Em crise com a torcida, Atlético-PR se manifesta pelo fim das organizadas

Clube paranaense citou sete episódios para justificar a extinção

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Organizada, que apoiou diretoria nas eleições de 2015, recebe duro golpe no ano seguinte. (Divulgação/Atlético-PR)

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Em nota oficial divulgada no fim da tarde desta quinta-feira, o Atlético-PR se posicionou pela extinção das organizadas. O clube paranaense citou sete episódios que prejudicaram o Furacão entre 2009 e 2016 e afirma que a existência das torcidas é "a morte do entretenimento civilizado".

A turbulência vivida entre a diretoria e a Torcida Os Fanáticos (TOF) é antiga, mas teve novos acontecimentos nos últimos meses. Com o apoio da organizada nas eleições do fim do ano passado, mesmo tendo divergências, a situação foi reeleita e a participação da torcida teve influência direta na vitória apertada.

Mas tudo mudou em março. Após protestar contra o elenco e até apedrejar o ônibus da delegação depois da derrota no primeiro turno do Estadual para o Coritiba, em seus domínios, a facção foi proibida de utilizar seus materiais na Arena da Baixada. O rompimento voltou. 

O Atlético-PR ainda chegou a voltar atrás e liberar o uso da bateria, mas a TOF seguiu protestando durante as partidas - seja em silêncio no decorrer dos jogos ou com cânticos contra o presidente do Conselho Deliberativo, Mario Celso Petraglia. No último confronto pela Série A, diante do Santos, a diretoria contratou uma bateria de escola de samba para tocar no estádio e chegou a colocar até microfone nos instrumentos.

- Nosso clube (hoje líder no ranking de punições por mau comportamento) e o futebol brasileiro já suportaram demais os prejuízos causados por estas instituições piratas, com a morte de inocentes, espancamentos, rixas, perda de mandos de campo, portões fechados, o esvaziamento dos estádios pelas famílias, proibição da venda de bebidas, etc - afirma a nota.

O clube paranaense também não tem boa relação com a outra torcida, Ultras. A organizada foi proibida de entrar com material nos jogos ainda em 2012 e tem um processo na Justiça para voltar a ter esse direito. Neste ano, as partes chegaram a conversar e a faixa foi vista em poucos jogos, mas logo foi barrada de novo. 

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Organizada recebe chapa da situação em sua sede, em novembro de 2015. (Divulgação/CAP Gigante)

Confira a nota oficial do Atlético-PR:

"O Clube Atlético Paranaense, por suas mesas diretoras do Conselho Administrativo e Deliberativo, vem a público manifestar seu posicionamento pela extinção das torcidas organizadas, a começar dentro de seu próprio patrimônio, no Estádio Joaquim Américo Guimarães.

As torcidas organizadas foram concebidas como agrupamento de torcedores que se reuniam com um único propósito: torcer pacificamente pelo seu time do coração e manifestar tão somente sua paixão nos estádios de futebol. E hoje, o que temos?!

Temos torcidas organizadas que precipuamente utilizam o pretexto de torcida para criar tumultos, pânico, violência e incitar o ódio entre semelhantes através de seus cânticos. O Clube é apenas um subterfúgio para justificar licitamente sua existência.

Atualmente, as torcidas organizadas existem para explorar economicamente símbolos, imagens e tradição do Clube. São seus verdadeiros concorrentes no mercado. Para essas torcidas, mais importante do que estar presente no estádio torcendo pelo Furacão é hastear faixas e bandeiras próprias e vestir suas camisas, com a única finalidade de expor a sua marca. Vestir a camisa do CAP, não satisfaz.

É fácil constatar. Recentemente, a Diretoria proibiu inicialmente o acesso de adereços das organizadas e, após diversas justificativas de que o estádio estava ficando uma “geladeira”, autorizou, como medida de exceção, a utilização das baterias. Não foi o suficiente. Hoje a torcida mantém “protesto”, agora pela liberação das tão importantes faixas, camisas e bandeiras próprias.

Ora, mais uma vez fica evidenciado que torcer pelo Atlético é mero pretexto.
Nosso Clube (hoje líder no ranking de punições por mau comportamento) e o futebol brasileiro já suportaram demais os prejuízos causados por estas instituições piratas, com a morte de inocentes, espancamentos, rixas, perda de mandos de campo, portões fechados, o esvaziamento dos estádios pelas famílias, proibição da venda de bebidas etc. Vale lembrar e pontuar alguns casos que motivam por si só o presente manifesto:

1) Perda de 09 mandos de campo, sendo 04 com portões fechados, multa de R$ 80 mil, mais um prejuízo direto e indireto estimado em R$ 5 milhões (perda de receitas como bilheteria, custos/prejuízo financeiro e técnico de jogar fora), 25 ações judiciais movidas por torcedores pelo Brasil todo, inclusive uma Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público de Santa Catarina em face do CAP com o valor da causa de R$ 10 milhões, em decorrência da violência protagonizada pelas organizadas do CAP e Vasco na cidade de Joinville, em dezembro de 2013;

2) Perda de 02 mandos de campo e multa de R$ 30 mil em razão da briga entre as Torcidas “Os Fanáticos” e “Ultras” no Atletiba realizado na Vila Capanema, em outubro de 2013;

3) Perda de 01 mando de campo e multa de R$ 20 mil por conta de brigas no Atletiba ocorrido em julho de 2009;

4) Perda de 01 mando de campo em jogo contra o Corinthians pela Copa do Brasil e multa de R$ 10 mil, em abril de 2009;

5) Apedrejamento ao ônibus do Clube e ameaças a toda comissão técnica quando da ida ao aeroporto pela Primeira Liga, em março 2016;

6) Ameaças públicas ao Atleta do Clube, Walter Henrique da Silva, em abril de 2016;

7) Cuspe de torcedor, sócio do setor FAN, no goleiro Vanderlei Farias da Silva do Santo Futebol Clube, em junho de 2016.

É a morte do entretenimento civilizado.

A prática inaceitável de agir com violência fez surgir aberrações. Como explicar a escolta policial das torcidas para que caminhem por lados opostos? Existe algo mais brutal e animalesco?!

Criou-se uma falsa dependência destas torcidas organizadas que “gritam”, “fazem barulho”, mas, ao mesmo tempo, cometem atos de violência e prejudicam demais os seus clubes. Isso não pode mais existir. E entre esta falsa dependência e o retorno das famílias, o Clube Atlético Paranaense opta por esta última.

Famílias nos estádios estão se tornando fato raro. E cada vez mais será, caso nenhuma providência incisiva, corajosa e eficaz seja adotada. Algo precisa ser feito. E logo. Para tanto, contamos com o apoio da verdadeira torcida atleticana e de todos os entes que de algum modo atuam nesse processo. É justamente por um futuro de segurança, conforto e paz dentro e fora dos estádios e com o retorno das famílias que o Clube propõe esta união pela extinção das torcidas organizadas e o fim da violência no desporto.

Vamos mostrar que é possível outro modelo para torcer por nosso Furacão, com festa, alegria, civilidade e amor ao Atlético. É o que realmente importa e é o que o futebol precisa.

Afinal, a camisa rubro-negra do Furacão, esta sim, só se veste por amor."

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