Opinião: o preço que se paga por ser um lutador de personalidade forte

UFC 196 representou momento de acertos e erros para seus quatro astros principais

Astros do UFC 196 viveram noite de dor e glória (FOTO: Reprodução)
Astros do UFC 196 viveram noite de dor e glória (FOTO: Reprodução)

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O UFC 196 - em especial as duas lutas principais do evento - pode ser considerado uma verdadeira aula. Não apenas de jiu-jitsu, superação ou algo mais a ser absorvido pelo show. O mundo das lutas pode aprender muita coisa com o evento ocorrido no último sábado (5), em Las Vegas (EUA). E uma delas é como exercer o espírito de lutador existente dentro de cada atleta e saber lidar com suas consequências.

Os quatro principais nomes do evento pagaram o preço de levar a vida profissional com o espírito de lutador de forma convicta. 

Conor McGregor gosta muito de dinheiro. Todos sabem disso. Ele obviamente recebeu o justo pelo desafio que se propôs a encarar. Isso conta, claro, mas ainda assim não me lembro de um campeão deixar sua divisão para enfrentar um rival duas categorias acima. Isso logo depois de conquistar o título dos penas. Ele poderia ampliar seu reinado, lutar de forma segura. A mesma ambição que o irlandês tem para fazer dinheiro vale para aceitar desafios. No UFC 196, Conor descobriu seu limite. Menos de três meses após lutar como peso-pena (65.8 kg) o irlandês tentou atuar como meio-médio (77,1 kg) e só conseguiu fazer bem feito por cinco minutos. Pagou o preço, foi finalizado, mas merece reconhecimento pela coragem de expor ao mundo o tamanho de sua confiança diante de outro lutador, seja ele do peso que for. Arrependimento? Zero!   

Nate Diaz fala por si só. Estilo bad boy, personalidade forte e uma única preocupação: lutar. Também gosta de dinheiro, faz lutas pontuais, que unem apelo público e bolsas gordas. Não é fã de entrevistas, peca pela falta de freio em muitas delas e coleciona palavrões no vocabulário. Largou um em sua primeira frase pós-vitória. Se colocá-lo ao lado de McGregor, podem achar que um é o professor e o outro o aluno brigão da escola. Mas Diaz ensinou que lutar também é saber apanhar. Experiência pesa. Quem luta há nove anos no UFC, é recordista de finalizações e prêmios por performance na organização e um dos maiores representantes do jiu-jitsu no evento não pode ser tratado como azarão de forma tão fácil. Com poucos dias de preparação e, claro, pelo preço justo, foi premiado com a glória de bater o maior nome do UFC na atualidade e soltar seus palavrões a um número incalculável de pessoas. Nate pode até calcular o preço de seus cheques, o que talvez explique os últimos hiatos em sua carreira, mas ele não calcula riscos, gosta é de lutar.

Holly Holm chocou o mundo ao nocautear Ronda Rousey no octógono e como consequência ganhou a chance de fazer talvez a luta mais valiosa dos últimos tempos no UFC em uma revanche histórica. O que ela fez? Abriu mão. Claro que a derrota para a Miesha não estava nos planos, mas ela poderia simplesmente sentar e esperar o tempo de descanso de Ronda. Mas, como ela mesmo disse em coletiva após a luta, ela é uma lutadora, esse é seu trabalho. Por que esperar tanto para fazer o que mais se ama na vida?

Por fim, Miesha Tate. Depois de perder a chance pelo título contra Ronda Rousey em 2013, a americana refez seu caminho e venceu a luta mais difícil de sua carreira: aquela travada com a paciência. Depois de lutar em julho de 2015 e completar uma sequência de quatro vitórias consecutivas, teve a chance pelo cinturão prometida por Dana White. Porém, Tate viu Holly Holm tomar sua frente, encarar Rousey, vencê-la e conquistar o cinturão. Depois de longos meses de espera e sem nenhum conforto público dado pela organização, contou com a "ajuda" de Rousey e ganhou sua chance. Entrou no octógono como zebra, resistiu a Holm, novamente teve paciência após momentos adversos na luta, mostrou coração e saiu do cage com o cinturão em posse após uma finalização espetacular nos minutos finais. Que volta o mundo de Tate deu, hein?!

Cada um com sua história, cada história com sua mensagem. Cada atleta exercendo o espírito de lutador da sua forma. Ambicioso, despojado, profissional, guerreiro... Ter personalidade tem seu preço, mas rende frutos, reconhecimento e engrandece um legado.

Em tempos dominados pelo entretenimento e dinheiro, ser um lutador de corpo e alma ainda tem seu valor.

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