e com o Tour e basicamente foi o que valeu a pena.
2009; Contador. Percurso não era lá o melhor, mas a colisão entre a nova estrela Contador contra seu companheiro de equipe e mega catalizador das atenções Lance Armostrong foi sensacional de ver. O jeito que ignorou a “lenda” dentro da sua própria equipe a caminho da vitória me conquistou como fã de vez. Ahh Mikel Landa. Esse Tour foi sua 2ª chance de fazer o mesmo e conquistar fãs eternamente...
2010; Andy Shleck. Provavelmente a melhor. A briga Contador x Shleck, foi sensacional! Nada de muita equipe conseguindo controlar e sim pura briga em forma de duelo mano-a-mano nas montanhas. Além de um excelente Vinoukourov. Como sinto falta desses personagens.
2011; Cadel Evans. Foi muito bom, principalmente a última semana nos alpes. Com épico ataque nas montanhas de loooonga distância do A. Schleck e depois com as do Contador, foram ótimos. Até a tenacidade do Voeckler em segurar a amarela por tanto tempo.
2012; Wiggins. Se você conseguiu assistir até o final ao vivo, realmente você é um fã de ciclismo. Falta de concorrentes e percurso desfavorecia os escaladores “puros’, assim como 100km de contrarrelógio (esse ano foram +/-40km) só incentivaram o início da supremacia e tédio da Sky. De bom foi o começo da era Sagan...
2013; Froome! Finalmente! A 100ª edição e a 1ª vez na Corsica. Além da aparição de um agressivo Quintana. Quem diria. Só o duelo Froome x Quintana na etapa do Ventoux valeu o tour.
2014; Nibali. A que deveria ter sido a melhor com Froome, Contador e Nibali, todos em forma física excepcionais. Só faltou o Quintana, que foi para o Giro. Com as quedas e abandono do Froome e Contador o Tour perdeu muito, mas a rara etapa(molhada) de paralelepípedos e a briga pelos outros lugares do top 10 foi bom entretenimento...
2015; Froome. Pareceu próximo, mas um Quintana que não atacava, um Contador vindo da 2ª tentativa de double (Giro-Tour) e um decepcionante Nibali acabaram não entregando a tão sonhada disputa dos “fab 4” e a Sky acabou impondo seu ritmo e aniquilando qualquer chance de disputa mais emocionante...
2016; Froome. Se uma das melhores coisas entre a disputa da amarela em 3 semanas foi ter sido o Froome correr a pé fora da bike e ter atacado numa descida, para mim, só perde para o funeral que foi 2012...
E finalmente 2017. 4x Froome! Merecido! Não ganhou nenhuma etapa, que não é lá tão raro assim, mas passou a ser diferente porque não tinha ganhado nada esse ano. Não passou nem próximo disso. Tipo o Nibali 2014.
Cada ano a Sky perde seu teórico melhor gregário durante a prova e aparece outro com desempenho sensacional. Kiwaktoski sempre foi muito bom, mas foi fantástico. Landa em vários momentos parecia até entediado com o ritmo nas subidas, raramente respirando pela boca ou em dificuldade. Sky é um absurdo! Ainda deixaram em casa Elissonde, Rosa, o outro Henao, Poels, Lopez, Deignan, Intxausti. Qualquer um desses seria capitão ou co-capitão em mais da metade das equipes “pro tour”. Nas duas vezes que conseguiram isolar o Froome de seus gregários estelares, Aru e Fulgsang ajudaram a perseguir o Bardet (etapa 9) ao invés de deixar a Froome defender a amarela. Quando as outras equipes vão parar de defender um 2º ou 3º e deixar de ajudar a Sky nos raríssimos momentos que o Froome está vulnerável?
As equipes, sem contar a Sky, marcavam qualquer ataque do Aru, Martin ou do Bardet evidenciando uma quase admissão de não estarem lutando pela vitória e sim pelas outras posições do podium. Uran e Cannondale estavam felizes de estar ali e passaram três semanas sem atacar uma vez se quer. Nem mesmo uma forçadinha para testar as pernas.
Resumindo, 2017 entrou no meu ranking dos últimos 10 Tours entre 7º e 8º pior, ali com 2015. 2012 foi imbatível e ano passado em seguida. Se o Tour 2017 não emocionou não tem problema, pois a Vuelta em menos de um mês promete muito mais ação. Mudanças feitas ainda essa semana só fazem atrair mais o interesse dos GCs e certamente para quem vai assistir. Percurso muito bom que proporcionará fugas promissoras e excelente disputa pela camisa vermelha com presença (provável) de Froome (será dessa vez?), Aru, Nibali, Bardet, Zakarin, Yates, Chaves, Superman Lopez, garotos da Movistar, Pozzovivo e, claro, Van Garderen (lol)...
*Escrito a convite do LANCE!