Pelo tri no Rio 2016, halterofilista egípcio fica cinco meses no Brasil

Sherif Osman ficou hospedado na casa do também halterofilista Bruno Carra e virou <br>fã de açaí, mandioca e guaraná<br>

Valdecir, Sherif e Bruno no centro de treinamento em Itu: amizade nasceu no esporte
Valdecir, Sherif e Bruno no centro de treinamento em Itu: amizade nasceu no esporte&nbsp;(Foto: Instagram - Bruno Carra)

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A ideia do halterofilista egípcio Sherif Osman era ficar apenas um mês no Brasil, para conhecer um pouco mais o clima do país-sede e fazer um intercâmbio antes dos Jogos Paralímpicos do Rio-2016. Mas a temporada iniciada em abril em Salto, no interior de São Paulo, ficou pequena para uma experiência tão positiva.

Hospedado na casa do também halterofilista Bruno Carra, Sherif adorou os treinamentos no centro de referência da modalidade, na cidade vizinha de Itu, e encantou-se, sobretudo, com a hospitalidade e a cultura brasileira. Ficou fã de açaí, mandioca, guaraná e de Itubaína, refrigerante fabricado na região. Sentiu-se bem acolhido. Resultado: mesmo tendo que lidar com a saudade da esposa – ex-halterofilista – e dos três filhos, ficou quase cinco meses no Brasil em preparação para as competições que começam na semana que vem.

- No esporte, se você recebe alguém em sua casa, isso não é só amizade, é coisa de irmão. Antes de terminar o primeiro mês, comecei a pensar em ficar até os Jogos, já que o Egito é muito longe. Aí conversei com o Bruno, mas pensei num hotel. Ele disse que eu podia ficar na casa dele. O Bruno e a esposa foram muito legais comigo - disse Sherif ao site Brasil2016.gov.

Como fontes de apoio e amizade, o egípcio cita ainda o técnico Valdecir Lopes e a atleta Márcia Menezes, com quem também conviveu em Itu.

- Dizer muito obrigado não é suficiente. Fiquei aqui cinco meses e as pessoas me ajudaram o tempo todo e não pediram nada em troca. As pessoas aqui são boas. Espero estar aqui de volta.

Bruno considera a experiência desafiadora. Afinal, era uma pessoa a mais em um apartamento pequeno, com diferenças marcantes de cultura e religião, já que Sherif é muçulmano. Por outro lado, o brasileiro ganhou um companheiro de treino super qualificado. O egípcio é um dos maiores halterofilistas da atualidade, detentor do recorde mundial em duas categorias (-54kg e -59kg) e dono de dois ouros paralímpicos, em Pequim 2008 e Londres 2012.

- Eu ofereci para ele ficar lá em casa, falei com a minha esposa. Ela se sacrifica muito por causa do nosso esporte e dessa vez não foi diferente. A gente sabia que ia ser um desafio enorme, mas a gente sempre acreditou em ter resultado melhor, em evoluir no esporte. A gente acha que qualquer sacrifício é válido - conta o atleta, que chegou a mudar hábitos para agradar o visitante.

- Ele não comia nada com tomate ou molho de tomate, então a gente tirava. Pela religião, ele não come porco, coisa que a gente comia bastante e abrimos mão - exemplifica.

Com a observação do treinamento de Sherif no dia a dia, Bruno pôde notar detalhes técnicos e conta que isso ajudou na sua evolução como atleta.

- O treino deles é elevado à perfeição. Anos de estudo não trazem o que eu ganhei nesses meses. Foi um aprendizado sem tamanho. A gente desmitifica muita coisa, você começa a acreditar mais na pessoa. Quando você vê alguém sendo muito superior em algo, você não acredita muito a princípio. Ele ficou comigo todos os dias, treinando comigo, comendo o que eu como. Dá para ver que, trabalhando duro, você pode chegar lá - afirma o brasileiro que compete na categoria -54kg e também disputará os Jogos Paralímpicos.

O objetivo de Sherif no Rio 2016 não pode ser outro além do terceiro ouro seguido em edições de Jogos Paralímpicos. A conquista na categoria -59kg, se confirmada, representará um marco importante para o atleta, que completa 34 anos em 15 de setembro: a metade do caminho que ele sonha percorrer no esporte.

- Pode parecer imaginação, mas na mina cabeça nada é impossível. Quero seis ouros em sequência. É uma grande missão. E terei 46 anos na minha última Paralimpíada - conta o egípcio, revelando também um objetivo ainda mais ousado.

- Vou dizer algo que ainda não falei com ninguém. Vou mudar de categoria depois dos Jogos, porque já tenho recordes mundiais nas categorias -54kg e -59kg, mas quero ter mais um recorde. Na verdade, meu grande sonho é ter recordes em cinco categorias diferentes - afirma.

A grandeza da meta parece combinar bem com Itu, cidade que tão bem o acolheu e que é famosa pelos objetos gigantes. Só é menor que o sentimento de gratidão que Sherif nutre pelo povo do país-anfitrião dos Jogos Paralímpicos.

- Dizer muito obrigado não é suficiente. Fiquei aqui cinco meses e as pessoas me ajudaram o tempo todo e não pediram nada em troca. As pessoas aqui são boas. Espero estar aqui de volta - diz.

Tanto Bruno Carra (-54kg) quanto Sherif Osman (-59kg) competem no dia 9 de setembro no Pavilhão 2 do Riocentro durante os Jogos Paralímpicos do Rio-2016

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