Atlético-PR muda modelo de jogo em 2017 e mostra dificuldades de adaptação

Antes pautado na transição ofensiva rápida e contra-ataque, o Furacão agora tenta ser protagonista com a posse de bola. A alteração, entretanto, não tem tido bom rendimento.

Universidad Católica x Atlético-PR
Apesar de estar nas oitavas de final da Libertadores, o time atleticano não vem convencendo na temporada. (AFP)

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Melhor mandante, defesa menos vazada e sexta colocação da Série A de 2016. Vaga na Libertadores deste ano. E o título paranaense após oito anos de jejum. Após os bons resultados do ano passado, o Atlético-PR acumula jogos ruins nesta temporada mesmo com um elenco mais qualificado e a torcida, a cada dia que passa, aumenta o tom contra o técnico Paulo Autuori. Mas o que mudou de lá para cá? O LANCE! explica: o modelo de atuação.

O treinador atleticano, vale frisar, vem preparando esse terreno há algum tempo. Foram diversas entrevistas em que o comandante do Furacão avisava que a ideia, em conjunto com a diretoria, principalmente com o aval de Mario Celso Petraglia, presidente do Conselho Deliberativo, era de fazer o time paranaense ser protagonista da partida. Ou seja, ter a bola e o controle do duelo dessa forma.

- A dificuldade é sair da transição defensiva para ser protagonista, propondo o jogo. Era uma tradição do clube e agora começa a ver essa mudança. Isso que tem que ser colocado desde lá embaixo, na formação. O clube tem metodologia no que faz. É preciso coragem para ter determinadas atitudes e isso ele (Peraglia) tem. Ele é líder, falta isso no Brasil e toma medidas impopulares, mas que são importantes. O Petraglia tem sido muito bom, estou encantado com o clube pela excelência. Agora tem que virar de coadjuvante a protagonista e não é fácil - afirmou o comandante do Atlético-PR, em outubro.

E o que é ser protagonista? É fazer o contrário do que o Rubro-Negro tem feito em campo durante toda a sua história. O estilo atleticano, tradicionalmente, é atuar em contra-ataque. Jogadas rápidas e verticais, explorando a transição ofensiva rápida e a velocidade dos jogadores para marcar gols em poucos toques. Alguns bonitos e famosos, nos times de 2001, 2004, 2005, 2013 e 2016, são bons exemplos disso, para citar um passado mais recente.

O modelo de jogo implementado também é feito de ideias reunidas e aplicadas, e isso continua praticamente igual. No time paranaense, a equipe ainda tem conceitos do ano passado, como a saída de 3, marcação por zona, flutuação defensiva, o perde-pressiona na recuperação da bola, jogo apoiado para triangulações, profundidade, amplitude e jogo nas entrelinhas.

Em 2017, entretanto, atuando com o mesma sistema tático, o 4-2-3-1, o que Furacão também alterou é sua proposta: de reativo para propositivo. Basicamente é: quando o time propõe o jogo e dita o ritmo do jogo tendo a bola em seus domínios. No início do ano passado, ainda durante o Campeonato Paranaense e na Primeira Liga, a equipe atleticana chegou a atuar assim, até pelos seus adversários serem inferiores e ficarem esperando atrás, mas logo mudou para o Campeonato Brasileiro.

A principal diferença é que o Atlético-PR, mesmo mantendo esses ideias, não busca mais o gol rapidamente e sim tenta circular a bola, achar espaços e infiltrar no sistema adversário ao seu tempo. Um exemplo de como o modelo de jogo agora é ter a posse de bola e não transição rápida foi no gol de Felipe Gedoz diante do Flamengo, pela fase de grupos da Libertadores, na Arena da Baixada. Sendo pressionado, justamente o que não quer, o Furacão recuperou a bola e, em uma transição em velocidade, marcou o 2 a 0 naquela altura em um contra-ataque. Desagradou o treinador, porque o que ele cobra é o contrário.

- Não gosto disso e não é nossa maneira de jogar (atrás e no contra-ataque). Temos que crescer mais nisso, nessa situação. Temos que controlar melhor igual fizemos no primeiro tempo e no Maracanã, na semana passada. Estamos ganhando corpo, maturidade competitiva e isso é bom - avaliou na ocasião, após o triunfo por 2 a 1.

As características do elenco também influenciam no modelo de jogo, porque não adianta querer um time pautado na transição rápida ofensiva se os jogadores são lentos. No Furacão, atualmente, o grupo não tem atletas velozes assim, como havia no ano passado, e ter a posse se mostra como uma filosofia acertada por ter jogadores de bons passes e de boa recepção.

- Era uma tradição do clube e agora começa a ver essa mudança. O clube tem que virar de coadjuvante a protagonista e não é fácil - Autuori.

O grande problema é que para alterar esse pensamento e conscientizar os atletas é preciso tempo e de treinamento, e o calendário brasileiro não ajuda, como o próprio Autuori reclama insistentemente por mais de um ano em suas declarações. Apesar desse contra-ponto, o técnico tem sua (boa) parcela de culpa.

O time rubro-negro roda a bola lentamente sem objetividade, dando tempo para o adversário se posicionar e fechar espaços. A amplitude com os alas, para que façam triangulações e infiltrem junto ou com o extremos, não tem funcionado. A profundidade, com Grafite ou Eduardo da Silva, também não. Tudo depende um do outro e, sem essa sintonia, nada é aplicado. E até marcação vem piorando, haja visto que o sistema defensivo vem levando muitos gols.

Elenco melhorado

A diretoria do Atlético-PR se esforçou, manteve a base e qualificou o elenco. Jonathan, Felipe Gedoz, Carlos Alberto, Guilherme (recém-contratado), Grafite e Eduardo da Silva dão mais qualidade e opções à comissão técnica, principalmente para o último terço, tão reclamado por Autuori em 2016 - Ederson, em breve, será outra. Ainda há posições carentes, como a ala esquerda (Sidcley e Nicolas não convencem) e direita (sem reserva), por exemplo, além de reposições abaixo da média, como Crysan e Douglas Coutinho.

Mas, mesmo com a mudança no modelo de jogo, que leva tempo e treino para ser absorvido, além de ser louvável ser protagonista no futebol brasileiro, o Furacão não poderia estar involuindo em relação ao ano passado. Ele pode e precisa jogar mais do que apenas os raros e bons desempenhos contra a Universidad Católica-CHI (até o 3 a 1, depois terminou 3 a 3), Deportivo Capiatá-PAR (até o 3 a 1, depois terminou 3 a 3) e o Londrina na Arena (semifinal do Paranaense) - todos na Arena.

A vaga nas oitavas de final da Libertadores, que obviamente deve ser comemorada, não apaga o desempenho atleticano até aqui, que também tem baixas em outros resultados: vice no Estadual e duas derrotas (6x2 para Bahia e 2x0 para Grêmio) no Brasileiro. É preciso e tem que ser cobrado para que o Furacão evolua.

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